RSS
 

Arquivo para novembro, 2021

O deserto sem vida interior

30 nov

Viver só na exterioridade, projetado sobre o mundo levou a um tipo de angústia especial, a angústia é um aspecto da filosofia, aquela que se liga ao conceito do vazio, um certo tipo de filosofia e algumas formas do conceito “Deus está morto”, sim porque existem outro, um deles é os homens tentam em vão mata-Lo como se fosse possível, como se fosse possível negar alguma intencionalidade na criação do universo, sim ele pode ser multiverso, mas também para ele deve haver uma intencionalidade.

O movimento filosófico que deu voz ao sentimento de “alienação e desespero”, veio justamente do “reconhecimento do homem de sua solidão fundamental em um universo indiferente”, as frases destacadas são de Anthony Downs, um economista político americano, falecido em outubro deste ano.

A razão pela qual devemos conhecer a origem e o desenvolvimento de certos conceitos que parecem apenas palha e sem substância (porque não são observados a fundo), é que eles passam a dominar grande parte da vida contemporânea, é o caso do idealismo que dominou quase todos os ismos de nosso tempo, incluindo socialismo e certo tipo de cristianismo (na foto a obra de Albert György).

Os ismos de nosso tempo não são senão a racionalização de alguma forma de idealismo presente na cultura ocidental de Descartes, passando por Kant até Hegel, a sua rejeição partido do existencialismo de Kierkegaard que insistiu na irredutibilidade da dimensão subjetiva e pessoal da vida humana, o existencialismo tomou diversas formas, porém é o retorno a questão do Ser e a ontologia que considero parte essencial de redescobrir o fio de ouro do espírito humano, ou da dimensão pessoal e subjetiva como foi pensada por Kierkegaard, parte de uma pergunta essencial que é “porque existe tudo e não o nada”, e o nada é claro é o vazio.

Porém Kierkegaard trabalhou também a questão da angústia, que pode ser associada ao vazio ou ao sentimento moderno de uma forma de alienação, seu conceito é outro, é a vertigem da liberdade, preconizada pelo homem moderno, é através dela que o homem sente repulsa e atração, pode-se tudo, mas nem tudo é conveniente.

Em “O conceito de angústia”, Kierkegaard escreve: “” uma determinação do espírito sonhador (…) é a realidade da liberdade como puro possível” (KIERKEGAARD, 1968, p. 45).

Soren Kierkegaard nasceu na Dinamarca em 1813 teve uma vida sofrida com problemas pessoais e familiares, em um espaço de vinte anos viu a morte de dois irmãos e três irmãs e depois a mãe, a decepção amorosa com a noiva Regina Olsen culmina na sua própria vida aquilo que expressou na filosofia.

O conceito de angústia tornou-se central no desenvolvimento da filosofia existencialista, ele está presente em Heidegger, Jaspers e Sartre, mas não ficou de lado em filosofias anteriores como a fenomenologia de Husserl e antes na psicologia social de Franz-Brentano.

É Heidegger que torna a questão da angústia como um problema da vida cotidiana, escreve: “O ser-para-a-morte é, essencialmente, angústia. Isso é testemunhado, de modo indubitável embora “apenas” indireto, pelo ser para-a-morte já caracterizado, no momento em que a angústia se faz temor covarde e, superando, denuncia a covardia da angústia. (HEIDEGGER, 1998, P. 50).

Por isso para Heidegger a angústia é um determinante existencial e ela se manifesta na cotidianidade do estar-no-mundo, no dizer de Hanna Arendt é uma “condição humana”.

A questão volta a tona pela forma patológica que tomou na Pandemia, justamente a privação da liberdade, vejam que o conceito de Kierkegaard faz sentido.

Heidegger, M. A origem da obra de arte. In: CAMINHOS de Floresta (Holzwege). Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1998.

Kierkegaard, Soren. O conceito de Angústia. Lisboa: Hemus editora, 1968.

 

Nova variante e preocupação na Europa

29 nov

A nova variante do vírus da covid-19 chamada ômicron pela OMS, já está presente em três continentes e a tendência é chegar a todos, no Brasil tanto o diretor-presidente da Agência Nacional de Vigilância sanitária (Anvisa), Antonio Barra Torres, como o diretor do Instituto Butantan afirmam que é inevitável que ela chegue ao país.

A variante é a cepa B.1.1.529 e foi identificada pela primeira vez na África do Sul em 9 de novembro, segundo informações da OMS, onde se identificou 100 casos da variante, em especial na província populosa de Gauteng, mas já se espalhou por Botsuana, eSwatini (antiga Suazilândia), Lesoto, Namíbia e Zimbábue, países que o Brasil fechou a fronteira.

