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Arquivo para outubro, 2023

Uma história da história

31 out

Este é o nome do primeiro capítulo do livro Terra-Pátria (Ed. Sulina, 1995) de Edgar Morin, a tentativa do autor era na época entender os diversos processos civilizatórios para encaminhar o mundo para um momento em que nos veríamos todos como cidadãos da mesma casa.

Escreve ali: “Mas, por diversas que tenham sido, constituíram um tipo fundamental e primário de sociedade de Homo sapiens. Durante várias dezenas de milénios, essa diáspora de sociedades arcaicas, ignorando-se umas às outras, constituiu a humanidade” (pag 15) e isto parece muito atual.

A história “impiedosa para com as civilizações históricas vencidas, foi atroz sem remissão face a tudo que é pré-histórico. Os fundadores da cultura e da sociedade do Homo sapiens são hoje vítimas definitivas de um genocídio perpetrado pela própria humanidade, que progrediu assim no parricídio” (pag. 15), pontua 10 mil anos na Mesopotâmia (os semitas), quatro mil anos no Egito, indo ao oriente “do Indo e no vale do Haung Po na China” (pg. 16) a 2.500 anos.

Esta história inicial é “o surgimento, o crescimento, a multiplicação e a luta até a morte dos Estados entre si; é a conquista, a invasão, a escravização, e também a resistência, a revolta, a insurreição; são batalhas, ruínas, golpes de Estado e conspirações […]” (pg. 16) e que parece se repetir nos dias atuais.

Depois esta história “começou a se tornar etnográfica, polidimensional. Hoje, o acontecimento e a eventualidade, que irromperam em toda parte nas ciências físicas e biológicas, aparecem nas ciências históricas”, nela aparece o que Edgar Morin chama de “homo sapiens-demens”.

Este “homo sapiens-demens. Deveria considerar as diversas formas de organização social surgidas no tempo histórico, desde o Egito faraónico, a Atenas de Péricles, até as democracias e os totalitarismos contemporâneos, como emergências de virtualidades antropo-sociais” (pg. 17), volto a esta reflexão porque o que deveria ser repensado, repete-se como ciclo cruel.

Coloca o autor: “Hoje, o destino da humanidade nos coloca com insistência extrema a questão chave: podemos sair dessa História? Essa aventura é nosso único devir?” (pg. 17).

O espírito sábio e profético de Morin anuncia: “Assim, uma fermentação múltipla, em diversos pontos do globo, prepara, anuncia, produz os instrumentos e as ideias do que será à era planetária” (pg. 18), mas com contornos graves e ameaças civilizatórios.

Fica sua pergunta essencial: “podemos sair dessa História?”, é preciso sabedoria e uma compreensão histórica que parece fugir das grandes lideranças mundiais.

MORIN, E. e Kern, A.B. Terra-Pátria. Trad. por Paulo Azevedo Neves da Silva. Porto Alegre : Sulina, 2003.

 

Escalada de conflitos, um apelo à paz

30 out

É incrível que a polarização se aproprie até mesmo dos discursos da paz, como a questão do Outro e o significado do que significa “terror”, já o discurso antissemita está esvaziado e a ideia de forças “nazistas” também, a polarização atingiu escala mundial e pode crescer.

Também a guerra Ucrânia e Rússia se agrava, com novos equipamentos bélicos americanos de longo alcance e a chegada do inverno torna dramático e poderá ter desde já uma escalada.

Elogios e defesa do Hamas colocaram a própria ONU em posição de polaridade, há também um discurso que tenta descaracterizar matança de civis e inocentes como aquele que quem faz é o Outro, então não há espaço para o diálogo e a paz, tudo pode ter uma narrativa inversa.

O socorro humanitário enfrenta dificuldade tanto daqueles que querem atendimento a população como dos próprios governos que dificultam a passagem dos civis e da abertura de fronteiras, a guerra por terra em Gaza só agravará as condições humanitárias.

Também o posicionamento da Turquia a favor do Hamas, pode conturbar a região e escalar a guerra, este posicionamento é muito complicado porque a Turquia faz parte da OTAN e tem sido importante no posicionamento sobre a passagem de grãos lembremos que no estreito de Bósforo, a passagem por Istambul a cidade com território na Europa e no Oriente Médio é estratégica.

