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Onde leva a ira e onde leva o perdão

10 set

Pode-se considerar a primeira ideia da ira política ocidental, do século VIII a.C., a Ilíada de Homero aquela que levanta a primeira voz sobre a ira, já na primeira frase: “canta, ó musa (Muse) a ira (mènin) de Aquiles”.

Parece que esta é a voz corrente do Ocidente de Zizek a Sloterdijk todos parecem concordar com isto, menos Edgar Morin e claro alguns pacifistas, mas que ficam envergonhados diante de tamanha desfaçatez dos líderes conservadores.

Mas há bem poucas crónicas que falam do sucesso destes líderes, e parece que a pandemia os ajudou, com medo a ideia de um governo forte que cuida dos fracos é mais forte do que a voz da insurreição e da liquidez, há outras vozes porém.

A ideia de perdão é ironizada e a vingança e a ira parecem potencializadoras de uma mudança, porém o sentimento de compaixão e de perdão é inerente a ética humana, por mais que ela esteja confusa com a ética do estado que dispensa muitas vezes a moral, ela é a única esperança de que o quadro da cólera possa se inverter, é claro com arrependimento dos opressores, mas o discurso corrente é que isto é impossível e que as pessoas jamais mudariam, e com a pandemia!

É claro que perdão sem arrependimento e sem reparação não é aceitável, e não é verdade que basta se confessar e mostrar arrependimento que está “salvo”, há efeitos e punições sociais que podem levar o opressor a sua reparação, mesmo que esta possa ser muito menor que o dano causado, porém não há como mudar de rota, de rumo, sem perdão.

O que é preciso compreender é que as ofensas quando brotam em torno de uma polarização elas podem favorecer aos que raramente não tem defesa, social, política ou ideológica, e isto favorece aos fortes, o medo pune os fracos e nunca os cruéis, acostumados a fazer com ele um jogo de risco e sádico prazer.

Edgar Morin esclarece que: “A compreensão não desculpa nem acusa, pede que se evitar a condenação peremptória, irremediável como se nós mesmo nunca tivéssemos conhecido a fraqueza nem cometido erros. Se soubermos compreender antes de condenar, estaremos no caminho da humanização das relações humanas”, e está no sentido inverso neste momento, o que favorece a líderes autoritários e aos que desejam que o ódio cresça.

Para sermos solidários com o Outro, que não é nosso espelho, tem que “tomar consciência da incerteza do futuro e de seu destino comum”, a pandemia pode ainda tornar consciente que devemos cuidar do Outro.

O perdão não muda os acontecimentos, mas pode mudar o sentimento em relação a eles, não muda o rumo da história, mas o destino de histórias pessoais e/ou coletivas quando o problema é encarado de frente, superando a ira e o rancor.

Se formos honestos diante do espelho, se formos capazes da autocrítica, como postamos anteriormente, conforme afirma Popper: “A autocrítica é a melhor crítica”, é dela que pode nascer uma crítica com consequências positivas.

 

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