No Brasil um passageiro de um voo que passou pela África do Sul testou positivo no último sábado 27/11 e desembarcou em Guarulhos (SP), os outros passageiros também estão sendo monitorados, ainda não é possível identificar se o contágio foi pela nova cepa.

O que se sabe por enquanto é que a variante pode afetar os índices de contágio e de letalidade, porém o sequenciamento genético ainda pode demorar mais alguns dias para ser completo, o diretor Tulio de Oliveira do Centro para Respostas e Inovações Epidêmicas da Universidade de KwaZulu-Natal, afirmou que esta variante é “uma constelação incomum de mutações”, enquanto a variante delta possuía apenas duas mutações por exemplo, em relação a cepal original do coronavírus.

Enquanto isto o número de mortes volta a crescer na Europa (veja o gráfico), a média de mortes chegou ao maior patamar desde fevereiro de 2021, quando o continente começava a se recuperar, para cada milhão de habitantes a taxa é de 5,2 mortes diárias em média, pelo novo coronavírus nos últimos 7 dias.

Com a nova cepa e as variantes é preciso retomar os cuidados, esperar os estudos sobre a cepa e a eficácia das vacinas, a Pfizer já anunciou que deve ter alterações para garantir a imunidade.

Chegamos a 70% da vacinação completa no Brasil, porém com a nova cepa não se pode afirmar a total imunidade.

Nota: No dia de hoje (29/11) a Austrália suspendeu a reabertura e o Japão fechou as fronteiras.

 

Tempo de mudar e repensar

26 nov

A Pandemia não provocou mudanças em nosso comportamento, a maioria quer voltar ao velho normal: correria, um dia a dia nervoso e complexo, ambições que se confundem com objetivos sadios e possíveis, enfim aquilo que o filósofo Sloterdijk chamou de “frivolidades”, entretanto a crise não passou e já se admite uma 4ª. onda.

A cada 100 novas infecções relatadas no mundo, 62 estão na Europa informa a agência de notícia Reuters, a região registra 1 milhão de infecções a cada dois dias.

A sabedoria que envolve todo um universo da vida humana, da saúde a política, o bem estar verdadeiro que inclui justiça e empatia, mesmo com um beliscão da natureza não foi suficiente, o resultado é uma crise que se aproxima e se avoluma, olhar para o infinito do universo e de seus mistérios deveria tornar-se humildades, mas a arrogância está em toda parte dos incrédulos aos céticos, da baixa cultura a cult livresco e enciclopedista, uma verdadeira mudança do pensamento, como quer Morin, não aconteceu.

Tudo isto que deveria ter nos inspirados maiores sentimentos de amor, solidariedade e paz não aconteceu, a Pandemia não deu uma trégua de hostilidades e radicalizações, o resultado não poderá ser outro que não uma catástrofe, independente de governos e tendências eleitas, já que a polarização leva sempre a dois extremos e não dá trégua.

Há algo pairando no ar, o espírito humano sabe quando as coisas estão fora de lugar, nem sempre sabem exatamente onde estão por falta de harmonia e evolução espiritual, não basta o desenvolvimento humano material, ele é importante se for sustentável, é preciso que a alma humana acompanhe esta evolução e não é o que se vê, se vê “frivolidades”.

Vários países da Europa pensam em lockdown, também uma crise de energia está na mira de muitos países europeus, dependentes de fornecedores externos, segundo dados da Eurostat, a agência de estatística da EU, o aumento do gás tem feito a inflação subir em 19 países da zona do euro, e impacta tudo, mas principalmente a energia já que 90% do gás vem da Rússia, e um quinto da energia elétrica é produzida com uso do gás.

Lembremos que estamos no inverno na Europa e este consumo tende a crescer para ambientes aquecidos e maior permanência nos lares.

Na liturgia cristã começa no final de semana o Advento, não é apenas a comemoração do Natal, na primeira semana é a espera de uma nova vinda de Jesus, chamada Parusia, e não se trata apenas do fim do mundo, mas também nas grandes crises Deus não é indiferente, claro aos que creem, é sempre possível sua intervenção de modo inesperado.

A esperança é assim um motor de nossas vidas, mas precisamos estar atentos como diz a liturgia deste período (Lc 21,34): “Tomai cuidado para que os vossos corações não fiquem insensíveis por causa da gula, da embriagues e das preocupações da vida, e esse dia não caia de repente sobre vós, pois esse dia cairá como uma armadilha sobre todos os habitantes de nossa terra”.

