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Entre as técnicas e o humanismo

10 abr

Seria a técnica uma espécie de condição humana ou estaria ela separada do homem ? Heidegger e Sloterdijk abraçaram estaParqueHumano questão pirmeiro entendendo que a modernidade já cumpriu uma de suas promessas, abrindo novas possibilidades do estar-no-mundo (uma das traduções possíveis do dasein),mas passados milhares de anos o homem conseguiu uma promessa: distinguir-se radicalmente deste mundo, não como um sujeito autônomo e longe de suas circunstâncias mundanas, mas como ser junto a outros seres, animados ou só coisas.

O homem também conquistou aquilo que sonhavam os realistas não mais como tendo uma interioridade elevada que pudesse servir como abrigo, fugidio deste mundo, onde ele poderia eventualmente escolher aquilo que desejasse ser, ultrapassando o ser animal, o zoé.

Mas se Heidegger parou nas suas reflexões sobre a modernidade técnica, uma das diversas liquidez de Bauman, que lançaria o homem a beira do abismo aberto pelo desocultamento técnico desenfreado, Sloterdijk tenta alcançar o outro lado, sem medo de ver a técnica como feita para “melhorar o homem” de suas condições imunológicas.

Assim surge o seu antropotécnico, ou ainda o complemento deste que seria o onto-antropotécnico, não de seres ciborgues e do técnico avançando sobre a privacidade e o olho-no-olho de humanos, utilizando para isto um conceito de “espuma” ., o que quer dizer que a “sociedade” não pode mais ser entendida “de fora”, seguindo assim uma conceituação hierárquica e geral, mas vista “de dentro” como um conjunto de subculturas, comunidades e redes, formando um conjunto de unidades isoladas, mas conectadas midiaticamente, o que significa técnica desde sempre.

E se ela precisa ser interpretada “de dentro” como conjunto de subculturas, comunidades e redes, um conjunto de unidades isoladas, elas já não podem ser pensadas fora do que é a técnica desde o início, envolta de humanidade e “de dentro” da questão atual, numa linguagem menos filosófica próxima dos jovens: não há um mundo B.

É pela noção heideggeriana de linguagem como casa do ser que o homem pode passar a existir por ser a linguagem (a fala, em Ser e tempo) guardadora da verdade do ser. O processo de cuidado do homem com sua formação (Bildung) na saída em direção à clareira gera, em Sloterdijk, uma antropotécnica, a qual constitui uma onto-antropologia, ou se preferirmos, uma antropotécnica, no sentido antrópico.

O jovem filósofo argentino Fabian Ludueña, aproxima a visão antropotécnica da biopolítica e também da condição humana de Hannah Arendt, define ele: “técnicas mediante as quais as comunidades da espécie humana e os indivíduos que a compõem atuam sobre sua própria natureza com o fim de guiar, expandir, modificar ou domesticar seu substrato biológico com vistas à produção daquilo que, primeiro, a filosofia e logo as ciências biológicas e humanas costumam denominar ‘homem’ ”.

Ludueña, Fabian.  O (des)governo biopolítico da vida humana, XI Simpósio Internacional IHU, 2010.

Sloterdijk, P. Regras para o parque humano: uma resposta à carta de Heidegger sobre o humanismo. São Paulo: Estação Liberdade, 2000.

 

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