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Espírito o que é

23 mai

Na origem grega a palavra é pneuma significando “sopro, vendo, ar” em tradução para o religioso “sopro divino, espírito” ou “Espírito Santo”, em análise ao tema que desenvolvemos no tópico anterior significa uma consequência da verdadeira ascese, uma “assistência” do Espírito Santo às questões cotidianas.

Na tradução hebraica a palavra é “ruah” (ou ruach), significando algo parecido “hálito, ar”, porém se distancia da ideia cristã de Espirito Santo como pessoa.

A palavra hebraica ruah tem também significado de “brisa” ou “sopro”, em Genesis por exemplo: “Entraram para junto de Noé na arca, dois a dois de toda a carne em que havia espírito de vida”, em hebraico.

A palavra hebraica ruach tem também significado de “brisa” ou “sopro”, em Genesis por exemplo: “E de toda a carne, em que havia espírito de vida, entraram de dois em dois para Noé na arca”, a tradução neste caso é c Isto parece deslocado da filosofia ou mesmo das ideias contemporâneas, porém desde os gregos: Platão, Plotino e mais recentemente os hegelianos exploraram diversos sentidos próximos a este de espírito absoluto, da verdade ou da vida.como “espírito de vida”, porém a palavra hebraica “ruach” é mais que isto.

Este espírito que é o Sumo bem de Platão e Aristóteles, se articulará na filosofia medieval e chegará a filosofia prática de Kant, para descrever o bem maior que o ser humano deve buscar, mas neste caso se confunde com a Eudaimonia que significa ética da felicidade (em certo sentido nem sempre “supremo”).

Platino (205-207 d.C.) é particularmente importante por ter recebido influência de Platão e ter influenciado por seu livro Enéadas: cristãos, islâmicos, judeus e gnósticos, sua influência particularmente em Agostinho de Hipona é bastante forte, sobre a natureza do Intelecto e sobre o “além do Intelecto”, ou seja, o Uno, embora possa ser classificado como tendo um pensamento metafísico é na articulação do intelecto com a alma, onde o Uno pode englobar os dois.

Esta ideia foi desenvolvida em Agostinho de Hipona para o qual é a separação dicotômica entre o bem e o mal (Agostinho fora um maniqueísta) que faz o intelecto distanciar-se da alma, assim levanta questão como o sumo Bem, consentiria a manifestação prevalecente do mal no mundo? O que justificaria o episódio da Queda do casal primordial? A resposta de Agostinho é pela insuficiência do bem, ou seja, a ausência do bem dá origem ao mal.

Assim parece mais correto em sentido mais amplo, a ideia de Espírito da Verdade, da Sabedoria e uma categoria “superior” ao mundo da substancialidade.

 

Reunião do G7 e avanço russo

22 mai

Reunidos em Hiroshima realizou-se a reunião do G7: Estados Unidos, Reino Unido, Canadá, Itália, Japão, França e Alemanha, para o qual foram convidados alguns países entre eles Brasil, a Austrália, a Índia, Indonésia, Coréia do Sul, Vietnã, Ilhas Cook (presidente do Fórum das Ilhas do Pacífico) e Comores (presidente da União Africana), a presença de Zelensky foi como convidado especial.

Os países reafirmaram o apoio a Ucrânia condenando a invasão, mas a esperada reunião de Zelensky com o presidente do Brasil Luís Inácio Lula da Silva não aconteceu, de concreto sobre a guerra apenas o apoio americano prometendo mais financiamento para as armas.

No campo de batalha, a Rússia registrou avanço em Bakhmut com apoio do grupo mercenário Wagner, que foram elogiados por Putin, porém a tomada real da região ainda é polêmica, a Ucrânia afirma que ainda há batalhas nos arredores, enfim a guerra continuará e não s e sabe de fato os limites que ainda terá.

Os ucranianos haviam comemorado a intercepção dos temíveis mísseis hipersônicos, sendo que apenas um atingiu o solo do país, ainda é incerta que tipo de contraofensiva será feito, a batalha de Bakhmut pode ser apenas uma isca já mordida pela Rússia, os caças e tanques poderosos ainda não foram usados.

O que preocupa é tanto do lado russo quanto do lado ucraniano há um perigo real de uso de armas químicas e até nucleares, Zelensky disse que ganharia a guerra antes “daquele acontecimento” e do lado russo se fala abertamente da batalha de Armagedon, a Rússia condenou a entrega de caças à Ucrânia.

