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Ideia e metáfora viva

29 jan

A hermenêutica desenvolvida em “Metáfora viva” é um polo avançado da fenomenologia visto como um método de interpretação necessário à vida do pensamento, que tem seu próprio nível de discurso, refundando o eidos que veio dos gregos, dando a ele o que foi chamado de “ideologia do inefável”, não do inatingível no pensamento e sim o que está posto a consciência e não dito.

A metáfora viva começa onde termina a linguística, é assim uma fusão entre ambas e quase um complemento, não o é apenas porque não há corrente linguística que o admita, se entendemos que o significado é um problema central para a linguística esta ultrapassagem da metáfora viva é melhor compreendida como a possibilidade de múltiplas interpretações pelo interprete.

A definição dos gregos de metáfora, nos estudos de poética e de retórica de Aristóteles, a metáfora é vista a partir da interpretação semântica, onde a palavra ou o nome são unidades básicas entre a poética e a retórica, enquanto a segunda é voltada a mimese ou arte de imitar as ações humanas (é um reducionismo ver a metáfora apenas como isto), a segunda é a arte de persuadir, onde é possível perceber que um belo discurso é mais convincente que um discurso lógico e claro.

A grande contribuição de Ricoeur será a partir da semântica da palavra isolada, ligada à teoria da substituição e à noção linguística do que é “código”, uma semântica do discurso entendido como totalidade, ele considera que o ato da fala no sentido filosófico-especulativo é diferente de outros atos discursivos, como o poético, o religioso e mesmo o científico, onde a origem grega é aquela que predispõe a noção de “ser” à sua vocação filosófica, pode ir assim desde uma ontoteologia até uma nova ontologia a partir da dinâmica do significado de “dizer-como” que é uma ontologia implícita no enunciado metafórico, nele o “ser-como” significa “ser e não ser”, a nova ontologia.

A metáfora viva não é tão complexa quanto sua explicação, significa que é possível a partir da metáfora dar significação ao “inefável” mesmo como metáfora, pela “vida” nele inserida.

As parábolas se aproximam das metáforas, porque ambas querem explicar verdades complexas.

O recurso de parábolas na Bíblia em lições que Jesus procurava explicar a pessoas mais simples as coisas mais complexas, o eidos Deus é algo complexo, é similar ao uso da metáfora viva, por exemplo, ao explicar o que é a palavra semeada entre as pessoas que desejavam conhecer o divino, é usada a parábola do semeador, a semente semeada em solo bom, no meio de espinhos, em terreno pedregoso e solo pouco fértil (Mc 4,26-34). (na imagem O semeador de Van Gogh)

Não há determinismos bíblicos, como ser todos os solos são possíveis, o que acontece de um solo ser melhor ou pior para uma semente depende de como ela cai no entendimento de cada pessoa, assim sujeita a interpretação.

Bíblia. Evangelho de Marcos.

RICOEUR, P. Metáfora Viva. São Paulo. Ed. Loyola. 2000.

 

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