Ciências, redes e relativismo
Via de regra, o pensamento sobre o relativismo caiu ele próprio num relativismo, porque é muito simples de dizer e difícil de explicar, porque pensamos que somos modernos, que há algum sentido dizer isto é científico ou isto é só uma crença.
Os que tentaram combate-la enveredaram para a pura ciência ou pura crença, por isto Bruno Latour em seu livro “Jamais fomos modernos”, explicou o princípio da assimetria, mas é possível ser simétrico, sem cair no dogma da neutralidade científica (que vai para a ciência)?
Precisamos entender o princípio das redes, no caso de Latour, as Redes Sociotécnicas, mas também é uma falsa oposição distingui-la das Redes Sociais, que são um aspecto daquelas.
As Redes Socioténicas de Latour referem-se “a teoria ator-rede, a noção de rede refere-se a fluxos, circulações, alianças, movimentos, em vez de remeter a uma entidade fixa.”
A rede de atores não é redutível a um único ator nem a uma rede (Social embora Latour não a chame assim), no seu dizer ela é composta de séries heterogêneas de elementos animados e inanimados, conectados e agenciados.
Os atores em Latour devem ser diferenciados da tradicional categoria sociológica de ator, que exclui qualquer componente não-humano” (Latour, ), e aqui liga-se as redes sociais de um modo geral.
Mas a grande definição, segundo o próprio Latour, está em Callon, ao defini-la assim: “uma rede de atores é simultaneamente um ator1, cuja atividade consiste em fazer alianças com novos elementos, e uma rede, capaz de redefinir e transformar seus componentes” (Callon, 1986, p. 93).
Ambos concluem que isto implica numa ontologia de morfologia variável, cujas consequências para as ciências devem ser seguidas a fim de não deixarmos escapar as contribuições da teoria ator-rede tanto em relação aos estudos sociais em ciências, quanto em relação aos estudos epistemológicos, eis a raiz do relativismo.
Mas seu desdobramento é perverso, “só é científico aquilo que rompe para sempre com a ideologia” (Latour, 1994, p. 92), e exemplifica dizendo: “é o que Racine fazia para o Rei-Sol sob o belo título de historiador, Canguilhem faz por Darwin, sob o rótulo, igualmente usurpado, de historiador das Ciências.” (Latour, 1994, p. 92).
O problema dos ocidentais, explica Latour, é que não coloca esta “sua cultura” (a modernidade, juntos das outros, tem a pretensão da universalidade, “Ela compara naturezas-culturas. Seriam estas realmente comparáveis. Semelhantes ? Iguais ? Talvez agora possamos resolver a insolúvel questão do relativismo.” (Latour, 1994, p. 96).
Callon, Michel 1986 ‘Society in the making: the study of technology as a tool for sociological analysis’. Em W. Bijker et alii (ed.). The social construction of technological systems. New directions in the sociology and history of technology. Cambridge, Mass., Mit Press, pp. 83-103. [ Links ]
Latour, Bruno 1994a Jamais fomos modernos. Rio de Janeiro, Ed. 34. [ Links ]