Cosmogonia, cosmológica e escatologia
Já desenvolvemos aqui a ideia de Kosmos na filosofia grega, que é um tempo que designa todo universo em seu conjunto, mas é também “ordem”, “beleza” e “harmonia” para os gregos, agora com potentes telescópios como o Hubble e o James Webb sabemos que há também um caos e uma desarmonia no universo, mas fica a pergunta mais profunda: como tudo começou?
Cosmogonias são um corpo de doutrinas, desde princípios religiosos e míticos até os científicos que procuram explicar a ordem e o princípio do universo em sua cosmogênese.
Na medida que o homem tornou-se mais sedentário procurou adaptar-se melhor a natureza para satisfazer as necessidades dos animais e plantas, precisando por isto olhar para o céu e entender as estações do ano para controlar melhor as plantações e pastagens para os animais.
Praticamente todas as civilizações (ou era civilizatórias) elaboraram suas cosmogonias, por exemplo, na civilização ocidental o modelo geocêntrico de Ptolomeu (a terra é o centro), passou para o modelo copernicano (o modelo heliocêntrico), agora com a potência do James Webb estamos olhando para as primeiras galáxias e isto é possível por que a luz que chega até nós já viajou vários anos luz, então estamos vendo uma imagem do passado.
Assim nossa visão da cosmogênese vai aos poucos se modificando, no momento por exemplo, o telescópio que trabalha com um espectro diferente da luz, o infravermelho, conseguiu avistar uma galáxia de 400 milhões de anos depois do big bang (se esta teoria estiver certa), o que significa 13,5 bilhões de anos atrás (foto), ou seja, estamos vendo quase nossa cosmogênese.
A cosmologia então se encontra cada vez mais próxima da cosmogênese e isto significaria uma visão das duas, mas ainda faltam as questões essenciais: de onde viemos e para onde vamos?
Falta assim uma visão escatológica, principio e fim, e uma questão já é certa, embora o planeta possa entrar em colapso e com ele nossa civilização, por ação de um cataclismo externo ou uma destruição de artefatos humanos: uma guerra, o próprio perigo de tantas usinas nucleares no planeta, lembremos o incidente de Fukushima em 2011 e Chernobyl, o planeta tem hoje 440 ativas e 23 em construção, além do arsenal militar em diversos países.
Em meio ao vento tempestuoso de nosso tempo, a cosmogonia cristã se ampara e espera na presença divina daquela leitura que diz (Mt 8,27): “Quem é este homem, que até os ventos e o mar lhe obedecem?” quando os apóstolos o acordam na barca por causa do tempo e oceano bravio.
Mercenários, combates intensos e paz dificil
A guerra no leste europeu continua sendo centro de preocupação para a paz mundial, após alguns avanços do exercito ucraniano, a Rússia voltou a avançar no leste em combate descritos como “ferozes” e avanços lentos dos ucranianos no sul, porém são as ameaças em torno maior usina nuclear da Europa, a Zaporizhzhia que ainda preocupam.
Seguem os debates em torno do grupo Wagner, seus reais objetivos e os perigos tanto para os russos como para o ocidente, já que seus métodos e interesses são impiedosos e cruéis, e pensar que poderiam ter acesso ao arsenal nuclear torna o fato ainda mais perigoso.
O papa envio um bispo para conversas com a igreja ortodoxa russa, que pode ser mediadora também, uma vez que tem acesso a Putin e o diálogo religioso entre as igrejas pode favorecer um futuro acordo d paz.
O envolvimento da OTAN e de seus aliados europeus cresce a cada passo novo na guerra, e agora o chanceler russo Lavrov passou a dizer que Zelensky é uma marionete o que acirra o confronto com a Europa e eleva o nível de tensão.
Até o início do outono europeu (primavera aqui o sul do hemisfério) a guerra deve permanecer intensa, mas com poucos avanços de lado a lado, o problema do outono lá e a proximidade do inverno é que se tornam mais estratégicos devido ao clima, a dependência de energia e um crescente aumento de dificuldades de movimentação no solo, até lá é importante alguma estratégia de paz.
O mundo espera por alguma trégua, porém o cenário é cada vez mais complexo, uma vez que o ocidente, através da OTAN se envolve cada vez mais no conflito, enquanto o desprezo e a crueldade russa com a Ucrânia crescem a cada combate uma vez que as perdas de vidas acirram o clima de animosidade e a situação econômica se deteriora.
O mundo e as pessoas de bom senso esperam pela paz, por uma solução negociada e a retomada da vida pacífica na região, que também melhoraria a condição humana no mundo.
