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Sobre a lucidez

14 mar

Já postamos sobre a cegueira, em alguns ensaios (sobre o ensaio de José Saramago que virou filme do brasileiro Fernando Meirelles em 2008) e também fizemos relação com A peste de Albert Camus, fazendo uma relação com a guerra, 3 coisas relacionadas e analisadas foram de nosso tempo (a Pandemia, a cegueira da visão na Pandemia e a Guerra), também postamos a semana passada sobre a clareira.

Agora fazemos o movimento inverso, analisemos a lucidez e o que ela significa na história da humanidade, partindo novamente de Saramago olhemos seu Ensaio sobre a Lucidez, isto porque ele faz um jogo interessante para nosso desenvolvimento aqui, uma alegoria entre claro e escuro.

É importante esta relação porque Saramago recupera elementos do primeiro ensaio da cegueira (a cor branca como símbolo, por exemplo, as personagens e a epidemia de gueira) pode-se dizer que é um prolongamento da primeira narrativa.

A lucidez fala de uma eleição onde dois partidos ficaram com apenas cerca de 8% dos votos, com uma expressiva votação em branco, ao contrário de muitos argumentos sobre esta possível despolitização, Saramago faz um contraponto curioso, ele não viveu a polarização atual:

“… é porque aqueles votos em branco, que vieram desferir um golpe brutal contra anormalidade democrática em que decorria a nossa vida pessoal e colectiva, não caíram das nuvens nem subiram das entranhas da terra, estiveram no bolso de oitenta e três em cada cem eleitores desta cidade, os quais, por sua própria, mas não patriótica mão, os despuseram nas urnas.”

Resolve-se fazer uma pesquisa, mas os 83% não se manifestaram até que uma pessoa resolve enviar uma carta aos líderes, e foi esta carta que deu rumo novo a investigação e por mais resistência que houvesse, o governo não cederia tão fácil, pode-se perceber onde está o problema.

Essa leitura às avessas do nosso cenário político, que não é muito diferente dos EUA e Itália, só para dar dois exemplos, é muito interessante para se compreender a lucidez política, que parece andar na contramão na política contemporânea.

SARAMAGO, J. Ensaio sobre a lucidez”. Ed.: Companhia das Letras, 2004.

 

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