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A ética hermenêutica

17 mar

Se a ética romântica se desviava pouco do modelo moderno que se fixa na interpretaçãoDialogo dentro do contexto e da apropriação cultural, já dissemos que a alteridade e mais que isto a compreensão do Outro (já explicamos o maiúsculo), é algo que promete colocar em incessante diálogo, relativizando métodos que implicam em colocar o correto de um só lado.

A palavra que usamos sem explicar Verstehen (“compreender”) em alemão já expressa isso: estar no lugar de alguém (für jemanden stehen), dirigir-se para os outros e falar pelos outros, dir-se-ia usando

Esperamos que tenha ficado claro que nem será possível uma consciência no sentido de uma plena identificação consigo mesmo, e também no sentido histórico, nem o alcance de uma verdade absoluta, sem uma abertura concreta ao Outro, disto advém uma ”ética”.

Esses limites também estão na ideia de finitude defendida pela hermenêutica: ninguém pode conhecer plenamente a si mesmo, nem muito menos o outro, senão aberto ao infinito.

A “ética hermenêutica do diálogo”, vem de um desenvolvimento da ideia de sabedoria prática presente nas três éticas aristotélicas, na forma da racionalidade prática (phrónesis), que na realidade, é um conceito platônico, e sabemos que Aristóteles foi um de seus discípulos.

As teses que Platão desenvolveu giraram em torno da ideia de “bem” (ἀγαθόν), mas não como a base de uma perspectiva ontológica, mas como uma pergunta pelo ético no sentido próprio, enquanto Aristóteles teve a intenção maior de criticar a teoria das ideias, além de fornecer uma base para a sua teoria da phrónesis, isto é, concretizando esta ética no estatuto humano.

Sua Etica NIcomaquéia é já ontológica, onde ele pôs os modos de comportamento (ἦθος), com regras dependiam da mutabilidade e da limitação do Ser humano e do modo de ser humano se comporta, então deve ser estabelecido no seu modo variável de escuta atentado outro, assim a linguagem e o diálogo precisam ser adequados e respeitados.

Em Gadamer, a teoria não se encontra em oposição à atividade prática, pois ambas se põe numa presentificação da práxis, o mais elevado modo de ser do ser humano, dá como prova que somos absorvidos (aufgehen) por algo, ao nos demorarmos (verweilen) observando-o e sentirmos certo “orgulho”, mas este se esvazia logo se não há o ato reflexivo da vida.

Afirmará isto de forma bem clara: “o saber hermenêutico deve recusar um estilo objetivista de conhecimento … Ora, o conhecimento ético, tal como Aristóteles nos descreve, também não é um conhecimento “objetivo”. Aqui, ainda, o conhecimento não simplesmente diante de uma coisa eu se deve constatar; o conhecimento se encontra antecipadamente envolvido e investido por seu “objeto”, isto é, pelo que ele tem que fazer.” (pag. 49)

Mas faz uma profunda diferença com o saber técnico, ao afirmar: “Ninguém pode ignorar que há diferenças radicais entre o saber ético e o saber técnico. É evidente que o homem não dispõe de si mesmo como o artesão dispõe de seu material.” (pag. 51)

O que Gadamer vai chamar de saber ético, e o faz apoiado em é distante daquele Hegeliano “saber-para-si”, pois “precisamente nessa “aplicação perfeita” que se desdobra como “saber” na interioridade de uma situação dada” (pag. 55), assim como “o justo significa o contrário não do erro ou da ilusão, mas da cegueira” (idem), e é justamente esta cegueira que “perde o controle de si e, dominado pela dialética das paixões, já não se orienta mais em função do bem.” (idem).

Assim, quase definirá ética, hermenêutica é um processo dinâmico alheio a definições, dirá que saber ético: “se opõe precisamente a um saber puramente técnico.  Assim sendo, não há mais nenhum sentido em distinguir saber e experiência … uma forma absolutamente primordial de experiência, em relação à qual todas as outras experiências talvez sejam secundárias, não originais.” (p. 55)

GADAMER, H.G. A questão da consciência histórica, 3ª. Edição, São Paulo: FGV, 2006.

 

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