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Aporia e esperança

06 dez

O que podemos ter além da aporia, uma paralisação diante do impensável, retorno aos extremismos ?

Já postamos aqui sobe a phronesis, a sabedoria prática, que junto a techné e a práxis forma uma forma mais elaborada de entender a relação dualista e idealista de teoria e prática, mas foi Martha Nussbaum que colocou isto em novos patamares, apesar de desconfiança da crítica.

Martha Nussbaum foi a primeira ao desfilar em seu livro The Monarchy of Fear (A Monarquia do medo, poderá haver outras traduções pois o livro é de 2018), a obra que era uma visão clara do medo nos EUA, é agora também aplicada ao Brasil e ao crescimento dos fundamentalismos no mundo de hoje.

O nome pode parecer estranho, mas vai na linha de Rousseau o democrata “contratualista” mais lúcido e menos autoritário, onde a autora argumenta que numa monarquia a criança nasceu para “escravizar” as pessoas, mas ela evolui e vira um ser humano maduro quando consegue ver seus pais como uma extensão de si mesmo e passa a respeitá-los e a retribuir a vida que recebeu.

Partindo da teoria política, psicanálise, estudos psicológicos e clássicos, a filósofa argumenta que algumas emoções estão sabotando a democracia: o medo, a repulsa e a inveja, se antes não a levaram a sério, agora é hora de levar ao menos em conta.

Ela se contrapõe a esta teoria a escolha da esperança como um hábito prático, que significa colocarmos em contato com aquilo que a priori repelimos: a religião, as artes, a educação e o que parece mais fundamental: o estudo em detalhe das teorias da Justiça.

É um dos caminhos da transdisciplinaridade, mas antes devemos considerar o que está além do senso comum, pois também nestas áreas um certo nível de aprofundamento é necessário, além do autoritário e liberal, do justo e injusto social, da arte e das belas artes, há algo além e não é nem inter nem multi, mas trans, ou seja, além e nisto há algo de metafísico.

A esperança prática é também uma boa receita porque além de colocar algum luz no quadro atual de crise do pensamento, da cultura e até da religião, coloca-nos em movimento não na vida activa, mas em atividades que podem ser inseridas no dia a dia e alteram a vida e os resultados (incorporam assim phronesis e techné, embora a autora não a chame assim), ela trás para a conversa o tema das emoções, diz sobre si mesma: “não se tinha aprofundado o bastante”, disse em entrevista a Fronteiras do Pensamento.

Martha Nussbaum além de ser reconhecida estudiosa da cultura clássica, recebeu em 2016 o prêmio Kyoto, o equivalente japonês ao Nobel, que receberam também Karl Popper e Jürgen Habermas.

Não li o livro só esta entrevista e comentários em jornais, mas estou compondo minha lista de leitura para 2019, ele está nesta lista e que o espírito de paz e de fraternidade nos traga esperança.

 

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