Verdade entre a lógica e a onto-lógica
A verdade na construção ontológica dos gregos, existe algo inexorável ao Ser e isto os levava a crer que de alguma forma isto se configurava no num todo cosmológico, o “sumo bem” de Platão ou o “motor imóvel” de Aristóteles, não era apenas realidades físicas, mas também meta-físicas.
O physis para eles era para os filósofos pré-socráticos algo permanente, primário e fundamental e depois ficou elaborado como natureza, que incluía o “cosmos”,
Plotino, um neo-platonico vai estender esta realidade a Alma, que seria uma forma inteligível que pensa no interior do intelecto, no debate atual sobre a consciência em Inteligência Artifical, diríamos que é a sensiência, claro é preciso retomar no contexto de Plotino, afirma ele na Enéada VI, 4:
“E nós, o que somos nós? Somos aquele ou somos o que se associou e existe no tempo? Na verdade, antes de acontecer o nascimento, estávamos lá [no inteligível], sendo outros homens e, alguns, também deuses: almas puras e intelectos unidos à totalidade da essência, partes do inteligível, sem separação, sem divisão, mas sendo do todo (e nem mesmo agora estamos separados).”.
Assim o todo permanece, se não há em Plotino o Deus como conhecem as religiões monoteístas, há a ideia do todo que “se revestiu de nós e acrescentou a si mesmo aquele homem”, na continuidade do texto acima.
Santo Agostinho parte desta ideia para afirmar que a alma é “a presença de Deus no homem, e sua ligação com o Criador, a responsável pela semelhança do homem com Deus”, assim como associa a alma ao Uno, uma categoria também usada por Plotino, e nele o Uno é Deus.
É verdade que a modernidade abandona a ideia de Deus e ao dividir o pensamento em objetivo e subjetivo, torna secundário aquilo que se realiza na mente, no pensamento e na alma, em síntese na noosfera, e isto acontece também com o mundo religioso, conforme postamos ontem não basta dizer “senhor, senhor” é preciso uma ação que corresponda a determinada crença.
Mesmo em seu tempo histórico, para os que creem esta epifania continua, Jesus já perguntava aos seus discípulos “quem dizem os homens ser o filho do homem [eu ser]? ” (Mt 16,13), porque sabia que muito do que é como ser divino e atemporal seria confundido com aspectos terrenos e contextuais apenas, em tempos de crueldades e hostilidades é preciso repensar o que pensamos de eterno, de atemporal e que deixaremos de legado para toda humanidade.
A verdade entre o pensamento e a ação
Toda lógica dos sofistas era uma lógica do poder, a lógica da bajulação, dos interesses ocultos e as vezes até confessos, numa sociedade e num pensamento sem o apreço necessário a verdade são os valores e lógicas do poder, da opressão e da falta de liberdade que funcionam.
Não é falta de quem diga a verdade, mas é sobretudo falta de pensar a fundo, de exercício sincero de escuta e de diálogo, afinal o que o círculo hermenêutico propõe em relação ao texto (fusão dos horizontes) significa reconhecer que todos temos numa etapa anterior os nossos pré-conceitos, nossas crenças, nossa visão política ou social.
Assim é preciso um “método” e ele não pode excluir contra-argumentos, escuta atenta e exame sincero sobre aquilo que temos como “nossa verdade”, quando abrimos espaço ao Outro algo novo quase sempre ocorre, e se não ocorre é porque do outro lado não há a mesma abertura, ainda assim vale a pena ouvir e ponderar.
No campo político a política da polarização é o olho-por-olho, uma procura ironizar e ridicularizar o pensamento oposto, não há possibilidade de fusão de horizontes e nem mesmo um diálogo saudável, o que um cidadão comum vê é o despreparo e a anti-política.
O mesmo vale para o discurso cultural e religioso, posições exacerbadas e fora de controle estão longe de conquistar adeptos, criam mais radicalização e ódio dentro daquilo que pretendem combater, leva-se o processo civilizatório ao limite, e deixa jovens e crianças sem perspectiva de um futuro pleno e pacífico.
No campo religioso é importante lembrar que não é aquele que diz “senhor, senhor” que conquistará a felicidade eterna, mas o que põe em prática aquilo que quase toda religião ou culto propõe, estender a mão ao próximo e não fazer ao Outro aquilo que não quer que faça a si, é uma lógica e uma ética mínima sem a qual nenhuma lei ou culto faz sentido.
Queremos a paz mundial, o respeito aos povos e suas culturas, porém deve-se fazer a lição de casa primeiro.
