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Não é uma crise só do pensamento

02 jul

A crise pode parecer algo intelectual demais, o pensamento estaria distante da realidade concreta da ciência, e assim da vida comum, porém sua extensão atinge a ciência cotidiana da estatística à medicina, da bibliometria à biologia e isto pode afetar a confiança na ciência e no campo espiritual há uma abertura imensa ao charlatanismo e a manipulação da boa fé.

Essa crítica questionou, por exemplo, a dicotomia fatos-valores, enfatizando a construção social dos fatos, e pode ser rastreada voltando às obras de filósofos como Friedrich Nietzsche e Edmund Husserl, com sua rejeição à ciência como substituto metafísica. Stephen Toulmin foi bastante articulado em sua crítica à ideia cartesiana de racionalidade (2001), enquanto a essência do método científico tem sido objeto de escritos (e disputas) de autores como Karl Popper, Thomas Kuhn, Paul Feyerabend e Imre Lakatos.

A essência do método científico tem sido objeto de escritos (e disputas) de autores como Karl Popper, Thomas Kuhn, Paul Feyerabend e Imre Lakatos, o eco destas disputas chegam ao mundo da física como o debate sobre a teorias das cordas e sua realidade física.

Uma literatura interessante sobre a crise atual foi o trabalho de Derek de Solla Price “Little Science, Big Science” de 1963, ele afirma que há um ponto de saturação e senilidade, que foi resultado do próprio crescimento exponencial que experimentou no século XX.

Outro trabalho mais também interessante é o livro de Jerome Ravetz “Conhecimento científico e seus problemas sociais”, que oferece uma crítica aos mitos da objetividade (é nosso principal objeto deste blog), e que se pergunta sobre a solução de problemas práticos, ou seja, sociais.

Em um trabalho recente ele argumentou recentemente Ravetz (2016) que “Aplicar uma metodologia” científica” às tarefas de governança da ciência leva diretamente à corrupção, pois qualquer sistema pode estar em jogo “, em outro artigo, Ravetz (2011) define a questão em termos do “amadurecimento das contradições estruturais da sociedade europeia moderna”.

A pandemia mostrou a ineficiência tanto da área médica onde “especialistas” defendem medicamentos que não tem eficácia comprovado e geram problemas colaterais, como a hidroxicloroquina e outros (segundo o caderno Saúde da veja são testados 69 medicamentos: 18 são anticâncer, 14 imunossupressores, 13 anti-hipertensivos, 12 antiparasitários e 12 anti-inflamatórios) e também o tratamento estatístico escondem os verdadeiros resultados, como são as análises da evolução da pandemia no Brasil.

Referências:

DE SOLLA PRICE, D. J. Little science big science. Columbia University Press, 1963.

RAVETZ, J. R. Scientific knowledge and its social problems. Oxford University Press, 1971.

RAVETZ, J. Faith and reason in the mathematics of the credit crunch. The Oxford Magazine. Eight Week, Michaelmas term 14–16, Disponível em: http://www. pantaneto.co.uk/issue35/ravetz.htm, 2008, Acesso: 2020.

RAVETZ, J. R. Postnormal Science and the maturing of the structural contradictions of modern European science. Futures, 43, 142–148, 2011.

RAVETZ, J. R. How should we treat science’s growing pains? The Guardian 8 June 2016.

TOULMIN, S. Os usos do argumento. Trad. Reinaldo Guarany. São Paulo: Martins Fontes, 2001.

 

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