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O que é política ?

13 out

A política tornou-se um imperativo absoluto, mesmo em tempos de pandemia em que a saúde e as questões sanitárias deveriam ocupar o topo das preocupações, elas não cedem, e a polarização já grave a alguns anos torna-se ainda mais dramática, polarizando até temas que deveriam ter unanimidade, como a saúde.

Hannah Arendt tem um ensaio instigante, publicado como obras póstumas, e organizadas e compiladas por Ursula Lutz, e datado de 1950, teve uma publicação no Brasil em 1998.

Preocupada com os dramas de seu tempo, duas guerras, parece apontar também para nosso cenário atual: “o sentido positivo da “coisa política” parte de duas experiências básicas de nosso século, que ofuscaram esse sentido e transformaram-no em seu oposto: o surgimento de sistemas totalitários na forma do nazismo e do comunismo, e o fato de que hoje em dia a política dispõe de meios técnicos, na forma da bomba atômica, para exterminar a Humanidade e, com ela, toda espécie de política”, descreveu o prefaciador Kurt Sontheimer,  da versão alemã de 1992.

Arendt no Fragmento 1, elabora sete pressupostos e discorre sobre eles: 1. A política baseia-se na pluralidade dos homens, 2. A política trata da convivência entre diferentes, 3. Quando se vê na família mais do que a participação, ou seja, a participação ativa na pluralidade, começa-se a bancar Deus, ou seja, a agir como se se pudesse sair, de modo natural, do princípio da diversidade. Ao invés de se gerar um homem, tenta-se criar o homem na imagem de si mesmo (alonguei este de propósito), 4. O homem, tal como a filosofia e a teologia o conhecem, existe — ou se realiza — na política apenas no tocante aos direitos iguais que os mais diferentes garantem a si próprios.

Diria que estes são quase proto-princípios, porém são nos 3 seguintes que fundamenta seu pensamento sobre a filosofia.

O quinto terá subtópicos. A filosofia tem duas boas razões para não se limitar a apenas encontrar o lugar onde surge a política. A primeira é: a) Zoon politikon:* como se no homem houvesse algo político que pertencesse à sua essência, neste a autora contesta Aristóteles dizendo que a política é “entre os homens”, b) A concepção monoteísta de Deus, em cuja imagem o homem deve ter sido criado.

O sexto: torna-se difícil compreender que devemos ser livres de fato num campo, ou seja, nem movidos por nós mesmos nem dependentes do material dado. Só existe liberdade no âmbito particular do conceito intra da política. Nós nos salvamos dessa liberdade justo na “necessidade” da História. Um absurdo abominável.

O sétimo: Pode ser que a tarefa da política seja construir um mundo tão transparente para a verdade como a criação de Deus. No sentido do mito judaico-cristão, isso significaria: ao homem, criado à imagem de Deus, foi dada capacidade genética para organizar os homens à imagem da criação divina. Provavelmente, um absurdo — mas seria a única demonstração e justificativa possível à ideia da lei da Natureza.

É só a partir daí que a autora inicia sua introdução sobre a questão do que é política, em tempos de polarização o tema é urgente.

ARENDT, Hannah, “O que é política” (1950), obras póstumas 1992, compiladas por Ursula Ludz. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1998.

 

 

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