Verdade e Noosfera
O conceito de Noosfera vem de Volodymyr Vernadsky (1863-1945) depois adotada e desenvolvida por Teilhard de Chardin (1881-1955), é a ideia de uma terceira camada além da Geosfera (camada inanimada) e da Biosfera (vida biológica) que desenvolve o pensamento humano, não apenas do ponto de vista do conhecimento, mas de tudo aquilo que motiva o Ser, as paixões, culturas e decisões que são tomadas e desenvolvem a maneira como nos relacionamos e convivemos em sociedade.
Porém desde que nos organizamos em sociedade o desenvolvimento cultural onde as camadas de estruturas e formas de repasse das culturas acontecem e se desenvolvem já formam uma camada de “pensamento” da sociedade.
Teilhard de Chardin, que além de paleontólogo era um padre jesuíta, elaborou que todo o universo está envolto com esta camada de “pensamento” e que ela está em constante evolução, o que valeu durante muito tempo algumas objeções por parte de religiosos.
Com o olhar no Google e também atentos a “inteligência” de mecanismos como o ChatGPT, o Bard da Google, o Bing da Microsoft e outros, leva necessariamente a uma discussão do que é Inteligência Artificial.
Já indicamos o livro de Jean-Gabriel Ganascia “O mito da singularidade” sobre a falsidade de algumas tecnoprofecias sobre a máquina ultrapassar a inteligência humana, pode-se ver também a recente entrevista de Miguel Nicolelis, um renomado cientista brasileiro, conhecido por suas pesquisas em neurociência.
Assim esta esfera do pensamento vive em constante evolução e as ferramentas e tecnologias são partes subjacentes a esta evolução, entretanto é preciso entender o que de fato elas são e como podem contribuir com a vida no planeta, é a colaboração da noosfera com a biosfera.
A verdade é aquela que se estabelece como realidade diante dos desafios humanos, muitas coisas estão fora do pensamento humano, como cataclismos e eventos em corpos celestes, porém é importante o desenvolvimento saudável desta esfera do pensamento humano.
Para Teilhard de Chardin, também a parte espiritual colabora e participa deste desenvolvimento, para ele todo universo é divino e cristocêntrico, ou seja, uma revelação de amor ao homem e a vida.
Sobre falsas profecias é bom lembrar a passagem de Mt 7,15: “Cuidado com os falsos profetas: Eles vêm até vós vestidos com peles de ovelha, mas por dentro são lobos ferozes”, mas é fácil de reconhece-los alerta a leitura: árvores más dão maus frutos.
Verdades temporais e eternas
A construção da ideia de verdade pelos gregos vem da aletheia, refere-se a automanifestação da realidade e dos seres ao intelecto humano, a palavra significa a-lethea (não oculto, não velado), este verdadeiro ou é evidente ou pode ser construído pela razão.
Essa construção deu origem a “episteme” para se opor a “doxa”, ou mera opinião dos sofistas, mas não perderam de vista o todo, que para Platão era o “sumo bem” e para Aristoteles o “motor Imóvel” e ambas ideias se aproximavam de Deus como é pensado pelos cristãos.
Assim o saber era visto como um todo, e o contingente era visto como acidental, incerto e duvidoso, que ocorre, mas opõe-se a verdade toda.
Aristóteles tinha a clássica diferenciação ontológica entre o contingente e o necessário para o Ser e essa relação antagônica exprime-se numa relação hierárquica entre a techné e a episteme, claro que aqui tem um significado histórico e contingente, mas ajuda a entender a técnica em sua gênese.
A técnica não possui fim em si mesma, ela está atrelada a finalidade humana, e por isso não é neutra, é instrumental e serve aos propósitos humanos.
Damos um salto para ao final da baixa idade média, em seu período pouco estudado e compreendido com a querela dos universais de Boécio (480- 524 d.C.) e estudos da linguagem do monge Alcuíno (735 –804 d.C.).
Boécio escreveu “A consolação da filosofia” porém é um fragmento de seus escritos que lhe deu fama, encontra-se na querela dos universais, a questão de saber se os universais são coisas ou meramente palavras, isto dará origem ao debate entre realistas e nominalistas até o final da ideia média, onde a ideia de verdade vai substituir o Eidos grego que significa cada Ser tem uma essência.
Em seu desenvolvimento ontológico Tomás de Aquino (1225-1274), explica assim Deus como ser necessário: “ser necessário é o ser que deve existir, que não pode não existir”, deste modo o argumento pode ser reescrito como: “A proposição ‘Deus existe’ é necessária” ou simplesmente “Deus é” puro Ser.
