Preocupações demográficas ou crise cultural
O Capítulo 2 do livro de Dalrymple faz a análise da questão demográfica na Europa, os europeus de origem estão envelhecendo, enquanto africanos e muçulmanos que tem mais filhos crescem e também a questão de fundo religioso e cultural aparece, índices atrasados de 2004 (o livro é de 2010 no original) dados são, de crescimento em média:’
“Irlanda (1,99), França (1,90), Noruega (1,91), Suécia (1,75), Reino Unido (1,74), Holanda (1.73), Alemanha (1,37), Itália (1,33), Espanha (1,32), Grécia (1,29)” (Dalrymple 2016, p. 28)”, considerando que cada casal deveria ter dois filhos para repor a população, o crescimento não positivo e sim negativo.
Depois de fazer uma análise sobre o poder econômico e o crescimento populacional, citando como exemplos Cingapura e Hong Kong economias bem-sucedidas e com pequena população, a Dinamarca para citar um exemplo europeu e depois compara com a Grã-Bretanha que as colonizou, e a Nigéria com grande população e índices de desenvolvimento pequeno apesar do petróleo, porém a análise econômica não é seu forte.
Depois faz a análise da questão muçulmana, que cresce em toda Europa, mas ao mesmo tempo se seculariza, embora hajam pequenos focos de grupos radicais, que não é diferente neste aspecto dos cristãos, vejam o caso da Irlanda, só por exemplo, depois de uma longa análise da questão da mulher, do fundamentalismo ele finalmente cai na questão filosófica e o papel do relativismo.
Entretanto se fixará nos lógicos, e numa certeza nostalgia do período da Razão da Descartes, uma vez que este tipo específico de racionalismo já está praticamente ultrapassado e já em Kant, muito anteriormente ao nosso período de certa escassez filosófica nova (vamos explorar Sloterdijk e Zizek), já havia feito a “Critica da Razão Pura”, sua obra áurea.
Porém a análise inicial do relativismo é boa, escreveu o autor: “há duas origens do relativismo: abstrata e empírica” (pg. 67), o autor faz uma crítica as avessas uma vez que o empirismo é consequência do racionalismo, sonha com a volta a sua pureza (Volte, Descartes, precisamos de você, um subitem), e no campo do abstracionismo não faz uma crítica ao logicismo, entre suas citações estão Alfred N. Whitehead (do Principia Mathematica, escrito em conjunto com Bertrand Russerl outro lógico também presente em suas citações.
Porém escreve logo de início, uma frase de Whitehead segundo o qual toda a filosofia ocidental não é senão notas de rodapé da filosofia de Platão, porém isto é válido também para o logicismo, outra verdade também dita por Whitehead é “não existem verdades por inteiro: todas as verdades são meias verdades”, entretanto, o logicismo é baseado no binário Falso e Verdadeiro.
Se o empirismo não respondeu totalmente ao racionalismo puro, o abstracionismo também não, e pode-se dizer o abstracionismo puro é exatamente o logicista, já que o neologicismo, por exemplo de Kurt Gödel, admite sua contradição lógico, expressa em seu paradoxo que todo sistema axiomático (lógica formal) ou é completo ou consistente, não podendo ser os dois ao mesmo tempo.
Porém há coisas profundas na sua análise do racionalismo, por exemplo, ao citar Thomas Kuhn e afirmar que a ciência tinha pés “epistemológicos” de barro, Kuhn apelava para o fato “àqueles intelectuais que se sentiam vagamente culpados por nada entenderem de ciência …., mas num nível mais profundo ele apelava àqueles intelectuais que autodepreciação do Ocidente em geral, e da Europa em particular, como motor originador da ciência” …. E assim: “Quanto mais meticulosa fosse a autodepreciação, mais generosa, aberta e progressista seria uma pessoa” (p. 71) e isto está até entre aqueles que idolatram a ciência.
Assim não é conclusão do autor, mas nossa, ele tenta reconstruir este campo moral com “disseminação da dúvida”, “o multiculturalismo do dia a dia” e a “escolha do bem maior”, e cujo ápice é um amor a liberdade (sim ela é importante, mas não tem em si uma ascese moral), ao citar o empiro-anarquismo Shelley feito por Walter Bagehot em Estimations in Criticism: “o amor pela liberdade é peculiarmente natural à simples mente impulsiva [tal como a dele]. Irrita-se com a ideia de uma lei; aprecia imaginar que não precisa dela [….] O governo lhe parece absurdo – um demônio … “ (Dalrymple, 2016, p. 81).
É uma crítica juvenil ao estado, e não entra na discussão de estado forte, mediador ou mínimo, mas tem razão de dizer neste final do capítulo 5: isto que era excepcional na época de Shelley (passagem do sec. XVI paa o séc. XVII) na qual parecem estar presos os pensamentos de nosso tempo (segundo Dalrymple, quase uma norma).
DALRYMPLE, Theodore. A nova síndrome de Vicky: porque os intelectuais europeus se rendem ao barbarismo. Trad. Maurício G. Righi. Brazil, São Paulo: É Realizações, 2016.