No campo diplomático poucos avanços, a Rússia quer os territórios que já conquistou, incluindo Mariupol e uma faixa do leste da Ucrânia, além da Criméia que já é considerada território sob administração russa desde 2014.

Os mísseis hipersónicos com cargas nucleares, o maior recrutamento de efetivos do exército, a segurança alimentar e o alinhamento da China preocupam.

O cenário ainda é de guerra e não houve uma proposta mais enfática para a paz, o mundo segue com temores de uma guerra mais ampla.

 

A ascensão em corpo e alma

19 mai

Tanto a ascese humana quanto a espiritual são uma questão a ser respondida pela existência humana, a humana porque implica em avançar para estágios superiores da vida, as fotos da atual guerra no leste europeu nos indagam (que ganharam o prêmio Pulitzer) se estamos caminhando para isto, a espiritual seja a visão grega, a idealista ou a religiosa mostram que há uma questão.

Para ambas a resposta não é simples, senão em milhares de anos de processo civilizatório a humanidade já teria respondido, a questão que se põe para os dias atuais é como uma pode (e deve) cooperar com a outra, a questão de fundo é que tipo de espiritualidade faz esta cooperação ser produtiva.

O lema latino “mens sana in corpore sano” que é do poeta romano Juvenal, do primeiro século da era cristã, indica uma precedência da mente, entretanto a mente assim como o corpo também envelhece e morre, o que separa a ideia de mente de alma, porem somente uma ascese espiritual que não limite a vida a sua finitude corporal pode admitir esta imortalidade. 

A alma também não é tema específico do cristianismo e outras religiões abrâmicas (o islamismo e o judaísmo), também filósofos gregos especularam sobre a alma e as religiões orientais que admitem a reencarnação (no sentido filosófico seria a resubstânciação ou a recorporificação) também não veem a finitude da vida.

Também na filosofia contemporânea as especulações da coisificação (ou reificação, res – coisa) no sentido da finitude.

No modo de ver cristão subsiste uma certa visão de separação de corpo e alma, porém um leitura mais profunda mostra que o corpo pode também ser vivificado pela alma, e a prova bíblica para isto são tanto as diversas aparições de Jesus vivo após a sua morte e ressurreição, onde até come pão e peixe, como a festa máxima de sua ascensão.

A cena bíblica cristã que está descrita no Atos dos Apóstolos 1, 9-10 é descrita assim: “Depois de dizer isso, Jesus foi elevado aos céus, a vista deles. Uma nuvem os encobriu, de forma que seus olhos não podiam mais vê-lo. Os apóstolos continuavam olhando para o céu, enquanto Jesus subia.”

Aos que não creem na possibilidade desta vida após a morte, só lhes resta consumir a vida e isto pode impedir também uma ascese humana.

 

 

Ascese e o dualismo entre corpo e alma

18 mai

Já na filosofia grega, a autodisciplina e o autocontrole do corpo e da mente (ou da alma) acompanhavam a ascese assim como a busca da verdade.

Esta busca e sua correspondente ascese está em toda a filosofia e até na literatura, é da peça Hamlet de Shakespeare “há mais coisas entre o céu e a terra que supõe a vá filosofia”, mas é da mesma peça “Ser ou não ser, eis a questão” que remete a ontologia.

Freud também dizia que a principal tarefa de uma existência é compreender a mente, na filosofia contemporânea há o clássico dilema da separação de corpo e mente (ou alma), até Marx se propunha a inverter o caminho de Hegel “da terra para o céu”, claro o céu hegeliano.

O certo é que o processo civilizatório depende de ascese, dos homens como comunidade e dos homens individualmente porque senão não terão o que levar para a comunidade se não tem uma ascese própria, levarão a miséria humana e a decadência que vivem.

O dualismo corpo e mente é aquele que separa os fenômenos da mente (que seriam apenas mentais, no caso da alma, apenas espirituais) e do corpo que são físicos e, portanto, são amplamente separáveis, também há hoje uma filosofia barata que afirma que aquilo que penso se tornará realidade, não cito os livros para não dar popularidade maior a este sem qualquer base teórica ou prática.

A fenomenologia de Husserl penetrará na categoria ontológica da “intencionalidade” para remover este obstáculo “a peculiaridade em virtude da qual as vivências são vivências de alguma coisa” (HUSSERL, 2010), e no § 14 de Meditações cartesianas (1931), repete-o novamente, mas de um modo mais completo: “A palavra intencionalidade não significa outra coisa senão essa particularidade fundamental e geral da consciência de ser consciente de algo, de portar, em sua qualidade de cogito, o seu cogitatum nela mesma” (HUSSERL, 2010).