Na guerra são os civis que perdem, e os limites de civilidade são quase sempre extrapolados por todos lados, não há acordos que possam estabelecer limites claros e que sejam respeitados.

Uma verdadeira filosofia da paz deve condenar os lados em conflito, a tentativa equivocada de cada um dos lados de estabelecer uma narrativa aceitável, a polarização não permite.

Quais forças poderão pedir a paz? o que acontecerá em uma escalada de guerra crescente, com envolvimento do Irã ? e se a China e países do oriente se envolverem, lá já há questões de tensão entre os países.

A esperança é que venha um clamor sufocado dos que realmente desejam a paz, as forças que são de verdadeiro humanismo poderiam recuperar a esperança de um mundo menos perigoso.

 

O que é o Amor afinal

27 out

Embora a obra de Hannah Arendt não seja definitiva quanto ao amor, o próprio orientador Karl Jaspers manifestou isto, desenvolveu e se apropriou de algumas categorias fundamentais em sua tese de doutorado “O amor em Santo Agostinho”.

Segundo o autor George McKenna, em resenha de sua dissertação, Arendt teria tentado incluir em sua “A condição humana” uma revisão, porém não fica muito claro no livro of Arendt, que apesar disto é ótimo.

Se podemos também manifestar expressão deste amor na literatura grega antiga, como o amor ágape, aquele que se diferencia do eros e do philia nesta literatura, do ponto de vista cristão o melhor desenvolvimento feito é de fato o de Santo Agostinho.

Primeiro porque ele separou este conceito do maniqueísmo bem x mal, dualismo ainda presente em quase toda filosofia ocidental devido ao idealismo e ao puritanismo, depois porque foi de fato arrebatado ao descobrir o amor divino, escreveu: “Tarde te amei, ó beleza tão antiga e tão nova! Tarde demais eu te amei! Eis que habitavas dentro de mim e eu te procurava fora!” (Confissões de Santo Agostinho).

Depois o homem deve amar o seu próximo como criação de Deus: […] o homem ama o mundo como criação de Deus; no mundo a criatura ama o mundo tal como Deus ama. Esta é a realização de uma autonegação em que todo mundo, incluindo você mesmo, simultaneamente recupera sua importância dada por Deus. Esta realização é o amor ao próximo (ARENDT, 1996, p. 93).

O homem pode amar ao próximo como criação ao realizar o retorno à sua origem: “É apenas onde eu pude ter certeza do meu próprio ser que eu posso amar meu vizinho em seu ser verdadeiro, que é em sua criação (createdness).” (ARENDT, 1996, p. 95)

Neste tipo de amor, o homem ama a essência divina que existe em si, no outro, no mundo, o homem “ama Deus neles” (ARENDT, 1996, 95).

Também a leitura bíblica sintetiza a lei e os profetas cristãos assim (Mt 22, 38-40): “Esse é o maior e o primeiro mandamento. O segundo é semelhante a esse: ‘Amarás ao teu próximo como a ti mesmo’. Toda a Lei e os profetas dependem desses dois mandamentos”.

O amor contém todas as virtudes: não se envaidece, sabe ver onde se encontram os verdadeiros sinais de felicidade, equilíbrio e esperança.

ARENDT, Hannah. Love and Saint Augustine. Chicago: University of Chicago Press, 1996.

 

O amor na literatura ocidental

26 out

No post anterior comentamos um exemplo pouco comum na literatura que é o amor humano visto de um ponto de vista da narrativa cristã, há outros é claro, porém este pela repercussão da obra de Francine Rivers e sua recente transformação em filme (2022) e a crítica aplaudiu.

Na história podemos relembrar algumas obras que marcaram a literatura: O Banquete de Platão, A arte de amar de Ovídio e Sobre el Amor de Plutarco, destacaria no período medieval O Romance de Tristão e Isolda e Correspondências de Abelardo e Heloísa.

O estilo filosófico do Banquete onde há uma predominância de elementos mitológicos que explicam ou denotam o amor, talvez daí a ideia de amor platônico, mas que nada tem de sublime ou não carnal, o que dizem comentaristas é que há relações homoeróticas que fazem parte do diálogo entre parceiros nas relações.

Se há algo de elevado é no diálogo de Sócrates que define o chamado amor filosófico, este fora da esfera sentimental e inserido num idealismo (sempre lembro aqui que eidos para os gregos que lembrar o Ser em sua essência, e não algo que vive só na mente), é um amor que está relacionado com a beleza e o bem.

