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Posts Tagged ‘Páscoa’

Corpus Christi e a espiritualidade

28 mar

Há aqueles que acreditam na transubstanciação durante a consagração da hóstia e do vinho durante o culto religioso e aqueles que pensam tratar-se apenas de algo simbólico, outros ainda acreditam a mais pura adoração leva a salvação, e esquecem que ela deve ser levada ao mundo, então há a realização eucarística entre os homens e no mundo.

Não é de estranhar uma fé bastante fideísta (sem obras) e outra bastante mundana (só as obras bastam), isto ocorre dentro e fora das igrejas por razões óbvias, ali de faz eucaristia, ou seja, a comunhão dentro da igreja deve ser levada na alma para o mundo, tornando-se uma “alma mundo”.

Tanto para Plotino como para Agostinho de Hipona, a “alma” era a visão do Uno, ou seja, da verdadeira comunhão e ela não se faz sem Deus e não se realiza se não é levada a substancia, aliás é curioso que pão e vinho não são substancias da natureza, são feitas pelo homem do trigo e da uva, assim só se realiza na “alma mundo” pela ação dos homens em sociedade.

Embora o dia tenha sido instituído pelo papa Urbano IV, 1264, para ser celebrado na quinta-feira após o domingo da Santíssima Trindade, ele antes de ser papa conheceu uma menina chamada Juliana que sonhava com esta festa eucarística.

Porém é pouco contado na história que o feriado foi declarado depois de um “milagre” que ocorreu numa igreja de Bolsena, na Itália, de um padre que duvidava das visões de Juliana, na hora da consagração, momento na missa católica que se eleva o pão e o vinho, começou a verter sangue que mancho o corporal (toalha) sobre o altar.

A maioria das igrejas cristãs não católicos ou de ritos ortodoxos e orientais, celebra apenas uma ceia simbólica que lembra a última ceia de Jesus, Lutero na reforma protestante não usou mais o termo transubstanciação e sim consubstanciação, vinho e pão eles corpóreos de sangue e carne de Cristo, mas um dos líderes da reforma Ulrico Zuínglio convenceu os “reformados” que era apenas uma Ceia do Senhor simbólica como memorial de sua morte e ressurreição.

Seja qual for a fé professada, a comunhão com o Uno que é Deus e com os homens, sua realização na humanidade não pode ser feita sem uma verdadeira comunhão “entre” homens, nas igrejas de rito greco-romano isto é feita com a cerimonia do lava-pés, lembrando que Jesus lavou os pés dos apóstolos (João 13,1-17) (acima a pintura na igreja Santa Maria del Mar, Barcelona).

 

O Ser, a Dor e a Páscoa

15 abr

Este é um tempo que não aboliu a Dor, porque conforme desenvolvemos em posts anteriores ela é inerente a existência, porém a condenamos a opô-la ao Ser e a Felicidade, o filósofo Byung Chul Han escreveu: “Justo na sociedade paliativa hostil á dor, multiplicam-se dores silenciosas, apinhadas nas margens, que persistem em sua ausência de sentido, fala e imagem”. (HAN, 2021, p. 57).

Nada é mais paradoxal na pós-modernidade do que a Dor, imagina-se então a Cruz como símbolo de liberação e de vida, alguém poderia até dizer: o absurdo, porém Paulo Apóstolo adverte: “Porque tanto os judeus pedem sinais, como os gregos procuram sabedoria; nós, entretanto, proclamamos a Cristo crucificado, que é motivo de escândalo para os judeus e loucura para os gentios.” (Coríntios, 1:23).

É nesta perspectiva que se explicam violências raciais, de diversas formas de exploração e daquilo que Byung Chul Han chama de “auto exploração”, não precisamos mais que outros nos explorem, nós o fazemos voluntariamente, incita-se a um cotidiano com a marca da contagem e não do Ser.

A Pandemia poderia ser ocasião para a dor solidária, mas foi mais um impulso para a exclusão, para o isolamento, para o fortalecimento das barreiras e das angústias individuais, que explodiram em crise de ansiedade, de diversas formas de ignorar a dor alheia, a ponto de negá-la totalmente.

Demorou, mas na batalha final contra a Pandemia cedemos a fatalidade, ao delírio de festas públicas fora do tempo, o desejo de extravasar e tentar ignorar a dor pelo êxtase das alegrias passageiras, segue um ciclo euforia e depressão.

O que aparece no horizonte deste delírio são guerras ainda mais infernais, desejos de dominação e de mais poder, ignoram-se vidas com justificativas quase sempre absurdas: era inevitável, não há como detê-los sem armas, etc. mais guerras, mais mortes, mais sofrimentos e quebra de mercados.

