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A pandemia, o deserto e as tentações

19 fev

A pandemia nos colocou em xeque quanto as normas de conduta de nossas vidas, primeiro a ideia primária (mas muito usada) que podemos fazer tudo o que queremos se estiver ao nosso alcance, a segunda é imaginar a onipotência humana no caso da medicina humana para enfrentar qualquer dificuldade que nos impõe, e a terceira o jogo bruto do poder, que esquece os que sofrem.

As tentações não são um problema apenas religioso, também elas existem no plano espiritual (a onipotência humana acima dos mistérios divinos), mas é também um problema social, queremos beber, sair de casa, ir aos shoppings enfim desfrutar dos benefícios sociais, e poucas vezes nos lembramos que eles não são acessíveis a todos, e que seu uso também deveria ser moderado.

O isolamento nos propôs um modo de vida mais restrito, uma maior convivência com aqueles que nos são mais próximos, mas também ao sair para alguma atividade lembrar dos que estão por obrigatoriedade enfrentando a pandemia: as pessoas da área da saúde, as pessoas responsáveis pelo abastecimento de gêneros alimentícios (lembrando dos que não os tem em quantidade necessária) e também as pessoas responsáveis pela segurança e serviços essenciais (são muitos, mas a polêmica aqui pode ficar de lado).

Temos que enfrentar um deserto próprio, o isolamento nos obriga, a enfrentarmos primeiro os nossos próprios limites, aceitá-los, não ter receio de solicitar ajuda nas questões necessárias para a nossa sobrevivência: o deserto, o silêncio, o refletir, o saber recolher-se é também um exercício.

Há uma tentação mais usual que é a de poder, somente a nossa ideia e os nossos conceitos são os que devem ser aceitos, e também a luta pelo poder numa polarização social crescente onde pouco ou quase nada se dialoga, apontamos neste blog está escalada que está agora num cume delicado.

A receita cristã para o poder é muito simples, além de valorizar a humildade e a escuta respeitosa do Outro, prestar culto e chamar de mestre somente o seu Deus, e seu filho único: Jesus, sem isto a luta pelo poder é crescente e pode levar a guerras e convulsões sociais.

Antes de começar sua vida pública Jesus foi ao deserto para enfrentar as suas fragilidades humanas (Mc 1,12-13), foi a sua grande ascese, os judeus acreditavam que no deserto vivia um espírito maligno chamado Azazel (Lev. 16 e Tb 8,3), porém uma leitura contemporânea, a pandemia é uma oportunidade, ainda que forçada e não seja exatamente um bem, é uma doença grave, o deserto que cada um teve que enfrentar pode ser uma ascese.

 
 

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