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Uma felicidade além do eu

30 Mar

Depois de tanto progresso técnico, científico e tecnológico, onde estaria a felicidade humana, Sêneca, pensador do século I da era cristã, apresenta algumas respostas:
“Todos os homens (…) querem viver felizes, mas, para descobrir o que torna a vida feliz, vai-se tentando, pois não é fácil alcançar a felicidade, uma vez que quanto mais a procuramos mais dela nos afastamos. Podemos nos enganar no caminho, tomar a direção errada; quanto maior a pressa, maior a distância”.

Não chega a ser uma resposta, mas há dicas: podemos nos enganar no caminho, então coragem e determinação para retomar a direção certa (ou pelo menos tentar), não ceder a pressa tão típica de nossos dias, não ficar apenas “procurando” pois existem pessoas capazes de nos ouvir e orientar, claro primeiro nossos entes mais próximos e depois aquelas pessoas que pela vida e pela conduta podem nos dizer algo.

Criado numa estrutura do sucesso individual, e do consumismo, a cultura do ter, o homem não tem tempo, paciência e coragem para encontrar-se com o Outro, na filosofia contemporânea isto é aprofundado por Levinas e Martin Buber, que mostra que não basta opor indivíduo a coletivo, mas o Outro, cada homem:
«O fato fundamental da existência humana não é o indivíduo enquanto tal, nem a coletividade enquanto tal. Consideradas em si mesmas, ambas as coisas são abstrações formidáveis. O fato fundamental da existência humana é o homem com o homem. O encontro do homem consigo próprio só pode verificar-se e, ao mesmo tempo, realizar-se como encontro do indivíduo com os seus companheiros». (Martin Buber)

O filósofo Heidegger chamou a atenção para o esquecimento do Ser, em função do Ente (as coisas que existem), mas alguns filósofos atuais chamaram a atenção para a superação da “existência monológica”, individual contrária a dialógica, segundo Martin Buber: “o homem não pode fazer-se inteiramente homem mediante a sua relação consigo próprio, mas somente graças à sua relação com outro homem”.

A existência dialógica: o “estar-a-dois-em-recíproca-presença” realiza-se no modo impar do encontro do homem com o homem, do eu com outrem (tu) e para quem crê o encontro com o Outro (Deus) no rosto do outro (Homem).

Para o filósofo Lévinas é a primazia da relação com o outro e, ao conferir a superioridade ao tu em relação ao eu, é revelada na epifania do rosto.

A ressurreição da Páscoa pode estar além dos ovos e bombons, num feliz encontro com o Outro.

 

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