Ao que parece ignorando a Paixão divina, caminhamos a largos passos para uma “paixão” (de sofrimentos) civilizatória, humanitária e um abismo maior do que aquele que seria conviver e gerenciar as dores de uma civilização e uma pós-modernidade doentes e com horizonte sombrio.

Resta a esperança dos que creem na superação solidária de uma humanidade adormecida, de um centro civilizatório equilibrado que recupere não só o processo de hominização como também a sua solidariedade com a natureza e o universo que vivemos.

Esta é uma leitura possível para a Paixão Divina daquele que por amor suportou as dores humanas, só uma “passagem” pela Dor pode nos fazer entender uma nova humanidade possível.

HAN, Byung-Chul. A sociedade paliativa: a dor hoje. trad. Lucas Machado. Petrópolis: Vozes, 2021.

 

A sociedade paliativa ou a ausência da dor

13 abr

A sociedade paliativa explica Byung Chul Han nada tem a ver com a medicina paliativa, pois explica o filósofo coreano-alemão: “Assim, cada crítica da sociedade tem de levar a cabo uma hermenêutica da dor. Caso se deixe a dor apenas a cargo da medicina, deixamos escapar o seu caráter de signo” (Han, 2021).

Lembra um ditado de Ernest Jünger: “Dize tua relação com a dor, e te direi quem és!”, assim não é possível uma crítica sociedade sem uma hermenêutica da dor, a relação com cada sofrimento não só o produzido pela história, mas aquele que está na particularidade de cada Outro.

“A sociedade da sobrevivência perde inteiramente o sentido para a boa vida. Também o desfrute é sacrificado à saúde elevada a um fim em si mesmo” (Han, 2021, p. 34).

Lembra e cita Agamben na sua visão de homo sacer e via nua: “Sem resistência sujeitamo-nos ao o estado de exceção que reduz a vida à vida nua” (Han, 2021, idem).

Na sociedade paliativa “A arte de sofrer a dor se perdeu inteiramente para nós … A dor é agora, um mal sem sentido, que deve ser combatido com analgésicos. Como mera aflição corporal, ela cai inteiramente fora da ordem simbólica” (Han, 2021, p. 41), os grifos são do autor.

Assim hoje remove-se a dor qualquer possibilidade de expressão, ela está condenada a calar-se, e “a sociedade paliativa não permite avivar, verbalizar a dor em uma paixão” (p. 14), grifo do autor.

HAN, Byung-Chul. A sociedade paliativa: a dor hoje. Trad. Lucas Machado. Petrópolis: Vozes, 2021.

VARGAS, Cecília.  Systems of Pain/Networks of Resilience project in one gallery. Curated by Cecilia Vargas, Dickson Center at Waubonsee Community College, June 2018 (foto).

 

A dor, o Ser e o Outro

08 abr

A dor é essencial na existência, o filósofo Byung Chul Han no ensaio “A sociedade paliativa a dor hoje” escreve falando sobre a pandemia e a redescoberta do Ser: “Sinto dor, logo existo. Também devemos a sensação de existência a dor. Se ela desaparece inteiramente, busca-se por substitutos” (Han, Vozes, 2011, p. 65).

Porém a dor do Outro nos é estranha, escreve Han: “A nudez da alma, o ser exposto, a dor com o outro, estão inteiramente perdidos para nós” (Han, p. 104), não há com-paixão.

Por isso a crueldade da guerra, os líderes totalitários que expõe este tipo de desprezo pelo Outro, por sua dor, no caso da Pandemia pelo número de mortos estão tão anestesiados, não dói em nós então não existe, o que é uma falsificação do ser, pois é Ser somente com-o-Outro.

A megalotimia, a supervalorização do si mesmo, ou do grupo social ao qual pertende, é tanto para Chul Han como para Fukuyama (que escreveu “O fim da história”, mal lido e interpretado), inspirados por Nietzsche que este é o “último ser humano”, que desvenda esse tipo de anestesia: “um pouco de veneno de vez em quando: isso dá sonhos agradáveis” (Han, p. 105).

É importante para compreender porque admitimos a morte, mesmo que injustas (dos inocentes e dos contaminados pelo vírus) porque não a imaginamos como não vida, não dói em nós, e a dor do outro não é sentida, pode até ser denunciada por aspectos grupais, porém não como ser e como Outro.