Mas a modernidade rompeu com a ontologia até a retomada de Hidegger.
Esta ruptura aprofundou-se na razão cartesiana, mediata pela física clássica e o fim da metafísica, unida a ideia de um saber universal abstrato e idealista.
A critica da razão pura de Kant (1724-1804), e o idealismo alemão com o ápice em Hegel (1770-1831) dão o contorno final a uma verdade abstrata e idealista, o alcance da cultura greco-cristão ocidental encontra seu fim e a verdade torna-se relativa, a episteme apenas um método de verdade neutra.
Tensão interna na Rússia e a Paz
No sábado (24/06) aconteceu um levante de tropas aliadas ao grupo mercenário Wagner, de Yevgeny Prigozhin, dono de restaurantes empresas de catering na Rússia, chamado de “Chef de Putin”, mas ele próprio gostaria de ser chamado de açougueiro pela crueldade de suas tropas.
Partindo da cidade estratégia militar de Rostov on-Don no sul da Rússia e próximo ao Mar Negro, portando perto da costa onde a Rússia invadiu o território da Ucrânia, após a tomada da base militar russa, o grupo caminhou em direção a Moscou e em poucas horas estava apenas a 200 km em Moscou, que já havia tomado providencias com barricadas e até houve uma explosão em tanques de petróleo, em Voronezh, próximo a Moscou (foto).
Também foi registrado o abate de pelo menos 6 aeronaves e um helicóptero, entretanto a entrada em Moscou não seria pacífica e outras bases viriam para combater o grupo rebelde, Putin considerou uma “punhalada pelas costas” e inicialmente condenou Prigozhin e seus aliados ordenando que fossem capturados e chegou a dar uma declaração em rede estatal.
Como intervenção do presidente da Bielorrússia Aleksandr Lukashenko foi feita uma negociação, cujos termos não são claros, porém que isenta Prigozhin e seus aliados de qualquer culpa e foi oferecido asilo político na Bielorrússia, e as tropas recuaram pra evitar “um banho de sangue” e na noite de sábado a rebelião já havia recuado as bases de Rostov on-Don.
Foi visto um avião presidencial russo indo em direção ao norte, mas a informação local é que Putin não estaria a bordo, houveram diversas análises e teorias da conspiração, mas o abate de aeronaves e exílio e acordo com Prigozhin demonstram uma fragilidade interna de Putin.
É bom pensar que uma eventual tomada de poder de Prigozhin é mais perigosa que a própria guerra travada por Putin, uma vez que teria um enorme arsenal bélico nuclear em suas mãos.
Em meio a uma contraofensiva da Ucrânia tudo isto significa mais guerra e distancia a paz.
Faltam pacifistas sinceros que não sejam aliados de ditadores e cruéis mercenários, mas temos esperança que ela virá se corações e mentes se desarmarem.
Revelação e desvelamento
Enquanto na filosofia, o desvelamento é a clareza atingida pela inteligibilidade metafísica ou ontológica, que não se restringe só pelos aspectos materiais, empíricos ou quantitativos da realidade, o desvelamento na teologia é a revelação e inteligibilidade pela fé.
Ambas buscam o conhecimento do todo, desde seu aspecto originário, passando pelos meios (os caminhos e métodos que propõe) até entender racionalmente ou pela “revelação” do conhecimento harmônico (elucidação) das verdades divinas ou aquelas contidas nas Escrituras (justificação).
Assim a Teologia, enquanto é o estudo que representa um esforço da razão (e também da espiritualidade) para maior compreensão daquilo que está dito por meio das Escrituras, porém é sempre re-velação porque o conhecimento divino é infinito, enquanto o humano é finito.
Assim a palavra des-velar (tirar o véu) é adequada ao esforço racional, porém sem o recurso da metafísica e da ontologia fica presa à re-velação, que é o conhecimento racional pragmático.
O esforço de compreender os novos dados do telescópio James Webb por exemplo, já está dando aos físicos e astrofísicos novas compreensões do universo, porém é cada vez mais difícil entender qual o momento inicial ou qual a substância inicial que ele se formou, a resposta parece ir para além de seus limites ao conduzir as hipóteses: sem este lá e não há início ou há outros multiversos além do nosso universo.
Assim o des-velar é aquele conhecimento que vai em direção à essência do que somos e para onde nos dirigimos e que leis ético-metafísicas nos governam e deveríamos obedecê-las.
