Linguagem, a palavra e o Natal
Fala, língua e linguagem podem parecer a mesma coisa mas não é, a fala refere-se a alocução de um enunciado, a língua ao que determinado povo fala, por exemplo, o português e o inglês são a língua da fala de quem as conhece, mas enquanto linguagens envolvem a complexa estrutura da comunicação humana, pois envolve também os signos e significantes em cada língua que podem ter diferenças.
O mais comum é claro, e aquele que todos nós fazemos no dia a dia é a fala, podem nem sempre ter a correção sintática de nossa língua, no caso brasileiro o português, mas de alguma forma procuramos nos fazer entender pelo outro.
A linguagem é algo mais complexo, tão complexo que os estudos e a forma no uso da linguagem, as palavras retomaram um sentido mais profundo, onde a palavra tem não apenas uma origem (a sua etimologia, que quer dizer estudo e origem das palavras), então a palavra tem um significado mais fundamental do que aquele que ela apresenta na fala.
Nominalistas e realistas divergiram em filosofia até o final da Idade Média, nenhum venceu porque venceu o idealismo que separa sujeito e objeto, a retomada da viragem linguística é também uma retomada do realismo, mas ambos ainda têm uma formulação incompleta, grande parte da literatura contemporânea oscila entre realismo e nominalismo.
O sentido completo da viragem linguística é aquele onde também a superação do dualismo sujeito e objeto ocorreu, os realistas defendem que são as causas materiais é que define o que é “real”, os nominalistas modernos subjetivistas defendem que o real é formulado pela mente então de certa forma se aproximam do idealismo, podemos citar entre estes desde Hobbes, chegando aos neopositivistas Rudolf Carnap e o linguístico Ludwig Wittegenstein.
Sua origem é importante também para a teologia onde João Roscelino (falecido em 1120), que apesar dos equívocos foi mestre do grande Abelardo, criou um nominalismo que colocou em dúvida o dogma trinitário de Deus, não por acaso, porque todo dualismo está fundamentado no princípio idealista: o ser é e o não ser não é, sem terceira hipótese.
Pode-se fazer uma ligação interessante como o Natal, se pensamos na figura de Maria, ícone para católicos e ortodoxos, e algumas igrejas orientais, e a Palavra de fez Carne.
É véspera de Natal e é interessante rever o pensamento de Maria ao dizer no evangelho de Lucas (Lc, 1, 38): “Maria, então, disse: “Eis aqui a serva do Senhor; faça-se em mim segundo a tua palavra!”, e o anjo retirou-se, quer dizer que Maria aceitou que de alguma forma A PALAVRA divina se realizaria ela de forma única e definitiva, claro no menino Jesus que nasceu, mas há algo escondido nesta etimologia porque palavra o judeu é também realização da “Palavra” tinha o significado da viragem linguística dos dias de hoje, claro no sentido bíblico, que significa colocar A Palavra no sentido correto da tradição judaica, e no caso de Maria a tradição cristã.
Pode-se dizer então que Maria era toda “revestida” da Palavra, significando que o Verbo Divino se realizaria plenamente na sua pessoa, a partir da concepção, significa que ela como criatura realizou as escrituras na correção linguística e de vida, então olhar para a vida dela significa ler o Livro Divino de modo particular, de uma vida de criatura na qual o verbo se fez carne, em suma, se realizou, se encarnou e de modo pleno.