A linguagem além da lógica.
Em toda história da filosofia e mesmo da ciência há três conceitos que ultrapassam em muitos aspectos os conceitos da lógica, entre eles, a verdade o bem e a justiça são os mais comuns, já em
Platão vão além de serem princípios lógicos, eles encarnam princípios cosmológicos e como tais devem recorrer a metafísica, analogia e a metáfora.
Assim, no Livro VI da República, a grande analogia metafísica recai sobre a ideia do bem, homônima da justiça e da verdade: o sol é filho e progênie do próprio bem, e ainda é o seu análogo visível, ali é colocado em sombras das formas na caverna, o contraste com o mundo real e perfeito das formas e a analogia do sol para “clarear” os objetos.
Na ausência do conhecimento, confundem meras sombras com a realidade, e a filosofia é para Platão a ponte pedagógica que serve para passar da completa obscuridade para a luz do conhecimento.
O uso da linguagem pode ser também apenas lógico, na década de 1930, Wittgenstein dizia que como sabemos que na linguagem só há proposições, e surpresas só ocorrem no mundo, então não há surpresas em matemática: a matemática é totalmente “gramatical”, dir-se-ia hoje é apenas sintática.
No contexto da semântica, e da significação, a linguagem adquire outras propriedades e nelas que a metáfora faz sentido, ao dizer José é bravo como um leão, a analogia serve para aumentar o que significa bravo dando-lhe nova semântica à sintaxe: José é muito bravo.
Mas a metáfora é também contextual, o belo poema de Fernando Pessoa “O poeta é um fingidor“ só é compreendido se sabemos que “comboio de corda” refere-se a uma brincadeira de criança nas décadas de 20 e 30 do século passado e que “calhas de roda” referem-se aos trilhos, ali:
E assim nas calhas da roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama o coração.
Há ainda a penetração da metáfora no mistério, o inefável como já postamos, e poder afirmá-lo.
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