Pois o des-velar pode nos indicar que mais que uma substância inicial (uma mónada primordial ou uma energia cósmica inicial) e que pode haver um Ser e uma intenção na criação.
Se o olho é a lâmpada de nosso corpo e nos re-vela a realidade, devemos ir além dela para des-velar os segredos da eternidade, pois o nosso conhecimento é limitado.
Esta sabedoria é aquela que afirma, na leitura bíblica que nós sabemos até quanto valem dois pardais, mas o divino (Mt 10,31-32): “Quanto a vós, até os cabelos da vossa cabeça estão contados. Não tenhais medo! Vós valeis mais do que muitos pardais.”
Há uma onisciência divina e mesmo que caminhemos por veredas o processo civilizatório prosseguirá.
Entre a retórica e o discurso
Predominava até o início do século passado o discurso lógico-idealista que ainda faz parte de boa parte da narrativa contemporânea, mas boa parte está agora esfacelada por narrativas contraditórios e de coesão psicopolítica ou ideológica.
Os gregos a partir da oposição aos sofistas, em especial Aristoteles divida os discursos em 4 tipos: poético, retórico, dialético e analítico.
O poético está relacionado as possibilidades da imaginação, sonha com possibilidades e não é nem irreal e nem delírio, podendo ser utópico no melhor sentido da palavra.
O retórico lida com o mundo do diálogo, usa de modos de persuasão, porém supõe-se que seja fundado em crenças comuns, crenças imaginárias e distópicas de nosso tempo não pode ser confundido com ele, pode ser eloquente, mas não retórico.
Também o dialético aquele que lida com o provável, definir erros e verdades com maior ou menor probabilidade segundo exigência da razão, mas submete-se as crenças à prova mediante ensaios e tentativas de transpassar as objeções, buscndo a verdade entre os erros e os erros entre as verdades.
Por fim o analítico, lida com as certezas e demonstrações certas, partindo de premissas e demonstra a veracidade das conclusões e de forma apodítica a verdade, o debate dialético que supõe Hegel e o idealismo não é apodítico, opõe-se mais como crença do que como verdade.
Poucas palavras, vindas do coração e do sentimento, como exige a poética, de retórica tolerante e respeitosa, de dialética grega que fogem do casuísmo e da dogmática e finalmente de verdadeira fundação apodítica, aqueles que possuem asserções categóricas sobre certo e errado, honesto e desonesto, longe do discurso sofista e vazio.
Se discursar fale com clareza e empatia, se orar fale com o coração e poucas palavras e se pensar olhe antes pelo positivo, generoso e sadio.
Pura retórica não é discurso, nem diálogo nem oração é apenas proselitismo pessoal.
Vaidosos e humildes
A palavra vaidade tem sua origem no termo latino, vanus, que quer dizer vão, vazio.
Em geral, diz-se que o contrário de vaidade é modéstia, simplicidade, porém é confundir vaidoso com orgulhoso, o orgulho imagina que todos depende de sua presença e qualidades, porém o vaidoso precisa de bajuladores e subservientes.
Prefiro dizer que o contrário de vaidade é humildade, que vem de húmus, adubo do qual brota a fertilidade, o humilde sabe de suas deficiências e por isto cresce em sua pequenez e atinge mais sabedoria que o vaidoso que tem dificuldade de ver suas limitações.
A razão da confusão da palavra humildade é que existe um superlativo absoluto sintético que é humílimo, este sim indica condição baixa, obscuridade e pobreza, mas veja é seu superlativo, ou seu exagero, o humilde sabe que tem também qualidades.
Sempre é possível a correção mútua para o crescimento, o vaidoso não sabe disto, como diz Exupéry: “mas o vaidoso não ouvi. Os vaidosos só ouvem elogios”.
Por isto o vaidoso, próprio de nosso tempo, gosta do consumo da liberdade plena sem restrições, Byung-Chul Han em sua análise do poder psicopolítico afirma: “Hoje, o poder assume cada vez mais uma forma permissiva. Em sua permissividade, ou melhor, em sua afabilidade, o poder põe de lado sua negatividade e se passa por liberdade.”
A fácil reconhecer os vaidosos: gostam de sentar na primeira fila, são sempre arrogantes em suas verdades e posições, não olham para o Outro e para o lado, e no caso das religiões acham-se santos, privilegiados ou unicamente amados pelo divino.
Qualquer literatura cultural ou religiosa demonstra que isto é uma fonte de erros e uma estagnação no desenvolvimento das pessoas e da sociedade, é o inverso do processo civilizatório, pois é a incapacidade de corrigir rotas e erros.