Posts Tagged ‘educação’
Educação e Complexidade
Dizer de maneira simples o que ele defende, toda síntese é um reducionista, mas poder-se-ia pensar numa mudança de paradigma onde no ensino as pessoas serão “capazes de compreender e enfrentar os problemas fundamentais da humanidade, cada vez mais complexos e globais”, a pandemia com certeza é um claro problema deste tipo.
O modelo atual leva a “negligenciar a formação integral e não prepara os alunos para mais tarde enfrentaram o imprevisto e a mudança”, novamente um exemplo aplicável a pandemia não nos adaptamos ao novo normal, porém a raiz de todo problema para o filósofo-educador Morin é que “o conhecimento está desintegrado em fragmentos disjuntos no interior das disciplinas, que não estão interligadas entre si e entre as quais não existe diálogo”, daí a dificuldade de se promover diálogo entre “especialistas” cuja visão é fixa e há uma “hiperespecialização”.
Quando Edgar Morin começou a escrever seu método, já era claro para muitos educadores que um novo modelo de educação deveria emergir, a Pandemia com uso de recursos online e também formas criativas de motivar e prender a atenção de alunos (na internet não se deve usar períodos longo, são cansativos e as pessoas saem) mostra bem isto.
O autor de “Cabeça bem-feita” e “Os sete saberes para a Educação do Futuro, Educar para a Era Planetária” lamenta, igualmente a “condição humana está totalmente ausente” no ensino: “Perguntas como o ´o que significa ser humano’ não são ensinadas”, de modo mais profundo e análogo Heidegger detectou uma ausência na filosofia da questão do Ser, claro que havia na filosofia antiga e no período medieval (a ontologia de Tomás de Aquino por exemplo), porém o Dasein de Heidegger, esse “ser-aí” ainda hoje, ligo e relido é mal compreendido.
Poderia ser perguntado o que é esse “ser” agora durante a Pandemia, algumas respostas são possíveis, mas inacabadas.
Os saberes necessários ao futuro
Para inspirar podemos ler o que está inclusive em formato aberto no MEC (sim, e eles leram?) da Obra de Morin “Os sete saberes necessários à educação do futuro”, como ele explica no início não se trata de um conteúdo para algum nível de ensino, mas saber como driblar na educação o ensino do que é conhecimento, pois “tendo em vista que nós sabemos que o problema chave do conhecimento é o erro e a ilusão” (Morin, ).
Porque isto é importante ? pergunta o próprio autor, e a resposta é algo inteiramente novo até mesmo para alguns educadores: “Porque o conhecimento nunca é um reflexo ou espelho da realidade. O conhecimento é sempre uma tradução, seguida de uma reconstrução” do autor.
A educação tradicional faz apenas a construção, chame-se ela de educação: bancária, básica, construtivista ou até mesmo dialética, incorre sempre no mesmo erro: ensina a “crença”.
É preciso explicar o fenômeno da percepção, que é primário, mas esconde a realidade que não vemos, eis um exemplo claro do autor: “assim como os raios ultravioletas e infravermelhos que nós não vemos, mas sabemos que eles estão aí e nos impõem uma visão segundo as suas incidências” e por isto a percepção precisa de reconstrução, precisa de ex-plicação e precisa de estudo e teoria, aliás o violeta é uma boa cor para representar isto, por que “não vemos”.
E assim sabemos que não há “não há nenhuma diferença intrínseca entre uma percepção e uma alucinação”, eis a explicação entre erro e ilusão.
Entre os erros apontados pelo autor, um é importante para um mundo globalizado: “Outras causas de erro são as diferenças culturais, sociais e de origem” e assim não podemos ler o mundo árabe ou oriente com uma ótica do ocidente, é um erro gravíssimo.
O segundo buraco apresentado pelo autor é o “conhecimento pertinente”, poderíamos acrescentar também relevante, no sentido de conhecimento que é fonte, mas explica o autor: “um conhecimento pertinente, isto é, de um conhecimento que não mutila o seu objeto. Por que? Porque nós seguimos em primeiro lugar, um mundo formado pelas disciplinas”.
Os outros cinco são mais simples: a identidade terrena (estamos no mesmo planeta), ensinar a ética do “gênero humano”, ensinar as incertezas (a se questionar), a compreensão e a condição humana, isto é um pouco mais difícil, retornaremos a este tipo de “saber”.