Porém não foi Nietzsche que “matou Deus”, nem mesmo o divino em nós, a paixão da cruz é a dor-com-o-Outro, não faz sentido senão um divino Ser que se entrega pelo Outro, e aí é puro Ser, é divino Ser.

Ao julgar Jesus e mesmo não encontrando crime algum entrega-o a crucificação, e mesmo condenado o divino Ser que será submetido a uma crueldade de espinho, açoites e finalmente crucificação, ainda olha para a humanidade de seus algozes e diz: “Pai, perdoa-lhes! Eles não sabem o que fazem!” (Lucas 23:34).

Quem matou Jesus foram o poder do Império Romano, uma face do poder totalitário, e os fariseus: má religião e má interpretação daquilo que deveria ser nossa re-ligação ao divino.A dor é essencial na existência, o filósofo Byung Chul Han no ensaio “A sociedade paliativa a dor hoje” escreve falando sobre a pandemia e a redescoberta do Ser: “Sinto dor, logo existo. Também devemos a sensação de existência a dor. Se ela desaparece inteiramente, busca-se por substitutos” (Han, Vozes, 2021, p. 65).

HAN, B.C. Sociedade paliativa: a dor hoje. trad. Lucas Machado. Petrópolis: Ed. Vozes, 2021.

 

 

 

O homem na natureza e o sobrenatural

08 abr

Entre o mistério e o conhecido, entre o humano e o sobrenatural, há mais coisas entre o céu e a terra do que pensam a nossa vã filosofia e nossa humana teologia, ambas precisam de uma mão “extra”.

Precisamos para caminhar em frente de acreditar em algo, ou em alguém que é muito mais palpável ao humano, mas esquecemos como diz Morin, como diz Heidegger e até o crítico literário que nos deixou: é preciso saber o que é Ser.

Morin reclama do humano que não sabe mais do próprio humano, a Pandemia tem mostrado isto com inúmeros exemplos em todo lado, gente que não se compadece dos que morrem todo dia, gente que quer atribuir a culpa do vírus a esta ou aquela pessoa, e pessoas com comportamento como se não estivéssemos numa pandemia, em todos âmbitos faltam humanismo do respeito ao ser humano primeiro e a sua vida como consequência.

Na visão de Heidegger expressa em seu clássico “Ser e Tempo”, o homem é o ser-no-mundo, ou seja, um ser-em-situação-temporal, mas não preso a ela e está sempre aberto para tornar-se algo novo, assim poderíamos pensar o que será o novo no pós-pandemia, isto dará um traço existencial ao que significa ser preso ao tempo.

Porém estava aberto ao novo, isto depende de uma visão de mundo (weltanschauung ou cosmovisão), nela se prende sempre uma visão do mistério da vida, do universo e do que pode existir além dele o sobre-natural, porque o nosso conceito de natureza é incompleto.

Se viemos do barro, ou se a própria vida surgiu de pequenas reações orgânicas do inorgânico (o conceito de mutação aórgica), significa também que nesta origem há mistério e uma série de hipóteses são válidas, porém algo “novo” já aconteceu no passado que deu origem a criação da natureza orgânica, dos animais e do homem nesta “natureza”.

A ideia que podemos objetivar a natureza (supondo que nela nada é sobrenatural) era na visão de Teilhard Chardin a necessidade de entender o homem como algo “complexo” da natureza, que possui consciência dela, porém a objetivação das ciências atuais que procura vê-la só “do lado de fora”, foi citado por Ways (apud Chisholm, 1974) como uma forma arrogante e insensível de lidar com o mundo material, há sempre algo do Ser nela.

O trabalho sobre Ecologia de Chisholm destaca o papel que a não compreensão da natureza como um todo pode ter na sua degradação e o surgimento de anomalias, escreveu (Chrisholm, 1974): “uma vez que o método e a ideologia dependiam do fracionamento dos fenômenos naturais em parcelas controláveis, em teorias e experiências antes de passar ao problema seguinte, o homem foi perdendo o sentido da vida como uma grande teia que é a que a Ecologia ensina” (Chisholm,1974), assim também o homem e a natureza operam como uma rede, uma “teia ecológica”.

Também há a ligação inversa do sobrenatural com o natural, é curiosa a passagem Bíblica que Jesus depois de ressuscitado aparece aos apóstolos, mostra os pés e as mãos que foram perfurados e quer comer um peixe (Lc 24, 41-42): “Mas eles ainda não podiam acreditar, porque estavam muito alegres e surpresos. Então Jesus disse: “Tendes aqui alguma coisa para comer?” Deram-lhe um pedaço de peixe assado.”

