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O que é Amor afinal

07 ago

Num mundo polarizado e agora a beira de guerras regionais e que podem escalar, falar de amor parece algo inócuo e sem reflexo na realidade, mas há boas obras produzidas pela humanidade.

Paul Ricoeur escreveu e já postamos algumas vezes sobre isto o Le socius e le prochain (O sócio e o próximo), separando interesses do amor ao próximo verdadeiro.

Porém a obra de Hannah Arendt ainda que não seja definitiva quanto ao amor, o próprio orientador Karl Jaspers manifestou isto sobre seu doutorado “O conceito de amor em Santo Agostinho” (edição portuguesa Instituto Piaget, 1996) desenvolveu e se apropriou de algumas categorias fundamentais sobre o tema, não estamos falando de amor erótico nem do familiar.

Segundo o autor George McKenna, em resenha de sua tese, Arendt teria tentado incluir em sua “A condição humana” uma revisão, porém não fica muito claro no livro de Arendt, que apesar disto ele tem bom desenvolvimento.

Se pode também manifestar expressão deste amor na literatura grega antiga, como o amor ágape, aquele que se diferencia do eros e do philia nesta literatura, do ponto de vista cristão o melhor desenvolvimento feito é de fato o de Santo Agostinho.

Primeiro porque ele separou este conceito do maniqueísmo bem x mal, dualismo ainda presente em quase toda filosofia ocidental devido ao idealismo e ao puritanismo, depois porque foi de fato arrebatado ao descobrir o amor divino, escreveu: “Tarde te amei, ó beleza tão antiga e tão nova! Tarde demais eu te amei! Eis que habitavas dentro de mim e eu te procurava fora!” (Confissões de Santo Agostinho).

Depois o homem deve amar o seu próximo como criação de Deus: […] o homem ama o mundo como criação de Deus; no mundo a criatura ama o mundo tal como Deus ama. Esta é a realização de uma autonegação em que todo mundo, incluindo você mesmo, simultaneamente recupera sua importância dada por Deus. Esta realização é o amor ao próximo (ARENDT, 1996, p. 93).

O homem pode amar ao próximo como criação ao realizar o retorno à sua origem: “É apenas onde eu pude ter certeza do meu próprio ser que eu posso amar meu vizinho em seu ser verdadeiro, que é em sua criação (createdness).” (ARENDT, 1996, p. 95)

Neste tipo de amor, o homem ama a essência divina que existe em si, no outro, no mundo, o homem “ama Deus neles” (ARENDT, 1996, 95).

Também a leitura bíblica sintetiza a lei e os profetas cristãos assim (Mt 22, 38-40): “Esse é o maior e o primeiro mandamento. O segundo é semelhante a esse: ‘Amarás ao teu próximo como a ti mesmo’. Toda a Lei e os profetas dependem desses dois mandamentos”.

O amor contém todas as virtudes: não se envaidece e não se encoleriza, sabe ver onde se encontram os verdadeiros sinais de felicidade, equilíbrio e esperança, mesmo num mundo conturbado.

ARENDT, Hannah. Love and Saint Augustine. Chicago: University of Chicago Press, 1996.

 

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