 

Mistérios do universo e forças universais

25 nov

Quando Einstein formulou a Teoria da Relatividade Geral, dois grandes “buracos” ficaram na sua teoria, um que ele reconhecia que eram os buracos de minhoca, caminhos numa dimensão espaço-tempo em que poderia haver espaços, do ponto de vista da matemática, de imensa gravidade em que tudo “sumia” e outro não reconhecido que era a formulação dos quanta como uma dimensão entre no tempo e no espaço onde há uma terceira hipótese entre a matéria e a não-matéria, os “quanta”.

Segundo o físico Jim Al-Khalili “Ele concebeu uma nova teoria sobre todo o Universo, na qual também dizia que quando as estrelas entram em colapso elas formam buracos negros”, e que nessa época acredita que eles eram apenas hipóteses matemáticas, necessárias para fechar a conta, mas “que não existiam, que eles eram só produtos da matemática”, mas era algo que o incomodava disse Al-Khalili na entrevista a BBC.

A questão quântica era um estado chamado emaranhado, hoje chamado de entrelaçamento quântico, um estado da partícula onde havia um colapso da função de onda, e assim, a existência real da partícula ficava numa realidade “adjacente” que é justamente o entrelaçamento, Einstein, Poldoski e Rosen escreveram um artículo que por seus nomes ficou chamado de EPR no qual diziam que a partícula sempre estava presente e rechaçavam a hipótese de um “terceiro estado”, que mais tarde ficou provado.

Os buracos negros não só existem, como já foram feitas fotos (uma famosa foi publicada em abril de 2019), que na verdade são feitas por algoritmos que mapeiam os efeitos magnéticos em torno dele, e assim constroem uma imagem, agora sabe-se que são numerosos e existe até alguns dentro de nossa galáxia, a Via Láctea.

As forças universais cada vez despertam mais curiosidade e também medo, um grande cometa foi descoberto recentemente e teve seu nome batizado com o nome do brasileiro Bernardinelli que faziam doutorado em cosmologia nos EUA, chamado de Bernardinelli-Bernstein (C/2014-UN271) possui 150 quilômetro de diâmetro e poderá ser visto em 2031, porém são os meteoros que povoam a imaginação de apocalíticos de plantão, eles são numerosos e imprevisíveis, alguns são descobertos momentos antes de passarem próximos ao nosso planeta.

A Nasa iniciou uma missão de teste na tentativa de redirecionar asteroides, o projeto chamado Dart (Double Asteroid Redirect Test) vai tentar enviar uma pequena espaçonave para colidor contra Dimorphos, “lua” do asteroide Didymos, numa tentativa de alterar sua rota, não representa perigo ao planeta, por isto é apenas um teste.

O universo é misterioso, pouco ainda conhecemos dele, 68% é feito de energia escura (foto), e essa energia não se dilui na medida que o universo expande (o princípio da entropia), e se esta expansão é cada vez mais rápida, como supunha Einstein, isto pode levar a algumas conclusões curiosas, como como o fato que esta “energia” estranha surge nesta expansão.

Olha para o Universo e seus mistérios deveria nos devolver a humildade do quão pouco sabemos, o quão admirável é o mistério da vida e nosso destino como pessoa e como planeta.

 

Vulcões e possibilidades de terremotos

24 nov

Além da crise civilizatória, as forças da natureza parecem estar mais despertas que o normal, o vulcão das ilha La Palma, do arquipélago das Canárias, território da Espanha, desperta grande interesse pelo volume de lava que espero chegando perto já de dois meses e sem dar sinais de trégua.

Os terremotos, o número de bocas abertas pelo vulcão (já são 5), a gravidade da situação da ilha que apesar de estar confinada ainda não foi feita nenhuma evacuação de grande volume, tem suscitado debates até mesmo no mundo científico, o último é sobre um terremoto de profundidade 3,4 ou 34 km que aconteceu nestes dias, isto porque a profundidade menor indicaria novas bocas de lavas e um maior risco para a alguma mudança abrupta na estrutura da ilha que é composta de falhas no seu interior e falésias, grandes depressões rumo ao mar.

Há vários terremotos ativos, alguns são do tipo estramboliano, são vulcões com erupções explosivas como emissão de lava essencialmente efusiva, e ejeção de cinzas e gazes como enxofre, em lavas incandescentes, também lançam bombas vulcânicas de rochas que são lançadas de dezenas a centenas de metros de altura, o vulcão Cumbre Vieja de La Palma é deste tipo, além do aspecto chamar mais atenção é de fato mais perigoso, pelos terrenos onde as lavas podem chegar, pelos gazes e em alguns casos pela deformação do terreno.

