Verdade, linguagem e método
A compreensão de qualquer fenômeno passa necessariamente por uma linguagem e um método, a linguagem como meio de comunicação do fenômeno e o método como um caminho estratégico que a verdade pode ser alcançada sobre alguma questão.
Verdade dogmáticas e ideológicas conduziram a narrativas e distorções da realidade, mesmo aquelas que passam pelo imaginário, que não é necessariamente uma inverdade, mas muitas vezes uma analógica ou metáfora para dizer a verdade.
A linguagem como “morada do ser” é para a interpretação fenomenológica e ontológica da verdade, isto é, aquela que passa pela questão do “ser” do “ente” é a base para comunicar a verdade entre fonte e destino, porém não se pode confundi-la com emissor e receptor.
Quando temos um “ente” como meio de comunicação, seja ele analógico ou digital (outra confusão é dar categoria ontológica ao analógico) significa que ele está restrito a ser apenas “um meio” de comunicação, assim ele torna a mensagem codificada em um sinal, por exemplo uma onda acústica analógica (radio fm por exemplo) ou um sinal codificado em zeros e uns, neste caso digital, ambos não podem ser interpretados como “morada do ser”, mas apenas código, isto é, algo mais propício ao ente do que ao ser.
O sinal com vista a diminuição do ruído e autenticidade da mensagem que foi codificada não deve ser confundido com a própria mensagem já que ela provém do Ser e carrega em si não uma lógica, mas uma onto-lógica, ou seja, algo originariamente do Ser.
É nesta ontologia que podemos entender o significado de diálogo, mesmo entre mensagens opostas logicamente, já que ontologicamente elas podem compartilhar uma fusão de horizontes e podem a partir daí criar um método, desenvolvido por Heidegger e formalizado por Hans-Georg Gadamer.
A explicação do círculo hermenêutico em Gadamer é expressa como:
“O círculo não deve ser degradado a círculo vicioso, mesmo que este seja tolerado. Nele vela uma possibilidade positiva do conhecimento mais originário, que, evidentemente, só será compreendido de modo adequado quando a interpretação compreender que sua tarefa primeira, constante e última permanece sendo a de não receber de antemão, por meio de uma ‘feliz ideia’ ou por meio de conceitos populares, nem a posição prévia, nem a visão prévia, mas em assegurar o tema científico na elaboração desses conceitos a partir da coisa mesma”. (GADAMER, 1998, p. 401).
Por isto os estudos de Gadamer, intitulado de Hermenêutica Filosófica, perpassam muitos aspectos peculiares de estudos e escritos, com uma contribuição além da própria Filosofia, da Linguística e, de certo modo, da hermenêutica teológica, de onde partiu os trabalhos e estudos de Schleiermacher que falava de “esferas” e “círculos” em seus estudos sobre hermenêutica.
Somente nesta ideia da fusão de horizontes, de ir além do círculo vicioso é que podemos entender um raciocínio inverso ao de um contra todos, e entender a dialogia entre opostos, “quem não está contra nós, é a nosso favor” (Mc 9,40), diz o evangelista ao explicar o mal menor, é melhor cortar a mão ou o pé que o leva a pecar, do que ser condenado com ele.
GADAMER, Hans-Georg. Verdade e Método: Traços fundamentais de uma hermenêutica filosófica. Tradução de Flávio Paulo Meurer. 2. ed. Petrópolis: Vozes, 1998.