Já Ovídio (45 a.C. – 18 d.C.) não está interessado em alcançar esta ascese a um amor divinizado, procura encontrar as ferramentas necessárias para realizar um amor mais sensual num mundo carnal.

Ovídio não encerra o amor restrito a esfera conjugal, já Plutarco (45 – 120 d.C.) o vê dentro de uma instituição social e política, é um “caminho” dentro do casamento em direção à felicidade, como uma ascese do tipo que os gregos a concebiam, assim não é uma ascese espiritual.

O romance de Tristão e Isolda e as Correspondências de Abelardo e Heloísa devem ser entendidos numa realidade de domínio da filosofia cristã na Europa medieval, onde o Amor a Deus é indiscutível, mas já o amor como união de dois corpos é ainda suscetível de debates.

Este tipo de romance inserido na tradição trovadoresca, é imbuído de um elemento “cortês”, encontramos na obra de Denis de Rougemont, uma interessante descrição deste amor:

O que amam é o amor, é o próprio fato de amar. E agem como se tivessem compreendido que o que se opõe ao amor o garante e o consagra em seus corações, para exaltá-lo  ao infinito no  instante  do obstáculo  absoluto que  é a  morte.  Tristão gosta de  sentir  amor,  muito  mais  do  que  ama  Isolda,  a  loura.  E  Isolda  nada  faz  para  retê-lo  perto  de  si: basta-lhe  um  sonho apaixonado. 

Destacaria entre os romances modernos entre os mais característicos: Eugénie Glandet de Honoré de Balzac, Madame Bovary de Gustave Flaubert e Anna Karenina de Leon Tolstoi, enquanto Eugénie Grandet mostra a realidade do interesse material em torno do romance, Madame Bovary vai mostrar a falta de lucidez, o excesso e egoísmo humano, Anna Karenina mostra as cores trágicas da infidelidade dela com o marido Vronsky, porém há outros dois casamentos:  um casamento feliz (Levin e Kitty) e outro que apenas se suportam (Stiva e Dolly).

 

ROUGEMONT,  Denis  de.  A  História  do  Amor  no  Ocidente.  Trad.:  Paulo  Brendi  e  Ethel Brandi Cachapuz. São Paulo: Ediouro, 2003. 2ª Edição reformada.

 

Amor de Redenção

25 out

O livro foi inspirado na narrativa bíblica do profeta Oseias, uma mulher, Angel, que se considerava arruinada, sem chance de salvação, descrente do amor humano, descobre o amor inabalável de Deus, mas o contexto é a corrida do ouro na Califórnia de 1850.

A época é aquela que os homens vendiam a própria alma por um punhado de ouro e as mulheres vendiam o próprio corpo por um lugar para dormir.

Angel vendida como prostituta desde criança, odeia os homens que a usaram e é invadida por desprezo e medo de si mesma, até que conhece Michael Hosea, um homem que busca o divino em todas as coisas, e acredita que tem um chamado de Deus para se casar com Angel.

Amor de redenção é um clássico atemporal, romântico, épico ou trágico, é uma história capaz de transformar o sentimento humano num amor incondicional, redentor e absoluto que está ao alcance de todos os que ainda pensam num amor verdadeiro, duradouro e profundo.

Mas Angel vítima de sua história, como muitos são hoje da ideologia erótica e de desprezo a verdadeira felicidade, foge e volta para a escuridão, para longe do amor resiliente do marido, do novo que é sua cura definitiva de um mundo de sombras e desprezo pela vida.

O livro de Francine Rivers, longe de ser apenas uma ficção cristã, é um apelo ao amor humano de fato, aquele capaz de preencher o vazio de almas que não aceitam o passageiro, o uso do corpo como mera mercadoria ou “instrumento” de prazer, onde é possível encontrar paz e felicidade, claro com todas as tribulações naturais da vida: contas, acidentes e envelhecer, etc.

O livro foi transformado em filme em 2022, com roteiro e direção de D. J. Caruso, tendo no elenco: Abigail CowenFamke JanssenLogan Marshall-Green.

RIVERS, F. Amor de redenção (Redeeming Love), trad. Alyda Sauer, R.J.: Verus; 14ª edição, 2021.

