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Escutatória e a crise do pensamento

03 set

Quando só o discurso fundamentalista e ideológico tem espaço é porque ouvir o outro lado tornou-se difícil, entender que a realidade é múltipla e complexa, que não haverá um futuro monocromático que seja sustentável, é fundamental para um mundo novo que seja sustentável.

Também a compreensão da realidade, além dos fatos e da visão de mundo de cada grupo social e cultural, só pode ser ampliada num contexto de convívio e escuta respeitosa.

A exigência de isolamento em função da pandemia poderia ter auxiliado uma maior coesão e solidariedade social, até existiu em alguns grupos e pessoas, porém o isolamento radical de muitos grupos em torno da autorreferência e do reforço de posições grupais aumentou.

Percebem a realidade apenas por um angulo de visão, mundos fechados, mais isolamento e consequentemente mais injustiça, além da social, aquela existencial que isola grupos e pessoas, que repetem discursos e narrativas apenas para justificar formas sutis de poder, é a chamada psicopolítica (nome dado por Byung Chul Han), incapazes de abrir a visão.

É preciso quase um milagre, talvez a flexibilização da pandemia ajude, mas por hora o que se vê são grupos estremados em busca de consolidação do poder, ou sua tomada.

A passagem bíblica que impressionava até mesmo fariseus, era aquela que Jesus curava cegos e surdos, uma metáfora clara para que os grupos aferrados a sua visão (política e religiosa) pudessem entender através da metáfora a necessidade de abrir os ouvidos.

Diz a passagem de Marcos (Mc 7: 31-34): “Trouxeram então um homem surdo, que falava com dificuldade, e pediram que Jesus lhe impusesse a mão. Jesus afastou-se com o homem, para fora da multidão; em seguida, colocou os dedos nos seus ouvidos, cuspiu e com a saliva tocou a língua dele. Olhando para o céu, suspirou e disse: “Efatá!”, que quer dizer: “Abre-te!”.

Mais que ouvir é preciso escutar, mas que ver é preciso ampliar o campo de visão.

 

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