Para onde vai a Europa
Se Páscoa é passagem, é difícil imaginar para onde vai o mundo sem imaginar para onde vai a Europa, ainda que o Oriente e o Oriente Médio não sejam mais expressão do colonialismo Europeu, foi na Europa que nasceu o Estado Moderno e sua democracia e lá também germinou a revolução industrial e o liberalismo, mas em tempos digitais ela ainda é o centro?
Pego dois expoentes do pensamento europeu, porque penso que é preciso ser europeu para entender a própria crise, Peter Sloterdijk que escreveu “Se a Europa despertar” (São Paulo: Estação Liberdade, 2002) e Edgar Morin “Cultura e Barbárie Europeias” (Lisboa: Instituto Piaget, 2005), um alemão e um francês, a Europa me parece bem representada.
Tomo-os e não outros, porque são ao meu ver realmente pós-modernos, ou seja, há uma crítica a modernidade rediscutindo o papel do Estado Iluminista, do pensamento idealista- liberal e finalmente e principalmente, do colonialismo e neocolonialismo europeu.
Morin ao analisar a emergência do totalitarismo na Europa o vê como “fora de todas as previsões … fruto de um processo histórico saído do desastre que foi a Primeira Guerra Mundial … que foi um desencadear de barbárie assassina e ao mesmo tempo um ato suicidário para a Europa” (Morin, p. 51), enquanto Sloterdijk afirma: “a maioria dos estadistas europeus, de Felippe II a Churchill, compreenderia o significado da imagem alegórica do século XVII que retrata o imperador Carlos V como Atlas: sobre os ombros do imperador repousa um globo cingido por uma guirlanda com o dístico O quam grave onus (como um fardo pedado)“ (Sloterdijk, 2002, p. 14).
É o resultado de uma mentalidade colonialista, expressa em Morin assim: “Esta barbárie colonialista, de uma excessiva brutalidade, continuará a manifestar-se em França em pleno século XX, como é testemunha o massacre de Sétif, cometido no próprio dia do fim da segunda Guerra, a 8 de Maio de 1945, e as inúmeras exacções durante a guerra da Argélia” (Morin, 2002, p. 26).
Por fim a crise do pensamento expressa em Sloterdijk com o tripé: absurdo, frivolidade e letargia, absurdo das duas guerras, a letargia do discurso do “retorna da Europa” no pós-guerra com “características psicopolíticas e culturais” e a letargia do consumidor do final do século XX, e frívolo “é aquele que sem fundamento sério na natureza das coisas, deve decidir- se por isto ou aquilo: é o verde-claro e não o carmesim, o teriyaki de salmão e não o carré– mouton, … etc” (Sloterdijk, 2002, p. 27), enfim conotações de um vazio existencial típicas de uma crise cultural.
As ideias de Morin são bem conhecidas e já expressas aqui como no post recente dos saberes necessários para o futuro, assim como sua saída para esta crise a “ideia-chave diz respeito ao processo que chamo a era planetária” (Morin, 2005, p. 40).
Somente nesta perspectiva planetária, sem neocolonialismo e solidária com a humanidade, a Europa poderá encontrar seu destino unida a todos povos.