 

O conceito de Amor em Agostinho de Hipona

24 out

A tese de Hanna Arendt foi um marco em seu desenvolvimento filosófico, por um aspecto fundacional, é a primeira de suas obras e marca um envolvimento com Heidegger, seu primeiro orientador com o qual chegou a se envolver afetivamente e Karl Jaspers, que influenciaram na escolha do tema.

A obra pode ser dividida em três eixos temáticos: o amor ao próximo, ou a vida em sociedade, o amor na relação entre o homem e Deus criador e o amor como desejo, chamado appetitus.

A autora também afirma que o bispo nunca chegou a excluir completamente as ideias filosóficas da antiguidade, notadamente Cícero, Platão e Plotino em seu pensamento, e não importa o quão fiel e cristão ele tenha se tornado, “ele nunca perdeu completamente o impulso de questionamento filosófico.” (ARENDT, 1996, p. 3).

A primeira parte da dissertação da autora  designada como “Amor como desejo: o futuro antecipado”, dentro de uma perspectiva filosófica e em continuidade do pensamento helênico, não podia ter melhor título, uma vez que não é o amor no presente, mas o “futuro antecipado”, algo que se espera ter como, como meio de alcançar a felicidade.

Este amor chamado cupiditas é moldado por uma “ânsia desejosa, quer dizer, appetitus”, porém também a caritas possui este aspecto de desejo “futuro”, mas é um amor livre.

Pergunta Agostinho em Confissões: “O que eu amo, quando amo o meu Deus?” (Confissões X, 7, 11 apud Arendt p. 25), talvez a questão central de seu pensamento, e responde: o amor por Deus pode se relacionar com o amor próprio, pois o homem pode amar a si mesmo da maneira correta amando sua própria essência, enfim encontra em seu próprio Ser o amor eterno.

O amor ao próximo, ou o amor social, desenvolveu a autora: o homem deve amar o seu próximo como criação de Deus: […] o homem ama o mundo como criação de Deus: “no mundo a criatura ama o mundo tal como Deus ama. Esta é a realização de uma autonegação em que todo mundo, incluindo você mesmo, simultaneamente recupera sua importância dada por Deus. Esta realização é o amor ao próximo”. (ARENDT, 1996, p. 93)

Agostinho difere a polis da cidade de Deus, nome de outra obra sua, e esclarece Arendt: “Essa defesa é a fundação da nova cidade, a cidade de Deus. […] Essa nova vida social, que é baseada em Cristo, é definida pelo amor mútuo (diligire invicem)” (ARENDT, 1996, p. 108).

Assim a obra de Agostinho é filosófica, teológica e política, embora se ignore este aspecto.

ARENDT, Hannah. Love and Saint Augustine (O amor em Santo Agostinho). Chicago: University of Chicago Press, 1996.

 

Ucrânia se defende e Israel ataca

23 out

Os dois maiores fronts de guerra do mundo que ameaçam a paz mundial que pode entrar num ciclo ainda pior, pode ser resumido assim a Ucrânia se defende conseguinte responde ao único forte avanço russo na localidade de Adviivka (foto) e bombardeando aeródromos táticos militares da Rússia, enquanto Israel ataca a faixa de Gaza e abre novas frente contra o Hezbollah e a Síria.

O envolvimento americano já é total e inquestionável, o que cria uma polarização mundial, na qual poderá chamar o Irã para a guerra do Oriente Médio, a costura de tratados de paz com os árabes que vinha sendo feita poderá cair por terra e tornar a região o epicentro de uma guerra.

As forças humanitárias conseguiram finalmente entrar ao sul de Gaza para envio de socorros as vítimas palestinas, Egito e Israel finalmente concordaram em abrir a passagem de fronteira em Raffah, o que permite tanto alimentos como ajuda médica, mas sem nenhum aceno a paz.

O voo de Joe Biden a Israel ajudou este acordo, um adia após a explosão de um hospital em Gaza e o envio de mais armas torna o seu envolvimento na guerra ainda mais perigoso, na Europa existem temores de atos de terrorismo, enquanto a Palestina, que não é o Hamas, se torna o lado frágil e vitimizado da guerra.

Uma escalada da guerra no oriente médio por enquanto é inevitável e uma eventual entrada direta do Irã na guerra, o Hezbollah já em guerra com Israel é aliado e recebe ajuda do Irã, pode dar um contorno dramático ao conflito do Oriente Médio.