Husserl e seu professor Franz Brentano recuperaram a categoria de intencionalidade de Tomas de Aquino para o qual o exterior na natureza (esse naturale) é como as coisas existem, as formas sendo distinto de existir no pensamento (esse intentionale), apoia dessa forma o modo da existência, no qual as coisas existentes no intelecto (in intellectu) como “coisas pensadas”, porém Husserl retira da intencionalidade a base empírica e a objetividade imanente.

Mostramos no post anterior esta separação entre Filosofia da Natureza e Filosofia do Espírito como divergente e até opostas, ao admite que de certa forma há na consciência alguma forma de consciência de algo é base para a fenomenologia e depois na ontologia e no existencialismo, há na consciência uma forma definida e transcendental do que é externo, porém parte da intencionalidade da consciência.

O transcendente está presente na mente (ou na alma) através da intencionalidade, enquanto o transcendental é de ordem superior e só se torna conhecimento se pode ser compreendido dentro do mistério transcendental da existência, ou retornamos ao nada.

 

HUSSEL, E. Meditações Cartesianas. Conferencias de Paris. Phainomenon –Clássicos de Fenomenologia . Portugal. CFUO: 2010.

 

Controvérsias da ascese espiritual e filosófica

17 mai

Para negar a ascese recorre-se a ideia que ela estaria impregnada da “exegese cristã” entretanto a própria literatura mostra que isto é uma contradição, pois tanto a filosofia idealista tenta refazer uma visão daquilo que é o espiritual na “Fenomenologia do Espírito” como também mais modernamente Foucault ( ) vai dizer que os gregos na época helenística e romana estariam longe de compreender o termo que denominamos de ascese. “Nossa noção de ascese é, aliás, mais ou menos modelada e impregnada pela concepção cristã”. (FOUCAULT, 2004, p. 399).

No dicionário hegeliano de Michel Inwood encontramos o conceito de Espírito (geist): “Geist inclui os aspectos mais intelectuais da psique, desde a intuição até o pensamento e a vontade, mas excluindo e contrastando com a alma, o sentimento etc.”, porém o Espirito no uso hegeliano tem um sentido ao mesmo tempo semelhante e diverso do usado no cotidiano (no sentido da alma) e na filosofia, uma vez que ali também há um sentido “trinitário”.

Como em toda filosofia idealista, Hegel é um pós-kantiano é bom que se diga, há uma busca de superação da dualidade sujeito e objeto, para Hegel ela se encontra no Espírito Absoluto, dito de forma a propiciar um encontro entre o sujeito e o objeto, formando uma identidade que se dá no interior da relação mútua entre subjetividade e objetividade.

Enquanto em Kant a transcendência é aquilo que faz o Sujeito ir até o objeto, em Hegel é o Absoluto que marca um encontro entre o sujeito e o objeto, formando uma identidade que se dá no interior da relação mútua entre subjetividade e objetividade, mas em ambos não há na transcendência um Ser.

É importante entender esta relação porque nela se realiza aquilo que Hegel trata como atividade intelectual essencial, para a apreensão intelectiva tanto acerca do objeto (que é justamente o momento da alienação como “saída-de-Si”) quanto do próprio sujeito (o retorno à subjetividade após a experiência com o objeto, isto é, o Outro como ele vê), assim diferente da ontologia de Husserl, Heidegger e outros, que vê nisto uma relação ontológica com o Ser.

Para isto deve se penetrar nas categorias hegelianas: em-si, de-si e para-si, ditas na Filosofia do Direito como: “Com efeito, o em-si é a consciência, mas ela é igualmente aquilo para o qual é um Outro (o em-si): é para consciência que o em-si do objeto e seu ser-para-um-outro são o mesmo. O Eu é o conteúdo da relação e a relação mesma; defronta um Outro e ao mesmo tempo o ultrapassa; e este Outro, para ele, é apenas ele próprio” (HEGEL, 2003);

Muitos filósofos contemporâneos vão ver o Outro, como algo além do Eu, e uma para-si algo além do Eu e do Outro, um “para” de além de.

Ainda que haja controvérsias tanto no idealismo Hegeliano, quanto na sua concepção dialética “trinitária”, é importante notar que para ele os membros de uma comunidade devem sempre entre os princípios sempre ter aquele que “tem objetividade, verdade e moralidade” (HEGEL, 2003, §258).

