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Empatia forçada e verdadeira

23 fev

O fato de sorrir sempre e ter necessidade de se mostrar feliz pode ser altruísmo e até mesmo heroísmo de muitas pessoas, o que deveria nos dar confiança e empatia deveria ser a transparência, que nem sempre é empática.
Claro isto não significa ser mal-educado ou grosseiro, nem desvio de personalidade, mas o alívio do dualismo interior diante da verdade, mesmo quando ela não é simpática, faz a pessoa ter maior coerência interna, que não se confunde com identidade.
Identidade pode ser pessoal, em grupo ou cultural, algumas vezes é confundida com ser conivente ou conveniente, mas na raiz isto é falsidade, portanto a empatia tem seu lugar diante da verdade e do ser, nem sempre da ética social que dita regras de conveniência e “legalidade”, o que passou a ser chamado de politicamente correto, mas bem poderia ser politicamente conveniente.
Desde a década de 30 se fala do brasileiro como o “homem cordial”, embora haja uma grande distância antropológica e histórica da politicamente correto, não seria isto apenas a atualização.
Empatia então deveria ser bom humor no sentido de capacidade de com serenidade entrar em problemas e questões polêmicas e com forte possibilidade de polarização, o mundo hoje precisa disto, e, portanto, confundi-la com hipocrisia, sorriso fácil ou apenas tolerância pode ser “cordial”, podendo não ser um sentimento verdadeiro.
Na verdade fazer ao outro o que gostaríamos que fosse feito para nós, não é o sistema empático, o que a neurociência mostra é que temos um conjunto de neurônios chamados neurônios-espelho que diz que imitar o outro é uma forma empática muito natural, que não é só a de fazer algo ao outro pelo simples fato que gostaríamos que fosse feito a nós, no fundo estamos “pedindo” algo que queremos, é saber como o Outro QUER que seja algo feito a ele, isto sim é empático.
A empatia significa o dom que todos tem, de poder sentir o que o outro sente, assim falar de Outro é a verdadeira forma tanto de encontrar um dom inato da humanidade, a neurociência revela, como também tornar esta verdade explícita, existimos e sentimos o Outro, só o negamos assumindo um falso eu, pois temos como “habilidade” natural a empatia, e só por um treino constante de negar-se ou por algum condicionamento social, perdemos a empatia.

A pandemia tornou muita gente amarga, insatisfeita e de certa forma acentuou o individualismo, em O sócio e o próximo (Le socius et le prochain), Paul Ricoeur explica esta diferença de relação.
Não há, portanto, eu verdadeiro sem o Outro, sem a empatia com o Outro, natural e não forçada, que feita assim é uma encenação e o Outro sentirá, a empatia é assim ontológica, parte do Ser.
A jovem Tati Fukamati explica num vídeo sua descoberta da empatia na neurociência, é uma boa iniciação para aqueles que desejam ser mais empáticos.

 

 

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