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O animal político: preconceito e juízo

14 out

O argumento de Hannah Arendt sobre o Zoon politikon é fundamental, argumento que se o homem tivesse algo de político que pertencesse à sua essência, não seria algo da relação entre-os-homens, e assim, totalmente fora dos homens, na polis, ou seja, no que Arendt chama de intra-espaço onde a relação se estabelece.

A política é assim uma relação, e que pressupõe a diversidade entre os homens, e assim lembra os nossos preconceitos, uma vez que a maioria de nós não é um político profissional, afirma no fragmento 2: “tais preconceitos, comuns a todos nós, representam algo de político no sentido mais amplo da palavra: não brotam da soberba das pessoas cultas e não são culpados do cinismo delas, que viveram demais e compreenderam de menos.”

Entretanto é evidente que essa justificação do preconceito enquanto medida do juízo dentro da vida cotidiana tem seus limites, é preciso que ele não se transforme num juízo,  assim a opinião (doxa) é matéria-prima da política (e não o conhecimento filosófico, científico ou técnico, a epistem e ou techné) que define a democracia.

Assim é preciso, como o fez Hannah Arendt entrar na questão do preconceito e o juízo, “a periculosidade dos preconceitos reside no fato de neles sempre se ocultar um pedaço do passado”, e dirá ainda mais a frente: “O perigo do preconceito reside no fato de originalmente estar sempre ancorado no passado, quer dizer, muito bem ancorado e, por causa disso, não apenas se antecipa ao juízo e o evita, mas também torna impossível uma experiência verdadeira do presente com o juízo.”

O que acontece se um preconceito torna-se algo imperativo: “Mas é um preconceito em si mesmo o fato de algo imperativo adequar-se ao juízo; os critérios, enquanto duram, jamais podem ser demonstrados de maneira forçada; só lhes serve, sempre, a evidência limitada dos juízos sobre os quais todos concordaram e sobre os quais não se precisa mais brigar nem discutir”, e assim a democracia deve estabelecer os limites entre o juízo e os preconceitos.

O fato é que o preconceito se antecipa ao juízo, por isso a fenomenologia estabelece a necessidade do epoché, justamente a suspensão do juízo em reconhecimento que temos sempre os nossos pré-conceitos (a hermenêutica filosófica a usa no sentido positivo), em geral recorremos ao passado, como explica Arendt, pois a razão é temporal e limitada a épocas históricas, formando em termos apenas quantitativos muitos aspectos da História, nelas o novo é raro e o velho domina a política.

 

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