FOUCAULT, Michel. A hermenêutica do sujeito. Tradução Márcio Alves da Fonseca; Salma Tannus Muchail. São Paulo: Martins Fontes, 2004.

HEGEL, G.W.F. Princípios da Filosofia do Direito. Tradução: Orlando Vitorino. São Paulo: Martins Fontes, 2003.

INWOOD, M. J. Hegel. Dicionário Hegel. Tradução: Álvaro Cabral. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1997.

 

A ascese como elevação humana e espiritual

16 mai

Não é específica de uma religião e também está definida na filosofia, do grego áskesis, “exercício espiritual”, derivado de ἀσκέω, “exercitar”, consiste em uma prática ou mais práticas que propiciam o desenvolvimento espiritual, a simples ideia de renúncia ao prazer ou as necessidades primárias, deve ser vista dentro de contextos ou períodos determinados, portanto não é normal geral e também seu contrário não significa apenas pecar, mas se deteriorar, enfraquecer ao deixar de fazer determinados exercícios.
Peter Sloterdijk, um agnóstico, fala desta ascese despiritualizada, no sentido que somos uma sociedade de exercícios, mas que eles não propiciam nem uma elevação humana nem espiritual, um claro exemplo disto é o número de academias que crescem no país e em muitos lugares do mundo, outro exemplo são as demonstrações de virilidade como uma elevação humana, claro é importante cuidar da saúde, mas algumas vezes excesso de exercícios e remédios fazem o contrário.
Do ponto de vista humano o que experimentamos é uma decadência que vai da moral ao religioso, assuntos tão claros até recentemente, hoje são vistos como tendo controvérsias quase absurdas a ponto do imoral ser considerado “normal” e “humano” e o religioso ser identificado com atrocidades.
A série crise humanitária não poderia deixar de atingir o econômico, não se trata das simples crises de mercados, elas estão no epicentro das guerras e das falácias econômicas, não é preciso ser economista para ver que formulas simplistas não funcionam em nenhum dos extremos: o capitalismo selvagem e o socialismo sem liberdade e sem qualidade humana.
Parece difícil reconhecer o que seria então uma verdadeira espiritualidade, mesmo havendo o princípio da ascese que significa a elevação humana nas relações sociais e na dignidade inerente a todo ser humano, no respeito a natureza e na preservação de seus benefícios, enfim no amor a vida.
Até mesmo para o conceito de paz voltamos na história, a pax romana parece ser o princípio para muitas guerras, qual seja aquela que submetia os territórios “inimigos” para declarar a paz, nem mesmo a paz eterna do idealismo contemporâneo é reivindicada, embora também tenha limitações (na foto, foto do brasileiro Felipe Dana ganhador do prémio Pulitzer).
É prenuncio de grandes tragédias, incluindo a guerra, o que se espera é que de alguma forma forças que ainda tenham um fundo humano e espiritual possam interpor esta realidade contemporânea e reverter o quadro perigoso que todos enfrentamos e poucos trabalham para sua reversão.

 

Visita a Roma, Contraofensiva e Prêmio Pulitzer

15 mai

A semana foi toda protagonizada pela Ucrânia: visita a Roma e ao papa, avanços em Backhmut e fotos da guerra chamaram a atenção ao ganhar o prêmio Pulitzer, as fotos são chocantes e talvez digam mais que palavras, já que hoje há até retóricas incompreensíveis a favor da guerra.
No plano estratégico, não há o analista português Germano Almeida apontou: “aqui no Ocidente não temos ainda conhecimento dos planos, portanto há uma ideia ucraniana de isto é só o começo e ninguém sabe onde é que na verdade essa contraofensiva pode ser feita porque a questão de Bakhmut pode ser uma primeira manobra de diversão [despiste] e o essencial e a ofensiva em massa ser noutro local”, disse Germano.
A visita a Itália, além do apoio já declarado do país, as visitas ao presidente italiano Sérgio Mattarela e com a primeira-ministra Giorgia Meloni, também participou de um talk show da TV italiana, sobre o papa tudo que se sabe é de um acordo humanitário a refugiados.
As imagens que ganharam o prêmio têm também a de um brasileiro na lista: o carioca Felipe Dana que filmou e fotografou cenas de Bucha, a mais cruel e violento massacre feito pela Rússia na ucrânia (primeira foto abaixo), vale lembrar que também a guerra do Vietnã teve prêmios sobre os horrores lá.
Algumas imagens do prémio Pulitzer 2023 (no total foram 30) dada a vários fotógrafos da Associated Press, incluindo o brasileiro, se palavras não comovem talvez as imagens o façam. 

