RSS
 

Antropologia e ontologia

19 mar

Esta é uma relação escondida em muitos textos do pensamento contemporâneo, ora nos debruçamos sobre a história deste Ser-no-mundo (já usamos outra tradução como pre-sença),  ora mergulhamos no lado “oculto” do Ser.

Algumas leituras de Paul Ricoeur são importantes para aclarar esta questão, a leitura por exemplo de Tempo e Narrativa, encontramos a passagem: contudo, reconhece uma dimensão antropológica das categorias ontológico-existenciais de Ser e Tempo. Segundo afirma, a análise de Heidegger precisa “ter uma certa consistência no plano de uma antropologia filosófica para exercer a função de abertura ontológica que lhe é assinalada.” (Ricoeur, 1994, p. 97).

Claro o aspecto essencial da Obra de Heidegger é a questão do Ser, para ele esquecida pela metafísica tradicional pelo fato da ontologia ter-se convertido em uma ontologia da substância, aquela que vê tudo como a primazia da “coisa”.

Mas sua obra não está deslocada ou esquecida da dimensão antropológica, esta consistência é construída conforme explica Ricoeur, por sua analítica existencial “está antes de toda psicologia, antropologia e, sobretudo, biologia.” (Heidegger, 1995, p. 81)1.

Mas não se trata de uma abertura de um a priori ao modo idealista, não é uma simples  “construção apriorístíca” (Heidegger, 1995, p. 87), isto é, desvinculada de qualquer “empiria” ou aspecto prático, que a desvinculada de sua objetividade.

Assim com um método correto, toda a pesquisa científica e a pesquisa ontológica podem até convergir, esta última tendendo sempre para uma maior “purificação” e transparência do que se descobriu onticamente, fazendo aquilo que Husserl chamou de “retornar a coisa em si” que não é senão abandonar a especulação e entrar no aspecto da relação com o conhecimento, que é dar ao mundo caráter inteligível.

A investigação que segue uma “fixação dos setores dos objetos”, e só o faz a partir da abertura originária ao modo de ser dos entes pela qual a experiência sensória do mundo é responsável, mas nenhuma pesquisa responsável deixará de apresentar questões que são “subjetivas” dos dados empíricos, por isso inseparável deles.

Se o questionamento científico aborda uma determinada região dos entes, ele entra numa região seja além do horizonte da experiência original: o horizonte da relação fundamental do ente investigado e com o mundo questionado de sua relação.

No plano antropológico isto é essencial, coletar dados de uma cultura, sem penetrar no “ser” dela é fazer uma abstração objetual, desconhecer aspectos subjetivos dela.

Heidegger, M. Ser e Tempo (parte I). Petrópolis: Vozes, 1995.

Ricoeur, P. Tempo e Narrativa (tomo I). São Paulo: Papirus, 1994.

 

Comentários estão fechados.