O quadro mundial se agrava, e apesar da uma aparente paz no oriente China e a Coréia do Norte, tem interesses conflituosos com Taiwan, Coréia do Sul e Japão.

O conselho de segurança que tentou duas moções de paz para o Oriente Médio, se mostra dividido e incapaz de apontar soluções a curto prazo para esta guerra.

 

Os vossos pais rejeitaram os profetas

20 out

Terminado o período dos Juízes, que foi um período realmente teocrático, o povo de Israel começa a pedir Reis (Samuel 8,6-8), os reis governaram de 928 a.C. até a destruição do primeiro templo de Jerusalém (586 a.C.), porém o povo já havia ido para o cativeiro da Babilônia em 722 a.C., mais de 100 anos depois foi destruído o reino de Judá.

Já no último período dos juízes, Samuel que foi também profeta, via o povo se desviando, e até mesmo seus filhos não seguiam mais as leis divinas, a própria divisão entre Israel e Judá (é preciso dizer que é aí que aparecem o nome de judeus), e foi o segundo rei de Israel, Davi que uniu os dois reinos e nomeia a capital Jerusalém, ali seu filho Salomão, fará o primeiro templo.

Foi o profeta Ezequiel que viveu no exílio babilônico, entre 593 a.C. a 571 a.C. que profetizou a destruição do templo e falava das infidelidades do povo hebreu, também o profeta Isaías havia pregando que o pecado chegara de tal modo a Israel e Judá, que a maldição atingiria o povo hebreu, a maior delas é claro, foi o exílio da Babilônia.

Quando Ciro se torna rei da Pérsia e toma Babilônia em 538 a.C. permite ao povo hebreu retornar à sua terra e a possibilidade de reconstruírem o seu templo, o segundo, porém os desvios do povo continuam a ocorrer até o último e maior dos profetas João Batista, aquele que Herodes pediu a cabeça em troca da dança de Salomé, que pede por sugestão da mãe.

Jesus era rejeitado por contestar os fariseus e mestres da lei de seu tempo, também haviam aquele que queriam uma posição de líder na guerra contra o império romano, após a morte e ressurreição de Jesus no ano 70 d.C., o segundo templo foi destruído pelo general romano Tito e dele restou somente o muro das lamentações (foto).

Jerusalém foi incendiada e o povo judeu disperso, os judeus que se estabeleceram no leste europeu foram chamados de Ashkenazi e os da Península Ibérica de Sefarditas.

A posição de Jesus sobre o império romano era clara, uma vez que os romanos também o temiam, Herodes especialmente, e Pilatos lavou as mãos em sua crucificação, quando os fariseus preparam uma cilada perguntando se era justo pagar impostos, Jesus pega uma moeda e ao ver a figura de Cesar sentencia: “Dai a Cesar o que é de Cesar e a Deus o que é de Deus” (Mt 22,34-40) esta cilada permanece no meio religioso até os dias de hoje.

 

As primeiras disputas de Israel

19 out

Então Abrão que era caldeu, da cidade de Ur no  sul da mesopotâmia, sob inspiração divina sob o rio Eufrates e vai até Harã, e depois desce até Canaã, passando por Sodoma, onde se separa do sobrinho Ló, e partindo de lá não deviam olhar atrás, a mulher de Ló olha e se torna uma estátua de sal.

Chegam a Canaã e lá já haviam habitantes (os cananeus), havia a promessa divina de dar-lhe um filho, porém com o consentimento da mulher Sarah (o nome original Sarai foi mudado por Deus), Abrão gera da escrava Agar o filho Ismael, mas depois Sarah também terá o filho Isaac.

Deus lhe pede o filho em sacrifício, mas quando está pronto para realizar, um anjo lhe aparece e pede que sacrifique no lugar um cordeiro, e depois lhe promete uma infinita descendência e passa a chamado de Abraão.

O local deste sacrifício é hoje uma mesquita, porém há um acordo entre muçulmanos, cristãos e judeus para poderem frequentar o lugar, hoje chamado Domo da Rocha (foto).

A questão familiar era importante na época, afinal Abrão era para ser o patriarca do povo escolhido por Deus, então queria uma mulher de sua linhagem e não uma cananéia, encontrou Rebeca, filha de Betuel, irmã de Labão, este de um ramo da família de Abrão que permaneceu em Harã.