Assim no sobrenatural também a relação com o natural não se perde, embora na visão bíblica este “noutro plano”.

CHISHOLM, A. Ecologia: uma estratégia para a sobrevivência. Rio de Janeiro: Zahar, 1974.
 

Estivemos fora para atualizações

04 abr

Feliz Páscoa!!!

O site esteve fora para atualizar o software.

 
 

A Páscoa dos pães ázimos à eucaristia

01 abr

É verdade que a Pascoa comemorada pelos cristãos como a paixão, morte e ressureição de Jesus, já era comemorada com a passagem do povo hebreu da escravidão no Egito a sua terra prometida, hoje Israel, porém a festa é mais antiga.

Os dois sinais mais fortes do cristianismo é a morte de Jesus justamente no lugar do cordeiro que é sacrificado na festa judaica, lembrando o cordeiro que foi sacrificado por Abraão no lugar de seu filho, e sua ressurreição no dia de Páscoa, ou seja, a passagem para a vida eterna.

Porém a data é mais antiga, o calendário judaico é lunissolar, ou seja, se baseia nos ciclos do sol e da Lua, diferentemente do cristão que fica entre os equinócios do outono/primavera no hemisfério norte, e verão/outono no hemisfério sul.

A festa era comemorada ainda no exílio do povo judeu no Egito, calcula-se que a cerca de 3.500 anos, eles sacrificavam um cordeiro sadio, de um ano, numa data chamada de dia 14 de nissan, durante uma semana consumiam pão sem fermento e ervas amargas, e o sangue do animal era usado para marcar os umbrais das residências dos judeus, para que o anjo da morte que passaria não adentrasse aquelas casas.

Os pães consumidos neste período por serem sem fermento, são chamados pães ázimos que dão origem a festa que antecede a Páscoa, na sexta-feira o cordeiro é sacrificado, e deverá ser consumido antes do amanhecer e o que não for consumido deve ser queimado.

Jesus foi sacrificado justamente numa sexta-feira da Pascoa judaica e isto confirma o sinal profético previsto na bíblia, e na quinta-feira realiza a ceia com os pães ázimos, entretanto ao purificar e repartir o pão e o vinho, afirma: “este é meu corpo e meu sangue” instituindo a Eucaristia cristã, na qual acontece um evento aórgico, uma substância inorgânica torna-se orgânica e neste caso divino, eis a hóstia consagrada.

Os cristãos chamam de transubstanciação, porém todo nosso corpo, exceto a alma para os que creem, é também composto de substância inorgânica, e na escatologia cristã todo universo será transformado em corpo de Cristo, na visão de Teilhard Chardin sempre o foi, pois todo ele é seu corpo.

Assim pode-se dizer que o futuro do universo e da humanidade é tornar-se todo eucarístico.

Para os cristãos católicos, pelo menos no Brasil, é uma realidade triste, o lockdown proibiu a eucaristia no dia em que ela é celebrada, a quinta-feira santa. 

 

A quarentena e a quaresma

17 fev

Aqueles que conseguem viver esta longa quarentena, que entra pelo segundo ano, como perspectivas e esperanças é verdade, mas também com angústias e preocupações, entendem que há para todos um motivo de atenção, alento e preocupação, em especial com os angustiados.

Não houve carnaval, e não há motivos para festa, é verdade alguns grupos insistem, mas se olharmos para o número de pessoas em comparação com o conjunto da sociedade são uma minoria, a maioria está preocupada e deseja que logo tenhamos uma saída deste sofrimento.

Para os cristãos é um período de oração, jejum e abstinência, significa abster-se de algumas coisas que o novo normal já está nos tirando, porém pode-se fazer isto voluntariamente, pensando no conjunto da sociedade que sofre.

Representante do catolicismo, mas também da cristandade, o papa Francisco sempre olha para toda a família humana com ternura e paixão como um bom latino, em sua mensagem do dia 12 de fevereiro convidou-nos “Vamos subir a Jerusalém … “ (Mt 20,18) que significa como ele próprio explica um “percurso de conversão, oração e partilha de nossos bens”, e assim viver esta Quaresma com o olhar atento a quem sofre o abandono e a angústia por causa da pandemia (na foto a porta que onde Jesus iniciou seu caminho final em Jerusalem).

Jesus ao aproximar-se de Jerusalém vai para lá para viver os dias da Pascoa judaica, os judeus já a comemoravam e comemoram até hoje, mas nem sempre coincide devido ao calendário judaico ser diferente do nosso cristão, porém o cordeiro que é “imolado” durante a Páscoa, referente ao sacrifício que Abraão fez no lugar de seu filho, é na Páscoa cristã o próprio Jesus este cordeiro.

