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Belo, Modernidade e Advento

05 Dec

“Quis cantar, cantar
para esquecer
sua vida verdadeira de mentiras
e recordar
sua mentirosa vida de verdades”. “Epitáfio para un poeta” – André Breton (1896-1966)

O homem da caverna primeiro pintou só depois bem depois escreveu, portanto a arte antecede a prosa e até o verso.

Para Platão o belo não era somente o bem, mas também a verdade e a perfeição, tinha uma existência em si mesmo, e estava fora do mundo sensível, ligado ao mundo das ideias, por isto de certa forma dualista entre sentido e objetos.

Para Aristógeles, a arte é uma criação particularmente humana e, como tal, não pode estar num mundo apartado daquilo que é sensível ao homem, mas a propõe ordenada, simétrica e ainda de certa forma enrijecida.

Esta compreensão de ordem, simetria e rigidez das formas cresce no período medieval, e a arte gótica, com inúmeros detalhes e rococós representa o último período desta fase, surge como expressão que Deus não estaria mais isolado e indiferente ao mundo, então toda a realidade tem ligação com a existência de Deus, o divino e o humano se reencontram.

O início da modernidade Kant ao tentar superar definitivamente o primado do sujeito, a subjetividade do belo, separa-o do objeto deslocando definitivamente o centro da existência da Beleza para o objeto ao sujeito, mas separando este daquele e entre os dois lados da equação sujeito versus objeto, construiu a utilidade do objeto ao qual se oporão o impressionismo e o surrealismo.

A arte utilitária cresce romântica e personalista, seus quadros e textos falam de um pretenso “real”.

Para liberar pincéis e penas, o impressionismo vem com luzes, traços e pontilhados que retomam um belo cheio de vida, feito por um grupo de pintores fora dos salões de arte burguês, entre os quais estava Monet, cujo quadro “Impressão, nascer do sol” (1872) é de onde vem o nome da corrente desta arte do século XIX.

Mas a essência do pensamento estético da modernidade continua na oposição entre o “objeto” fruto utilitário do conceito idealista e o “sujeito” fruto do conceito estético para os subjetivistas separado do real, neste contexto a arte digital torna-se virtual, não no conceito da construção da poesis (que autogestionada torna-se auto-poésis) mas um virtual equivocado que se opõe ao real, neste sentido torna-se ilusão, simulacro que para Baudrillard significa “simular é fingir ter o que não se tem”.

Mas Gilles Deleuze aponta para um outra forma de pensar, na qual o simulacro é comparado ao devir e à diferença, a diversidade na qual a multidão com uso de câmeras digitais e Instagram é convidada a compartilhar a arte.

A experiência digital favorece então uma relação estética com o singular, com o diferente, abre as possibilidades de habitar o imaginário num mundo com formas de pensar diferentes, entre culturas, raças, religiões e estéticas autopoiéticas.

Longe e difícil até para o imaginário cristão, três magos do oriente vieram adorar uma criança nascida no estábulo, um verdadeiro “simulacro” divinamente imaginado, um simulacro feito sujeito numa criança, pura imaginação e poesia.

 

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