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Paraíso e realidade

23 fev

O arquétipo ocidental sobre o mito adâmico não impediu de alguns relances de uma ideia de paraíso em um regime liberal que fosse próxima daquilo que seria a perfeição, mas o dualismo no sentido filosófico, e a tensão correta entre realidades humanas e sobre-humanas existem, não é impossível encontrar pessoas e realidades de “paraíso”.
As realidades humanas sempre estiveram superpostas de um imaginário e uma ideia de “vida boa”,aoRelationship e isto remonta a antiguidade clássica, na ideia de felicidade na polis, ai realidade e paraíso se encontram em tensão.
Platão criou a ideia de Sumo Bem, uma realidade sobre-humana onde , na modernidade foi Kant  que aproximou o pensamento ‘sumo’ de um bem consumado, assim seu sumo bem, tornaram dois elementos no sumo bem, a felicidade de um lado e o ideal do outro.
Ele apresentou assim sua restrição para que se configure como uma consequência moralmente condicionada ao agir moral, no seu famoso imperativo: “age de tal forma que seja modelo para os outros”, mas em Aristóteles o sumo bem tinha duas prerrogativas, em seu escrito “Ética a Nicômaco”, Aristóteles defende que a felicidade é 1) o maior bem desejado pelos homens e 2) o fim das ações humanas, é Deus como motor-imóvel.
Nem o motor imóvel de Aristóteles, nem o idealismo kantiano resolvem esta tensão entre a felicidade humana e a realidade vivida, em tempos de crise, em guerras e situações de política equivocada esta tensão vai as alturas e dá ao homem a sensação que não há saída para a tensão, porque afinal a felicidade não existe.
No imaginário popular do Brasil há uma presença deste paraíso na natureza, “minha terra tem palmeiras” ou no dizer de Nelson Rodrigues: “o Brasil é uma paisagem”, e ainda em Machado de Assis: “eu não fiz, nem mandei fazer, o céu e as montanhas, as matas e os rios. Já os achei prontos” e podem-se encontrar muitos outros exemplos, mas permanece a tensão platônica-aristotélica-kantiana entre o “sumo” e o “bem”.
É possível descer as realidades humanas e não perde-la, postamos aqui já como viver em tempos de crise de Edgar Morin e Viveret: resguardar os valores, não se trata de desconhecer o mundo a volta, mas viver em paz de fazer a sua parte bem feita: agir segundo seus valores e defende-los mesmo quando todos imaginam que isto seja “ingênuo” ou até impossível, há algo fundamental nisto: levar estes valores aos “relacionamentos”.
Uma passagem bíblica simbólica para isso é Jesus que ao subir ao Monte Tabor, Jesus se transfigura e aparece uma imagem paradisíaca, embora seja a Trindade, os apóstolos pensam que é Jesus com Moises e Elias, e afirmam na passagem de Mc 9,5: “Mestre, é bom ficarmos aqui. Vamos fazer três tendas: uma para ti, outra para Moisés e outra para Elias”., querendo permanecer nesta realidade onde o essencial é a relação entre aquelas três pessoas, Jesus depois de pedir que não contassem a ninguém, desce com eles do Monte e volta a “realidade”, mas ela sempre estará presente entre os homens.
Quando esta realidade está presente, “Porque, onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, aí estou eu no meio deles” (Mt 18,20) significa estar no “Sumo Bem” nos relacionamentos, e não necessariamente estar em um lugar específico ou lendo a Bíblia.

 

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