 

 

O Outro, o Infinito e a Verdade

12 mai

O desenvolvimento da questão do Ser na filosofia moderna não se separa da questão religiosa, Gadamer lembra o exemplo dos deuses nas obras de arte desde o mundo grego (Gadamer, 1997, p. 18),
O outro é tratado em diversos âmbitos da ontologia, tornando-se quase uma categoria essencial.
Outro ponto importante no caminho para Verdade, afirma que é preciso reconhecer: “A finitude do próprio compreender é o modo como e onde a realidade, a resistência, o absurdo, e incompreensível alcança validez.” (Gadamer, 1997, p.24), e expande esta história também para a histórica, onde vai criticar o historicismo romântico de Dilthey e ressalta que não é a-histórico.
Assim o caminho (ou o método) para a Verdade é traçado o desenvolvimento do círculo hermenêutico como um novo e revolucionário método para a Verdade, ouvir o texto (ou o Outro) e realizar uma fusão de horizontes, onde é possível ver e repensar mais claramente a Verdade.
A simples elaboração de narrativas que justifique o poder determinadas verdade não é senão uma volta a obscuridade e o oportunismo do discurso sofista moderna, agora usando como recurso os limites e as especialidades de determinadas ciências, por exemplo, o direito e a economia que vistas em seus campos restritos não são senão sofismas que se justificam mutuamente.
Ao analisar a possibilidade do fim da metafísica, Gadamer ressalta: “Se a ciência se elevar à tecnocracia total, e com isso cobrir o céu com a “noite do mundo” do “esquecimento do ser”, o nihilismo predito por Nietzsche, pode-se então ficar olhando atrás do último rebrilho do sol que se pôs […]” (GADAMER, 1997, p.27), ou seja, a ciência não está a parte desta questão.
Um humanismo verdadeiro deve olhar para o infinito, não apenas aquele que agora é visível pelo megatelescópio James Webb (que traz muitas questões também), não pode deixar de ignorar o infinito, o mistério e o fenômeno religioso.
Para os cristãos, esta verdade foi revelada humana e visivelmente em Jesus, na semana passada lembramos os discípulos dizendo “mostra-nos o Pai” (Jo 14,8), agora noutra a frente Jesus se revela mais plenamente aos que o seguem (Jo 14, 16-17): “e eu rogarei ao Pai, e ele vos dará um outro Defensor, para que permaneça sempre convosco: o Espírito da Verdade, que o mundo não é capaz de receber, porque não o vê nem o conhece”.
Não se trata de uma Verdade arrogante, ela pode e deve dialogar com as culturas de nosso tempo.

GADAMER, H.G. Verdade e método. tradução de Flávio Paulo Meurer. – Petrópolis, RJ: Vozes, 1997.

 

A questão fundamental do método

11 mai

Não poderia faltar a questão histórica, aliás antes do livro “A verdade e método”, foi uma palestra de Gadamer que deu início a esta obra, chamada de “A questão da consciência histórica”, o livro foi corrigido e traduzido para o inglês depois da publicação da obra magna, e desta versão veio a versão para o português.
Assim afirma o autor: “Pois, somente com o fracasso do historicismo ingênuo do século histórico, torna-se evidente que a contraposição que há entre a-histórico-dogmático e histórico, entre tradição e ciência histórica, entre antigo e moderno, não é absoluta.” (GADAMER, 1997, p.22).
Assim é diante desta finitude do conhecimento que se deve partir: “A finitude do próprio compreender é o modo como e onde a realidade, a resistência, o absurdo, e incompreensível alcança validez. Quem leva a sério essa finitude tem de levar a sério também a realidade da história” (Gadamer, 1997, p.24), e a partir daí retoma e reorganiza o círculo hermenêutico.
Assim o que chama de história efeitual parte da compreensão do “que torna tão decisiva a experiência do tu para toda autocompreensão” (idem), será a partir daí que vai elaborar sua hermenêutica filosófica, que parece paradoxal afirma: “justamente a crítica de Heidegger ao questionamento transcendental e seu pensamento da “virada” (Kehre) serve de fundamento ao desenvolvimento do problema hermenêutico universal, que eu empreendo” (Gadamer, 1997, p.25), e assim para ele “a linguagem não surge na consciência de quem fala” e não tem nada a ver com a subjetividade, pois a experiência do sujeito não tem nada de “místico” ou de “mistificador”.
Esclarece que sua metodologia está além de uma visão puramente metafísica, e diz sobre o método do idealismo: “acho que a Crítica da razão pura, de Kant, é vinculante, e que as proposições que nada mais fazem do que acrescentar, pelo pensamento, e de modo dialético, o infinito ao finito, o ente em si ao que é experimentado humanamente, o eterno ao temporal, considero-as como meras determinações extremas, das quais, pela força da filosofia, não se poderá desenvolver nenhum conhecimento próprio.” (GADAMER, 1997, p.26).
Com relação a metafísica, esclarece que mesmo a tradição hegeliana, que não abandona a ideia do infinito, tem: “a tradição da metafísica e especialmente a sua última grande formulação, a dialética especulativa de Hegel, contém uma proximidade constante.” (idem).
E retoma a questão heideggeriana do esquecimento do ser: “O que significa o fim da metafísica, enquanto ciência? O que significa seu finalizar em ciência? Se a ciência se elevar à tecnocracia total, e com isso cobrir o céu com a “noite do mundo” do “esquecimento do ser”, o nihilismo predito por Nietzsche, pode-se então ficar olhando atrás do último rebrilho do sol que se pôs […]” (GADAMER, 1997, p.27).
A abertura ao Outro, abre uma perspectiva de fusão dos horizonte de encontro do Ser, que aplica novo sentido ao texto (ou discurso) e permite interrogar-se sobre a verdade e alcança-la, eis o círculo hermenêutico.