Novo drama, Rebeca tem dificuldade de ter filhos, mas acaba tendo gêmeos, Esaú e Jacó, este nasce depois e perderia o direito a primogenitura, não fosse um truque feio junto da mãe de preparar uma ceia ao gosto de Isaac que estava quase cego, e vestir o filho com peles porque o irmão nascido minutos antes, portanto mais velho, era mais peludo, e Isaac abençoa Jacó.

Mas Jacó sabe que precisa da benção de Deus, então indo ao encontro do irmão, numa noite luta com um anjo para conseguir a benção divina, depois disso será chamado Israel, o sufixo el na bíblia significa Deus, então aquele que lutou com Deus, na verdade, com um ano Gabriel, “fortaleza de Deus” ou Miguel, que significa “ninguém como Deus”, chefe dos “exércitos”.

Jacó terá como filhos aqueles que darão nome as doze tribos de Israel (veja tópico anterior) e José, vendido como escravo aos egípcios, tendo dons de revelação, revela ao rei egípcio, o que significava os sonhos dele com “vacas gordas e vacas magras”, que viria um tempo de escassez e recebe um cargo do faraó exatamente de cuidar das dispensas do reino.

Os irmãos que o venderam, então saem de Canaã e vão até o Egito, onde José depois de expressar seu descontentamento (um grito foi ouvido em todo palácio), acolhe os irmãos, então Israel deixa de ter as terras e outros povos ocupam o lugar.

Porém o faraó seguinte, aparentemente Sethi não é amigo dos judeus e quer que todos os recém-nascidos sejam mortos, porém a mãe de Moisés, Joquebede, um recém-nascido o joga num cesto no Rio Nilo e ele é acolhido por uma princesa e ela o leva ao reinado em seu cuidado.

Moisés é treinado como um nobre, mas deseja libertar seu povo que vive como escravo, e em certo evento místico, chamado da “sarça ardente” Deus lhe revela o destino e pede para comandar seu povo de volta a Canaã, após várias batalhas o reino de Israel é revivido, mas dividido com Judá ao Sul, são nomeados juízes, governantes que eram chamados por Deus.

Este é o único e verdadeiro período teocrático da Bíblia, os juízes eram nomeados por inspiração divina, alguns eram pessoas simples, como o Gideão (lenhador) e Debora, foram 14 juízes, mas o povo depois pediu reis “como os outros povos” e eles dependiam dos profetas.

 

Entre as narrativas e o desenvolvimento interior

18 out

Antes de prosseguir com a história de Israel que envolverá ainda dois êxodos até a sua tentativa de dissolução como nação, uma leitura do livro “La crisis de la narración” (editora Herder, Argentina) esclarece um aspecto importante das narrativas modernas, ou daquilo que o autor chama de “pós-narrativas”, “contar histórias é vende-las”.

Ele esclarece que a “arte de narrar histórias como estratégia para transmitir mensagens emocionalmente”, hoje todos falam de narrativas para justificar sua pós-verdade, levou-nos a um paradoxo “que o uso inflacionário de narrativas pode manifestar uma crise na própria narrativa” , em outros tempos, as narrativas “nos acomodavam no ser”, dando sentido e orientação para a vida.

Havia uma verdade intrínseca, ou ao menos uma teoria completa de soluções que incluíam o homem como um todo, e ao contrário das atuais narrativas aligeiradas (distorcendo a narrativa original, quando baseada em alguma), “são a descrição das micronarrativas do presente, que carecem de toda gravitação e de toda pretensão de verdade”.

Fiel ao seu estilo, não é informativo nem ilustrativo, exemplo e categorizações plasmam de maneira caótica fatos e ideias ao longo do texto, e quando há narrativa original, é distorcida.

Esclarece, agora, para entender [determinado tema], não há nada que explique, ordene e uma. Não há relato, porque não há passado. Não há comunidade. Sem história, então não há esperança de futuro.

Conclui que “com a hiperatividade atual, que busca espantar o aborrecimento, nunca alcançamos um estado profundo de relaxamento espiritual”, o que é desenvolvido em outros livros seus como “A sociedade do cansaço” e “O aroma do tempo”.

Chama o homem atual de “phono sapiens”, que não conhece “o desenvolvimento da existência interior”.