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Ser do-ente

13 mar

aoSerDoenteQuase sempre que simplificamos corremos o risco de estar vulgarizando um conceito complexo como o Ser, na modernidade este conceito está confinado na filosofia e é ser de uso pouco comum no dia a dia, de argumentar e explicar o problema mais profundo de nosso tempo: o ser do-ente, ou um ser projetado para fora de sua existência, ou seu esvaziamento, é, pois diferente da reificação (res – coisa) a pura coisificação.

Grosso modo o Ser não tem forma, em sua origem está o pensamento antigo do filósofo pré-socrático Parmênides o qual confundia a esfera da essência da coisa com a essência una, homogênea e contínua da mesma, significa em resumo para ele: o Ser é e o não-Ser não é, não pode haver terceira opção, e, ao mesmo tempo algo não pode ser A e não-A simultaneamente.

Esta lógica simples parece pura evidência, mas ela se desenvolveu até a modernidade, onde se perguntou porque existe tudo e não o nada, a própria definição de nada, do zero e do infinito, enquanto definições lógica datam do início da modernidade, até mesmo o zero grau absoluto, onde um corpo estaria completamente parado, o zero grau absoluto, é concepção moderna.

Na filosofia é o aparecimento do nihil, do nada mesmo, ao qual parece estar confinada boa parte da humanidade a procura de um sentido para a vida, ou o próprio desprezo por ela.

Simplificando de novo, no pensamento contemporâneo o ente é o que tem forma, enquanto Ser não tem forma, é apenas a sua existência no vazio ou na finitude da vida, pois ente é tudo que existe inclusive em abstrato, por exemplo, o número tem forma (podia até se dizer que é a forma por excelência) enquanto algo que não tem forma pode ser quantificado mas não deveria, a alma (talvez o Ser por excelência, admitindo-se sua existência ao menos enquanto “pensamento”).

São Tomás de Aquino em sua tese sobre o “Ente e a essência”, usava o termo “quididade” para indicar a essência das coisas, dito de forma mais simples, o que a coisa é.

Assim o ser não tem forma, é uma abstração, um pensamento ou como definimos um “noon” um pensamento espiritual, enquanto o ente é a forma, sua visão objetiva, concreta ao gosto atual.

Quando afirmamos objetivo, objetividade, prática (não no sentido mais amplo de experiência fenomênica) estamos falando do ente, de algo que os sentidos percebem, ao gosto do apropriar.

Na filosofia pré-socrática Parménides, confunde-se o ser com a esfera da essência esfera; se por um lado não pode-se dizer que é humano e inumano sobre o ser, pode-se dizer que é líquido, liquefeito ou em estado de liquefação na esfera do ente, não podendo ter dois estados, ainda que oscile entre os dois, pode-se dizer na esfera do ser algo é virtualmente, não sendo ainda o ser enquanto ato, o é em potência, uma semente é uma árvore, mas ainda não é.

Exigimos em nossa contemporaneidade a permanência do ser no ente, por isto dizemos ser-do-ente, enquanto o Ser-do-Ser pode não ser, de modo concreto quando admitimos a presença do Outro, somos nós e não o somos para o Ser-com-outro.

O ser-do-ente, ao mesmo tempo em que separado das coisas quer seja pelo aspecto financeiro ou por estranhamento, está projetado sobre elas como reificação, não sabe como gerenciá-las no uso cotidiano, as críticas ao uso de mídias hoje em dia, o uso de alguns dispositivos, se usados apenas segundo sua finalidade não é um ser-do-ente, mas um ente-do-ser, feito para uso humano, confundi-lo como ser, atribuir-lhe categorias morais, é ser-do-ente.

 

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