GADAMER, H.G. Verdade e método. tradução de Flávio Paulo Meurer. – Petrópolis, RJ: Vozes, 1997.

 

A verdade e a hermenêutica

10 mai

Foi Hans-Georg Gadamer que desenvolveu e fundamentou um critério mais profundo para fazer uma correta interpretação de método e verdade (o nome do seu livro em dois volumes) nas ciências humanas, e não se trata de opor as ciências naturais , mas dar às ciências sociais uma alma e um “espírito”, mesmo aquele compreendido estritamente no pensamento não religioso, porém que busque de fato a verdade e não o silogismo, a pura lógica ou até mesmo o sofisma.

Esclarece Gadamer logo no início de sua obra magna: “O fato de eu ter-me servido da expressão “hermenêutica”, pesando-lhe às costas uma velha tradição, conduziu certamente a mal-entendidos” (GADAMER, 1997, p. 14).

Para retornar a questão das ciências naturais, esclarece o autor o mal-entendido “a famosa distinção kantiana da questio  júris e da questio facti” (Gadamer, 1997, . 16), não se tratava de um tribunal da razão e sim “.Ele colocou uma questão filosófica, quer dizer, ele perguntou pelas condições de nosso conhecimento, através das quais torna-se possível a ciência moderna, e qual o alcance da ciência” (idem).

Assim seu comportamento filosófico em resposta a questão: “o que é conhecimento” foi desenvolvendo a análise temporal da existência: “que Heidegger desenvolveu, penso eu, mostrou de maneira convincente que a compreensão não é um modo de ser, entre outros modos de comportamento do sujeito, mas o modo de ser da própria pré-sença (Dasein)” (ibidem).

Antes de entrar na questão da história, ele vai buscar suas origens ao afirmar: “Porém, onde separa-se propriamente mundo e mundo posterior? Como a  significância vital do originário passa para a experiência reflexiva da significância da formação?” (GADAMER, 1997, p. 17).

Não seara o humanismo do fenômeno religioso: “Dever-se-ia reconhecer e admitir que uma antiga imagem de deuses, por exemplo, que não foi representada no templo como obra de arte para um desfrute estético da reflexão, e que hoje tem a sua representação no museu moderno, contém em si o universo da experiência religiosa.” (GADAMER, 1997, p. 18)

Assim antes de refletir sobre a história, Gadamer refletirá sobre a arte, e não cai no dualismo do subjetivismo, expõe sua convicção que: “Assim, ninguém convencer-me-á, objetando-me que a reprodução de uma obra de arte musical é interpretação em um sentido diferente do que, por exemplo, a realização da compreensão na leitura de uma poesia ou na observação de uma imagem.” (GADAMER, 1997, p. 19).

A experiência artística em seu “método” e “verdade” não é exclusiva, porém é a que permite maior amplitude em sua concepção do que realmente nos leva ao “método” que encaminhe a “verdade”.

 

GADAMER, H.G. Verdade e método. tradução de Flávio Paulo Meurer. – Petrópolis, RJ: Vozes, 1997.