A fragilidade da bondade
O livro A fragilidade da bondade: fortuna e ética na tragédia e na filosofia grega [The fragility of goodness: luck and ethics in greek tragedy and philosophy] foi publicado em 1986, sua autora, Martha Nussbaum, era relativamente desconhecida fora do mundo acadêmico, mas já era respeitada como uma estudiosa da antiguidade clássica.
Até a publicação da edição brasileira, tornou-se conhecido no mundo anglo-saxão por um envolvimento no debate político norte-americano, com ênfase especial na filosofia política.
Pode-se fazer um resumo grosseiro do livro, dizer que a partir da discussão da tragédia grega do século V a.C. e assim como dos filósofos do século IV a.C., que o livro aborda as tensões entre o papel da fortuna (no sentido grego é mais sorte que dinheiro) na existência humana e a aspiração a uma vida moralmente realizada.
Então esta discussão reside na ideia de que pode existir “uma lacuna entre ser uma pessoa boa e conseguir viver uma vida humana florescente”, assim ela fala de um “reflorescimento”.
Uma das forças do texto é no modo como o significativo conhecimento do corpus textual da antiguidade clássica e a competência filológica de sua autora se conjugam à abordagem, então é como se estivéssemos revisitando a filosofia grega, então o “reflorescimento” é também filosófico, até certo ponto questionável porque este foi o projeto do renascimento.
Seu mérito é ler a filosofia ocidental a partir dos gregos, e não exclusivamente nos gregos, onde ela destaca o papel central da moral que vai chegar até nossos dias, o reflorescimento é então uma adesão da autora ao “método” aristotélico de abordagem das coisas humanas, porem pode-se dizer que há três questões numa espécie de “fenomenologia” da vida ética humana e do papel que a fortuna aí desempenha, e isto pode ser observado no texto:
São três os aspectos aristotélicos, a boa via: o amor, a amizade, atividade política, etc., seriam por definição vulneráveis ao risco, ao perecimento e impregnadas de incerteza.
Em segundo, as coisas tidas como valiosas são plurais, podem ser incompatíveis entre si e, em última análise, são irredutíveis a um valor superior, que podem gerar, em momento específicos, quando não estão sujeitas ao controle humano, exigências conflitantes e incontornáveis.
Em terceiro lugar: as emoções, os desejos, os sentimentos nos vinculam a objetos, por definição, particulares e contingentes, expondo-nos à precariedade e à indeterminação constitutiva desses últimos.
É um bom traço aristotélico, mas considero a análise de Gadamer sobre a questão mais profunda, pois ele a une ao tratamento das virtudes platônicas: a coragem, a sabedoria, a temperança e a justiça.
Não sou platônico, mas parece que todas estão em falta.
NUSSBAUM, Martha. The fragility of goodness: luck and ethics in greek tragedy and philosophy. 2. ed. Cambridge, Cambridge University Press, 2001.