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A consciencia planetária e vigiar

30 nov

Olhando a consciência planetária num olhar da Europa, embora seja um olhar viciado, é o olhar que aponta caminhos para o Ocidente, o filósofo Petr Sloterdijk em seu livro “Se a Europa despertar” (2002), aponta o ano zero da consciência atual como a derrota da possibilidade de um “Império do Centro” com o nazismo, segundo sua análise, numa reflexão que já dura a duas gerações.Misseis

Lembra o autor daquilo que Nietzsche afirmava sobre a “obrigatoriedade de grande política” ser preenchida de um novo conteúdo contemporâneo, após o fim do vácuo no qual se tragou a trágica safra de totalitarismo e guerras mundiais, num caminho parecido ao que Morin aponta no seu livro “Terra-Pátria”, qual seja, a busca de fundamentos para uma cidadania planetária, mas é preciso vigiar pois ainda rondam pelo planeta fantasmas de guerras mundiais e totalitarismos.
O capítulo 6 começa com um epígrafe significativo (Sloterdijk, p. 65): “A Europa precisa hoje inventar uma forma de unidade que não é a de um império” de Jacques Le Goff, isto é, criar uma nova forma de política que não seja mais o desenvolvimento fundamentado na exploração e opressão de outros povos.
É como afirma a Bíblia no evangelho de Marcos: “É como um homem que, ao partir para o estrangeiro, deixou sua casa sob a responsabilidade de seus empregados, distribuindo a cada um sua tarefa. E mandou o porteiro ficar vigiando.” (Mc 13, 34), e se no passado se disse que o preço da liberdade é a eterna vigilância, pode-se dizer hoje que o preço da superação da crise é vigiar para que não sejam desencadeados processos que impeçam o crescimento de uma consciência planetária sobre uma cidadania mundial.
Desenvolve ao longo do livro o que chama de política de “visões”, compatível com sua origem ontológico-hermenêutica (é herdeiro e crítico do pensamento de Heidegger e conviveu com Safranski que é o melhor biógrafo deste), o que significa promover o diálogo cultural entre povos, permitindo a cultura e a ‘visão” de cada um.
Assim se a Europa despertar terá “alcançado a façanha de produzir, sob sua própria direção e em debate público, a visão pela qual deve ser conduzida e impulsionada – e então agir sobre essa visão, como se esse novo motivo autoconstituído tivesse tanto poder de liberar forças aceleradoras quanto uma velha missão muito encarnada.” (SLOTERDIK, 2002, p. 72)
A edição brasileira, não sei as outras também, termina com uma entrevista do filósofo alemão a Michael Klonovski, jornalista da revista alemã Focus, em que revela (bem antes da era Trump e também da era Obama) que a única coisa que 11 de setembro fez os americanos a “abrirem mais fogo”, e agora “eles assumem seu unilateralismo sem reservas.” (SLOTERDIJK, 2002, p. 84)
Neste sentido é preciso também vigiar e reagir ao belicismo que pode fazer a consciência planetária retroceder, mas não a diversidade que implica no surgimento de nações e afirmação de etnias, isto não é oposto a consciência planetária, uma vez que permite a cada povo viver e cultivar suas tradições culturais sem reservas.
O papa Francisco está hoje em Miamar, a situação de violência a minoria muçulmana neste país gerou um crise humanitária na região, com muita violência e mais de 100 mil refugiados, esperamos algum alento para a questão.
SLOTERDIJK, P. Se a Europa despertar. São Paulo: Estação Liberdade, 2002.
 

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