A alma interior e a verdade
Santo Agostinho põe a verdade na Alma do Homem: Noli foras ire, in teipsum redi:
in interiore homine habitat veritas, esta é a primeira aproximação de sua verdade ontológica, embora o estudo do ser já estivesse presente em Platão e Aristóteles, a verdade era para eles mais “logo” do que “ontos”, uma vez que o Ser e ele devia “ter” a verdade.
Isto terá uma enorme relevância para o pensamento humano, pois significa que há algo no interior do homem que deve ser “desvelado”.
Em Santo Agostinho esta tensão significou que o homem fica apenas nas coisas exteriores, e então esvazia-se de si mesmo, então começou um tipo de ascese aonde o homem se recolhe a sua intimidade, quando penetra precisamente naquilo que é o homem interior, e esta tensão irá culminar no final da Idade Média numa separação entre o Ser e o objeto, na verdade, justamente esta separação projetou o homem no “objetivo”.
Dirá Agostinho em sua ascese, “em te ultrapassando, porém, não te esqueças que transcendes tua alma que raciocina. Portanto, dirigi-te à fonte da própria luz da razão”. (Santo Agostinho, A verdadeira religião 39, 72)
É claro que o cogito agostiniano não é o cartesiano, que estava distante no tempo e também na concepção, mas ele preparou este caminho, o homem desejoso do controle dos objetos e da natureza, o homem que construiu seu castelo interior, vê-se no início da modernidade projetado sobre os objetos.
Para Kant a “concordância do conhecimento com o objeto” significa “a concordância do entendimento com o objeto que é apreendido por ele, a saber, o fenômeno”. Com isso, a definição kantiana é eficaz, se compreendida no sentido da fórmula “adaequatio rei et intellectus” de Tomás de Aquino, sendo que, “[n]esse sentido, a teoria de Kant da verdade transcendental que implica a veracidade do conhecimento transcendental no final das contas é uma ontologia, a teoria do ser dos seres, ou do domínio objectual, [ou seja] dos objetos”.
Ainda que o pensamento de Tomás de Aquino, em sua tese de doutorado sobre o “Ente e a essência” as coisas ainda estejam “adequadas” a razão, em Kant e na modernidade elas ficarão “fora” e a ontologia se reduzirá a uma onto-teo-logia, ou seja, apenas religiosa.