O bem entre Platão e Aristóteles
A razão que deste tema da antiguidade clássica para a contemporaneidade é o reconhecimento, para diversas interpretações da prática do dia-a-dia para a mais alta teorização que ainda nosso pensamento está intrincado desta ideia de bem.
Hans-Georg Gadamer em seu livro “A ideia do bem entre Platão e Aristóteles” (2009) desmonta desde o início do texto “as comparações ideais e ingênuas, tal como “Platão, o idealista”, ‘Aristóteles, o realista’ “ (pag. 2) e afirma que este é o testemunho da parcialidade “no campo da consciência idealista.” (idem).
Demonstra isto com a interpretação neokantiana de Platão feita por Paul Natorp ao fazer a aproximação de Platão e Galileu, onde interpretou “a ideia” como “a lei natural”, e que fora alertado pela ruptura de Nicolai Hartmann com este tipo de idealismo, e foi o que fez inúmeros autores (Robin, Taylor, Ross, Hardie e Hicks) que mostraram a unidade da filosofia do Lógos com toda “a conceptualidade do pensamento ocidental” (pag. 3).
Reconhece que o conhecimento que goza de amplo reconhecimento é a tekhné, enquanto o conhecimento que é mais importante para o homem: “sobre o Bem parece de outro tipo, diferente de todo o conhecimento conhecido …” (pag. 25) então este tipo é ainda muito mais importante para nossos dias, como mostra a “banalidade do mal” de Hanna Arendt ou a “fragilidade do bem” de Martha Nussbaum, o tema está de volta.
Como isto pode ser dito de modo mais direto: corrupção, violência, terrorismo , fome e diversos tipos de intolerância demonstram a nossa ignorância ainda hoje sobre o tema.
Em densa e complexa análise, Gadamer mostra o fundamento ocidental deste tema,
Destaca o autor, a partir da República de Platão, que o mundo idealizado do Estado pelos autores da Antiguidade Clássica, pensavam que esta ideia de Estado ia harmonizar a sociedade,
Platão em vida observou a corrupção da polis grega, Gadamer cita sua Sétima Carta da República: “a não ser que ocorresse uma reforma de dimensões incríveis” (p. 70),
Fica a pergunta de Leo Strauss e Allan Bloom, citados por Gadamer: “Intenciona Platão nada mais a não ser caracterizar o conflito entre theoría e política?” (p. 72), a resposta de Gadamer caminhará (de modo complexo) para uma areté coletiva, bem ao gosto de seu círculo hermenêutico, mas pensamos que uma verdadeira ideia do “Bem comum” ainda precisa ser explicitada com uma reforma de “incríveis dimensões”.
GADAMER, H.G. O bem entre Platão e Aristóteles. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2009.