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A economia política e a moral

18 jan

O confronto destas ideias estará presente na maioria dos textos que pretendem analisar a conjuntura social mundial, o declínio das grandes nações e impérios, a volta do nacionalismo e do socialismo ao início do século passado e suas principais teses são, conforme explica Slavoj Zizek: a economia política e o Partido da Ordem (Zizek, 2012, pg. 28), que foi  o início da polarização que agora é mundial e extrapolou os limites patrióticos.

Toda sua discussão está entre a “doxa” (apenas para compreensão aquela da orto-doxa) do marxista Frederic Jameson (Valences of the Dialetic) e dos neomarxistas Michael Hardt e Antonio Negri (Multitude) para os quais a evolução do trabalho chamado de imaterial (nomenclatura de Marx para trabalho intelectual) ou trabalho simbólico (nomenclatura para linguistas e semióticos) e que é no fundo aquilo que Kant e depois Hegel chamado de “subjetivo”, que está preso ao dualismo objetivo x subjetivo, ainda que se use incorretamente transcendência para o subjetivo, não há em nenhum deles nada de sobrenatural.

O que Marx difere aponta Zizek: “as determinações ´objetivas´ da realidade social são ao mesmo tempo determinações ´subjetivas´ do pensamento (determinações dos subjeitos presos nesta realidade) e, nesse ponto de indistinção (em que os limites de nosso pensamento, seus impasses e contradições, são ao mesmo tempo os antagonismos da realidade objetiva social em si) …” (Zizek, 2012, p. 10), para resumir e tornar mais claro, na visão de Marx é o “modo de produção”, ou seja, a maneira como os bens materiais são produzidos que determina a subjetividade, assim as une, mas elimina qualquer “transcendência”.

A análise importante da precedência da economia política sobre qualquer moral, que é submetida a ela conforme explicado acima, torna este campo objeto de relativismo moral e também político, onde os fins passam a justificar os meios, mesmo que moralmente injustos pouco importa, porém a análise que grande parte da subjetividade intelectual tornou-se público (prefiro do que transcendência que não é ou mesmo trabalho imaterial, porque o fruto em última instancia é sempre um produto físico, mesmo que seja um livro ou um texto), então por isto a análise de Hardt e Negri fazem sentido, mesmo que todas elas estejam de algum modo vinculadas ao subjetivo de Hegel ou Kant, e em última análise são notas de rodapé de Platão e Aristóteles, como já disseram vários filósofos.

Depois de rever vários conceitos marxistas, como mais-valia (lembro que em Portugal é comum usá-lo como sinônimo de agregar valor aos produtos), sentencia as dificuldades do comunismo de nosso tempo, como as reformas na China de Deng Xiao Ping: “introduzir o capitalismo sem a burguesia (como a nova classe dominante); agora, no entanto, os líderes chineses estão descobrindo de maneira dolorosa que o capitalismo sem uma hierarquia estável … gera uma instabilidade permanente” (Zizek, p. 21), isto dito muito antes da quebra da gigante imobiliária Evergrande, e foi encampada pelo Estado Chinês, contraindo esta crise.

O autor pula a chamada “Industria cultural” descoberta pelos marxistas frankfurtianos em contato com a máquina de marketing americana, mas não deixa de notas a guerra cultural nos países pós-socialistas, ao se perguntar se a economia continua ser a grande referência para a análise política e social, no caso dos países do Leste Europeu: “em que a tensão entre o pseudofolk e o rock no campo da música popular funcionou como um deslocamento de tensão entre a direita nacionalista conservadora e a esquerda liberal” (Zizek, p. 33), no entanto dobra-se a ideia “que a luta cultural não é um fenômeno secundário …” (idem).

Embora reconheça, citando Thomas Frank, que há uma “lacuna entre os interesses econômicos e questões morais” (pg. 36), trata o tema com ironia e fora da questão cultural, da qual é parte inseparável.

ZIZEK, Slavoj. O ano que sonhamos perigosamente. Trad. Rogério  Bettoni. São Paulo: Boitempo, 2012.

 

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