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O Ser e a contemplação

16 jun

O pensador Byung-Chul Han desenvolveu os temas de Hannah Arendt Vita Activa e Vita Contemplativa em seu livro “A sociedade do Cansaço”, onde revela que “a perda da capacidade contemplativa está em correspondência com a absolutização da vita activa – que leva em grande medida à histeria e ao nervosismo da sociedade moderna da acção” (Han, 2015), e esta leva ao cansaço, a depressão, a auto-exploração e ao esgotamento.

Segundo o pensador coreano-alemão, a vida atual levou ao “imperativo do trabalho, que degrada a pessoa em animal laborans”, que lhe faz perder o “mundo” e o “tempo”, para revitalizar uma nova contemplação é necessário que acolha de novo “a vita contemplativa em seu seio” e “volte a pôr-se ao seu serviço” (O Aroma do tempo. Um ensaio filosófico sobre a arte da demora, 2009).

Apesar desta perda há na civilização ocidental um renovado interesse pela espiritualidade, porém não considera mais importante as religiões tradicionais, que ocorre na esfera de um fenômeno chamado de “mindfulness”, ligado as neurociências e nos cuidados da saúde, educação e negócios.

Não há nesta relação um significado mais profundo que alcance o divino, o sobre-humano ou o além-do-humano, se volta para aquilo que Peter Sloterdijk chama de “a sociedade de exercícios”, sem a possibilidade de uma verdadeira espiritualidade, ou uma ascese desespiritualizada.

Hannah Arendt havia tocado levemente o problema, deve-se lembrar que sua tese foi sobre “O amor em Santo Agostinho”, já Byung-Chul Han, como seria próprio, vai por um caminho mais oriental, porém a elevação “da alma”, que sem a ajuda do divino o faz sem sucesso, fica oculta.

“Com o título Vita contemplativa não deveria ser reconjurado aquele mundo no qual esta estava alocada originariamente. Ela está ligada com aquela experiencia de ser, segundo a qual o belo e o perfeito e Imutavel e Imperecivel e se retrai a todo e qualquer lançar mão humano” (HAN, p. 35), embora para o autor a capacidade contemplativa não está necessariamente ligada ao Ser imperecível.” (HAN, pg. 36).

O conceito do que é alma foi tratado por São Justino, no século II da era cristã, antes de tornar-se cristão ele se aproximara dos estoicos, mas estes não consideravam importante conhecer a Deus, depois aproximou-se dos Pitagóricos e devia se dedicar aos números e a música, e finalmente foi aos discípulos de Platão que pensavam tanto nas coisas corpóreas como nas ideias, mas o problema chave que o distanciou foi a questão da “alma” e está no seu “Diálogo com Trifão”.

Para os cristãos mais antigos (católicos, ortodoxos e orientais) a Adoração Eucarística é a maior contemplação, porque Deus se faz um pedaço de pão, uma hóstia consagrada.

Han, Byung-Chul Sociedade do cansaço. tradução de Enio Paulo Giachini. – Petrópolis, RJ: Vozes, 2015.

 

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