O ser e a essência
Antes de verificar o que é o ente e a essência na contemporaneidade, examinemos mais de perto o seu significado em Tomás de Aquino, importante para compreender a diferença entre nominalistas e realistas no final do período medieval.
Para o filósofo medieval, a essência, que era chamada de quididade, é o inefável do que possibilita a existência, dando a uma coisa a sua constituição de Ser, este por sua vez possui uma existência como possibilidade de existir em ato, uma vez criado a matéria e a forma lhe dão realidade.
Diferentemente de Aristóteles, para o qual existe um primeiro motor que é deus, sua ontologia parte desta premissa, para Tomás de Aquino, a essência de Deus é sua existência, e atribuir-lhe algo seria negá-lo, pois não lhe falta nada, é pura perfeição e plenitude, assim o esforço de atribuir a Deus propriedades é inútil, para Tomás de Aquino ele é puro Ser.
Nele a essência, chamada de quididade é o inefável que possibilitaria a existência, então é daí onde Deus dá existência as coisas, ou preferindo um conceito teleológico, é a primeira matéria/energia/forma de onde se origina tudo, poderia se dizer em palavras mais modernas, a natureza existente em-si é uma sobre-natureza de sua essência de um Ser para-si.
A propósito, faleceu hoje o físico Stephen Hawking, que disse sobre a criação do universo, que tão importante quanto o ato de criá-lo foi a intenção da criação,
A essência (qüididade) não sendo o inefável corresponderá a nomes e conceitos, cuja existência é concebida pelos nominalistas, ainda que ela admita a experiência como modo de “perceber” a realidade, ela estará no início deste pensamento muito ligado aos sentidos, assim mesmo hoje as substâncias, estejam estão ligadas a nomes, elas são signada, e passíveis de uma desconstrução como foi analisada por Derridá e nos posts da semana passada.
Para Tomás de Aquino há duas substâncias, onde a essência participa igualmente das duas substâncias, e a causa somente da substância composta, no ente a existência é “…. aquela substância primeira e simples por excelência, que se denomina Deus (AQUINO, 2004, p. 10)
A substância segunda (coisas abstratas) comporta o gênero e a espécie, a essência participa dos dois. A essência não participa individualmente da matéria ou da forma, encontra-se em ambas, compondo no mundo das coisas sensíveis a individuação.
Tomás de Aquino estabelece ainda dois tipos de matéria: matéria signada, que é substância primeira, particular, concreta, singular, de menor extensão, pode-se usando um exemplo moderno dizer Hidrogênio e Oxigênio, formando a água, já a matéria não signada, que é substância segunda, universal abstrata, de maior extensão, um líquido potável, porém é preciso ver uma complexidade maior, se tratamos do ser humano.
‘’É evidente que a definição de homem em geral, e a deste homem chamado Sócrates, só se diferenciam pelo signado e o não signado’’.(Idem, cap. III – 1, p. 11), assim tanto a existência do indivíduo signado quanto o Homem em sua própria natureza, é também o homem Sócrates em sua natureza particular signada, onde signada nada mais é do que colocar um signo.
AQUINO, S. Tomás, Compêndio de teologia, cap. II -3, p. 77, Col. Pensadores, SãoPaulo: Nova Cultural, 2004.
Being and essence