Segundo o The Independent, a Finlândia acaba de abolir a divisão das disciplinas, mas aqui ainda precisamos pagar decentemente os professores.
A educação precisa entrar no século XXI
Entre as reivindicações de junho de 2013, já esquecidas e apenas maquiadas por governos estaduais e federal, está a melhoria da educação e os níveis são preocupantes como mostramos nos post anteriores.
De cada cem estudantes que ingressaram no ciclo médico em 2008, 35 não chegaram a seu fim em três anos: repetiram ou apenas deixaram a escola, entre os que ficam poucos aprendem o que seria razoável (meta no post anterior) e isto pode ser comprovado pelo índice IDEB (Desenvolvimento da Educação Básica), considerando-o fiel e não favorável ao governo.
Conforme este indicador, o ensino médio obteve uma média até 2011, de apenas 3.7 numa escala de 0 a 10, poderíamos dizer reprovado ou apenas ruim, mas mesmo maquiado, ele não melhorou em relação às medidas tomadas anteriormente, o que acontece ?
O que foi a maquiagem, foi o agrupamento de 13 disciplinas em 4 áreas do conhecimento, má ou não leitura de Morin, a transdiciplinaridade não é isso, leia-se “Para sair do século XX”.
O equívoco é causado por uma má compreensão da crise da cultura e do pensamento que passamos, que para o desavisado seria apenas da super informação, mas há também a má informação ou até mesmo a escassez da informação vista por alguns como “teorias”.
Esclarece Edgar Morin em sua obra Para sair do século XX (ou da Idade Média), “A informação, num sistema totalitário, não é somente uma informação governamental; é, sobretudo, uma informação governamental totalitária. Sua característica própria não é só estar sujeita à censura do Estado de onde resulta a subinformacão” e, portanto não apenas da grande imprensa manipuladora sem dúvida, mas precisamos de canais “culturais”.
Acrescenta Morin sobre estes aspectos: “ela reside na conjunção entre a subinformação e a formação de pseudo-informação, que dão uma imagem ideal/lendária da sociedade” e isto significa também muitas leituras enviesadas e despreparadas do contexto social.
Ao contrário de Bauman, Morin crê que a também na educação o Estado deveria apostar em educadores com tradição cultural e literária e não apenas aqueles que favoreçam a cultura de algum estado vigente, na obra ele faz duras críticas aos estados de esquerda e de direita.
Morin Edgar, Para sair do século XX, Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1986. 346p.
O ativismo e a crise econômica
Mesmo considerado que os dados do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas do Ministério da Educação) possam estar exagerados, os dados dizem que os jovens entre 18 e 24 anos, que cursavam o nível superior eram de 15%, em 2002, e devem ter passado para 29,9%, segundo dados oficiais, em 2011, e devem estar chegando a de fato a 30% somente agora em 2015.
Ainda que o nível da qualidade de ensino deva ser questionada, o fato é que quem lê mais, deve entender melhor a realidade e tende a ser mais crítico, mas a maioria dos que enaltecem estes dados esquecem o papel politizador das redes sociais.
Os ativistas estão ai protestando e isto independe da classe social, no caso jovem.
O outro motivo esquecido é a crise econômica, ignorada pelos dados oficiais até o ano passado, não pode agora ser ignorado, o crescimento que chegou a ser até comemorado de 7% cresceu na esteira da gastança e do crédito fácil, agora não deve ultrapassar a 1% e pode continuar assim pelos próximos anos.
Assim o fato que houve com o “crescimento” a possibilidade de melhoria rápida no padrão de vida dos brasileiros, sobretudo os mais jovens, isto torna-se frustrante quando os níveis de desemprego chegam a taxas de 12,4%, que é o triplo entre os mais velhos, assim a sociedade exclui jovens e velhos acima de 50 anos.
Os dados mostram que o crescimento se deu em cursos “presenciais e a distância” e embora a campanha oficial fale do crescimento das escolas públicas, nos números (dados da revista Epoca) não indicam que este crescimento seja expressivo, falta analisar a qualidade e quem são os ingressantes, isto é, se está havendo inclusão, isto fica para amanhã.