A pandemia mudou a consciência humanitária ?
Em seu livro Ciência com consciência, Edgar Morin lançou a pergunta: “A aventura científica nos conduz à catástrofe ou a um mundo melhor?”, substituímos saberes espirituais e populares e, entretanto, não conseguimos evitar guerra, combatemos uma pandemia, mas e nossa relação humanitária irá melhorar? Quis acreditar que sim, mas parece que não.
Chegamos no Brasil ao prolongamento do Platô, que anunciamos desde o início de maio (post), mas só agora as grandes mídias e as organizações mundiais a reconhecem, e não deve cair até que o platô se estenda por todo território nacional, o que já está acontecendo, vai até o final de julho.
Muitas reflexões surgiram sobre melhorar as relações em família, e muitas melhoraram, diminuir o ritmo acelerado da vida moderna, até diminuiu, mas poucas pessoas parecem dispostas a um novo estilo de vida, a um “novo normal”, a maioria quer voltar a vida anterior: festas, consumo e vícios.
É claro a pandemia apenas acelerou o que já estava em curso, famílias com dificuldades, com a forçada convivência diária pioraram, mas aquelas que não encontravam tempo, agora tem tempo, ajudar as tarefas diárias, mudar a lógica dos relacionamentos polarizados e encontrar o Outro.
Fizemos várias postagens na semana que passou sobre o bem, indicando que sua fragilidade (a filósofa Martha Nussbaum escreveu um livro sobre isto no pensamento na filosofia clássica), mas a fragilidade do bem é diferente da frivolidade, não é nem fútil nem superficial.
Tanto ainda é possível mudar a tendência da pandemia por uma maior consciência e cuidados com a pandemia, como também é possível (antes que seja tarde) a consciência dos problemas sociais e que são de fundo humanitários, respeito aos direitos, a diversidade de opiniões, raças e credos, etc.
Imaginamos que poderia ser mais curto o ciclo da pandemia, e também que o vírus se atenuaria ou outras falsas visões sobre uma pandemia, antes mesmo há quem acredite que ela não exista, no entanto o problema humanitário de fundo é o mais grave e para ele a consciência deve atentar.
Vale a máxima da fenomenologia não existe consciência num sentido abstrato, embora o “mal simbólico” possa criar bolhas nas quais alguns grupos sobrevivem, este é o perigo de uma consciência abstrata não fenomênica, a consciência a pandemia pode nos ajudar a melhorar a nossa percepção e sensibilidade do problema humanitário, que já é epocal (transição de épocas) e poderá tornar-se civilizatório, como riscos de uma desumanização ainda mais grave.
É possível uma mudança que comece a partir de cada atitude, de cada ação pessoal sobre os grandes problemas e cada um deles exige uma consciência fenomenológica, isto é, a dirigindo a interação a aquele problema com seus contornos, limitações e fragilidades.
Podemos inverter a curva humanitária, mas o tempo urge e a pandemia o acelerou.