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Arquivo para março 1st, 2024

O próximo e o negócio

01 mar

A policrise que envolve a humanidade, na palavra de Edgar Morin que foi também adotada (em outra perspectiva) por Adam Tooze, professor de História da Universidade de Yale.

No livro Terra Pátria o autor já desenhou um quadro de um nacionalismo renascendo, está escrito no prefácio da edição brasileira feito por Juremir Machado da Silva:

“Terra-Pátria, no qual colaborou Anne-Brigitte Kern, é o livro fundamental para o exame do fenómeno nacionalista na atualidade. Tudo está nele: pátria, nação, universalismo, identidade, ecologia, política, comunidade, etc. Os mecanismos para a compreensão da complexa rede social contemporânea são fornecidos com a limpidez costumeira ao texto de Morin” (MORIN, 2003, 14).

Entretanto a história caminhou no sentido contrário, incapaz de dar um passo a frente, agora guerras, utopias antigas e modelos espirituais fundamentalistas (não confundir com a ortodoxia porque é ela o verdadeiro fundamento das religiões e culturas).

A relação social se deteriora, a culpa seria das técnicas, do individualismo ou mesmo de uma onda de possessões demoníacas, entretanto o que acontece é simplesmente uma falta de um modelo autentico de solidariedade e aqui as utopias e culturas religiosas devem ser analisadas.

As utopias porque retroagiram aos modelos do início do século XX, o nacionalismo de Adam Smith e o bolchevismo de Lenin, as culturas religiosas porque se refugiam no fundamentalismo.

Há pouca coisa fora destas perspectivas, mas elas existem, há esperança onde cada pessoa é tratada com dignidade, a empatia é modelo de convivência e a vida como um todo trata o homem como um todo e é possível reintegrá-lo nos padrões de solidariedade e respeito.

A relação com um próximo não é um negócio, nem pode dissolver-se numa “amizade social” que é apenas uma superfície daquilo que é realmente humano, a relação com o Outro.

Não poucos autores escreveram sobre isto, até mesmo Jürgen Habermas abordou o tema, porém se trata da relação efetiva entre duas pessoas e não a relação social genérica ou cultural, que em geral envolvem interesses e relações com as bolhas de pensamento.

A cantora paraense cristã Aymeê viralizou ao cantar a música “Evangelho dos fariseus” que fala da exploração infantil na ilha de Marajó, das queimadas e do fato que o dízimo importa mais que os corações em muitas igrejas que transformaram a mensagem de amor em negócio.

Houve quem a contestasse, porém, a mensagem é bíblica, a mensagem bíblica (Jo 2, 16) em que Jesus diz: “16 E disse aos que vendiam pombas: “Tirai isso daqui! Não façais da casa de meu Pai uma casa de comércio!” e isto dá muito o que pensar, “de graça recebestes, de graça dareis” (Mt 10,8).

MORIN, E. E KERN, A..B. Terra-Pátria. Trad. Paulo Azevedo Neves da Silva. Porto Alegre : Sulina, 2003.