A quarentena de todos é a pandemia, dizer palavras de incentivo que reconfortam, consolam, fortalecem, estimulam em vez de palavras que humilham, angustiam, irritam e desprezam enfatizou o papa.

Penso que devido a conjuntura de quarentena será uma Quaresma diferente, em que iremos em profundidade nas nossas dores como humanidade, e poderemos pensar num futuro muito mais a frente mais promissor e cheio de esperanças, a Quaresma não é apenas a morte, passamos por ela, mas a ressurreição que está do outro lado para aquele que aceita passar pela porta estreita.

Toda humanidade sofre, assim é um momento da paixão de toda humanidade, e aqueles que são fraternos e solidários saberão o caminho para aliviar as dores daqueles que sofrem.

É hora de pensar no essencial da vida, rever nossas falsas vias de progresso e nossa vida pessoal. 

 

A esperança Pascal

13 abr

Se é preciso superar as divisões, talvez a maior delas seja entre a religião e a ciência, entre a teologia é a filosofia, entre fé e razão.

Mesmo aqueles que reconhecem.esta urgência, por vício e pelos anos dedicados a esta divisão caem em contradição.

Em tempos de pandemia que une todos os corações sinceros de amor a humanidade, tempo que ganhamos tempo para refletir longe da agitação da vida moderna talvez possamos nos abrir e unir a fé que dá esperança aos angustiados pelo medo e pelas mortes é a luta da ciência para superar o vírus.

A urgência também de medidas de proteção mais rígidas e de serenidade com as dificuldades presentes.

Ficar em casa significa também manter um tempo de “parada” que não quer dizer ócio, encontrar boas leituras, bons filmes e a indispensável conversa familiar, também as “mídias” de redes sociais podem ser bem utilizadas.

 

O sentido da dor e da Cruz

10 abr

A morte nos causa dor, medo e até mesmo desespero; diante de uma pandemia ela revela aspectos de tragédia, ansiedade e apreensão, e tudo que podemos fazer para evitar uma dor maior fazemos, mas alguns vão além e se preocupam e se doam para reduzir a dor alheia.
Este é um significado humano, porém o divino vai além que significa ser capaz de doar a própria vida, ou pô-la em risco por amor ao Outro, só neste limite é que entendemos de fato o significado.
Teilhard de Chardin depois de admitir que a cruz significa uma “evasão para fora deste mundo” (p. 114), vai nos explicar que é justamente ela (no caso presente o medo da morte pela pandemia, “que exatamente o caminho do esforço humano, sobrenaturalmente retificado e prolongado. Por termos compreendido plenamente o sentido da Cruz, já nos não arriscamos a pensar que a vida é triste e feia. Simplesmente tornámo-nos mais atentos à sua indizível seriedade” (pag. 115).
Por isso pensamos nos dias felizes que podíamos andar livremente e saborear os ares da cidade, ver as praias agora proibidas de serem frequentadas, os almoços alegres em família, mas é por esta perda que olhamos agora com outros olhos cuja cegueira não podia permitir.
Como seria belo um domingo de Páscoa com toda família, ou simplesmente sair para ver dias alegres de outono no hemisfério sul ou início de primavera no hemisfério norte, mas é esta dor e esta terrível pandemia que nos faz “trocar os óculos”, também no aspecto espiritual.
Assim ressalta Chardin: “ a cruz não é uma coisa in-humana, mas super-humana. Vemos bem que a origem da Humanidade atual a Cruz estava erguida à frente da estrada que leva aos mais altos cumes da criação”, teremos que repensar a vida caseira e a social depois desta pandemia.
Convida-nos Chardin ao mistério: “aproximemo-nos mais. E reconheceremos o Serafim inflamado do Alverne (foto), aquela cuja paixão e cuja compaixão são “incendium mentis”*. Para o cristão, não se trata de desaparecer na sombra da Cruz, mas de subir na luz da Cruz” (pag. 116).
Aproveitar esta noite da pandemia para por luz na “noite da cultura”, na “noite de Deus” e na “noite dos sentidos” que parecia fazer-nos suprimir toda sensibilidade à vida humana e ao Outro.
Vivamos bem estas três “noites” para alcançar uma Páscoa (passagem) para toda humanidade.

*incendium mentis – David Grummet diz que em Chardin é “fogo do amor divino em nossa alma”.
Chardin, T. O meio divino. Lisboa: Editorial Presença, s/d.