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A escatologia e o Natal

27 nov

Como síntese ontológica da escatologia que desenvolvemos esta semana neste blog, retomamos Heidegger em seus três conceitos ditos aqui escatológicos.

Cuidado, Heidegger se apropriou da fábula grega na qual Júpiter e Cuidado que está dando forma a argila brigam pelo nome que será dado a figura criada, e chamado Saturno como juiz ele diz que a Júpiter pertencerá o espírito pois foi ele que o deu a forma, enquanto Cuidado terá a terra, já que a formou, e ao Cuidado pertencerá a forma da argila que ele criou, assim cuidar no momento presente.

Impessoalidade é aquela na qual ela rompe a relação com o mundo, e torna o indivíduo isolado, “fora das relações de familiaridade com o mundo” e assim quase sempre na ausência do outro. ela rompe esta relação, e faz o indivíduo isolado “cair fora das relações de familiaridade com o mundo” diz Heidegger.

Silêncio é aspecto final desta escatologia, é invocado quando o indivíduo já descobriu o si-mesmo, e volta ao mundo agora senhor de si próprio, assim é o retorno da paz e da relação harmoniosa com mundo, ainda que ele esteja em conflito, ou em uma de suas mortes.

O Natal não só não é comemorado por muitos cristãos de diversas seitas, embora curiosamente espera a nova vinda, que é a parusia e também ela é comemorada nas primeiras semanas do Natal, o tempo do advento, porém esta é a separação de que falamos do Ser da vida e o ser-para-a-morte.

Não estão desligados é nele que se desenvolve a morte, a ressurreição da vida e a nova vinda, ou um novo tempo, ou aquilo que acontece depois de uma pequena ou grande tragédia, penso que é verdade que vivemos um tempo assim, porém a escatologia que pretende negar a morte é ela própria a morte.

A necessidade urgente de mudanças na vida humana do planeta, no respeito ao próprio planeta, ao Outro que não é nosso espelho, não é da “nossa turma” é cada vez mais uma exigência de mudança, de morte de um sistema velho e o renascer numa nova perspectiva civilizatória.

E se esse tempo vier, esse fim escatológico qual é a recomendação bíblica para os que creem, é aquela que está em Marcos (Mc 13,33-34): “33“Cuidado! Ficai atentos, porque não sabeis quando chegará o momento. 34É como um homem que, ao partir para o estrangeiro, deixou sua casa sob a responsabilidade de seus empregados, distribuindo a cada um sua tarefa. E mandou o porteiro ficar vigiando”, assim mesmo que este tempo venha ou não “vigiai”.

Enquanto para o cristão deve significar uma eterna parusia, ou seja espera de um nova vinda, para os não cristãos deve ser estar atento a um novo tempo, a uma retomada de valores sociais, ecológicos e humanos que estão abandonados, em crise ou quase sucumbidos numa civilização em crise.  

Um Natal sem grandes festas e consumismos deverá ser um Natal mais próximo de seu sentido, o Natal do Cuidado, da Impessoalidade (o respeito ao Outro) e do Silêncio, é uma escatologia quase perfeita, pois ela seria se de fato pudéssemos sentir a volta de um verdadeiro tempo de salvação.

 

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