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Des-tempo e a morte

16 jul

Recordando Nietzche, Chul Han fala do sentimento do último dos homens (em Assim falou Zaratrusta): “o que é o amor? O que é a criação ? O que é o anseio? O que são as estrelas?” (pag. 13), não é a pergunta angustiada de um pensador, mas antes a pergunta desesperada diante do fim: “Ex-pira (ver-endet) a destempo em vez de morrer” (HAN, 2016, p. 13).
Assim, explica o autor, o que não pode morrer devido ao tempo parece um “des-tempo”, então a “aceleração atual” é esta incapacidade de acabar e concluir, desaparece “qualquer tempo apropriado ou bom” (pag. 14), então a vida são pequenos prazeres a noite ou no dia.
Aqui aproxima engenhosamente Nietzsche de Heidegger: “ser livre para a morte”, mas há algo novo em nosso tempo onde “a fragmentação da morte reduz a morte ao parecer” (pag. 15), e dirão tanto Nietzsche como Heidegger “se opõe a fragmentação do tempo”, mas como ?
A análise de Han sobre Nietzsche é perfeita, afirma que ao invocar insistentemente sobre “o herdeiro” e a “meta” indica que “não está consciente do alcance que tem a morte de Deus” (pag. 16) pois o “presente reduz-se a um ponto temporal fugidio” (HAN, 2016, p. 16).
Aqui vai separar o “se” impessoal heideggeriano, do “último dos homens” de Nietzsche, enquanto em Ser e Tempo, Heidegger tenta “a história em vista do seu fim iminente”, a herança (e não o herdeiro de Nietzsche) e a transmissão como “legado” geram “uma continuidade histórica”, mas numa “des-presentação do hoje”, a contração do presente, e a perda da duração e a aceleração que são formas muito mais complexas, afirma Han.
Aqui retorno ao ponto, onde não há atração temporal entre processos, que seria no fundo aquilo que chamou de aroma do tempo, tanto na sua apreciação quanto na sua duração.
É um presente reduzido a picos de atualidade, intensifica, também o terreno da ação, à atemporalidade (Unzeitigkeit) (pag. 19), onde o contrário do tempo pleno, “é a de um tempo de duração vazia, que se dilata sem princípio nem fim” (HAN, 2016, p. 19).
Explica ao final deste capítulo, o que de certa forma intuía sem ter uma explicação exata, “as pessoas tendem antes, a apressar-se de um presente para outro. É assim que cada um envelhece sem se tornar maior”, então o tempo ex-pira a destempo.

HAN, Byung-Chul. O Aroma do Tempo: um ensaio Filosófico sobre a Arte da Demora, Lisboa. Relógio d´Água, 2016.

 
 

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