Eles estão ligados aos terremotos que são resultados das movimentações das placas terrestres, e a preocupação maior não é esta ilha situada no Oceano Atlântico, mas porque ela pode ser a representação em pequena escala do que pode acontecer numa escala maior no oceano pacífico onde há um grande círculo de fogo, nome dado a uma grande junção planetária de regiões de vulcões e terremotos bastante frequentes e onde é especulado a possibilidade de um Big One, um grande terremoto a partir da falha de San Andres, na placa americana.

A possibilidade real em La Palma é um pequeno tsunami próximo a ilha, as consequências seriam sem dúvida devastadoras, seriam de grandes terremotos no círculo de fogo, ou a erupção de grandes vulcões como a cadeira vulcânica Yellowstone, o vulcão Havaiano Kilauea sobre os quais existem apenas especulações sensacionalistas.

As consequências em La Palma ainda é uma incógnita, mas o vulcão continua ativo e ao contrário de acalmar, estes dias foram de grandes explosões e terremotos fortes.

 

A crise civilizatória

23 nov

Não é apenas uma ideia dos apocalípticos, dos pessimistas e dos gostam de tragédias, espíritos sombrios que não refletem realmente sobre a realidade, são aqueles que pensam o humanismo, que olham para uma vida polarizada, fragilizada e impotente diante de uma pandemia (veja a Europa no post anterior) é a crise da fragilidade que não se vê frágil.

Arrogantes, pseudossábios, e pseudoprofetas estão de plantão, porém mesmo um otimista como Edgar Morin se dobra ao perceber um sistema que não consegue lidar com seus problemas fundamentais, ele se desintegra, assim começou sua recente palestra sobre a metamorfose da humanidade, disse no evento: “ele se torna ainda mais bárbaro”, mas lembra que esta não é a primeira e provavelmente não é a última metamorfose da humanidade, fomos na origem (ele disse por mais de 100 mil anos) caçadores e coletores.

Não tinha exército, nem estado e nem classes, mas aos poucos alguns grupos queriam dominar os outros, isto aconteceu na Índia, na China e no Oriente Médio, nos Andes onde se organizou um Império Inca e no México (onde fez a palestra).

Estas sociedades se metamorfosearam para melhor ou pior, ele não fez uma afirmação sobre isto, porém pensa que uma metamorfose sobre os nossos Estados-nações é possível.

Afirma que é preciso ter esperança, mas esperança não é certeza, a esperança que no passado era uma crença agora, porém se a esperança existe ela é o fermento necessário para grandes transformações, e fica subentendido que é neste momento que estamos vivendo esta realidade, num mundo pós-moderno ou pós-pós-moderno, há uma transformação.

Resta-nos saber qual nos leva a destruição, e qual é verdadeiramente portadora da esperança, não dá grandes dicas, mas façamos um exercício.

A primeira grande destruição é a guerra, com o arsenal de armas ultra potentes, até mesmo interplanetárias, há vários objetos em torno do planeta, é preciso defender a paz com a mesma força que defendemos a justiça, uma guerra agora seria uma catástrofe.

A segunda grande destruição é o desiquilíbrio social, a insegurança e a falta de um plano sustentável para o uso dos recursos naturais, os grandes encontros discutem apenas a questão da poluição e o desmatamento em algumas regiões do planeta, quando deveriam discutir o planeta como um todo, a natureza dá sinais de esgotamento e é previsível um maior desiquilíbrio nas forças naturais, de proporções planetárias.

Como afirma Edgar Morin é preciso ter esperança, já passamos outras etapas do processo civilizatório por situações parecidas, claro que a proporção agora é planetária.

Edgar Morin – Do esgotamento à metamorfose dos sistemas – YouTube

 

Alerta covid e festas natalinas

22 nov

A Europa volta a se preocupar com os índices de infecções da Covid, quando tudo parecia caminhar para um desfecho feliz de final de ano, a chegada do inverno, a pouca vacinação e as dúvidas sobre as vacinas até mesmo por parte dos profissionais da saúde, fizeram os índices voltarem a crescer.

A Alemanha registrou na quinta feira passada um recorde diário de 50 mil novas infecções em 24 horas, na Rússia 40 mil casos, nações do Leste europeu: Eslovênia, Croácio, Geórgia, Eslováquia e Lituânia tem os maiores índices de novos casos da doença, também na França e Reino Unido o número de casos é crescente (figura ao lado).
Portugal que tem o mais alto índice de vacinação, perto de 90%, vai voltar a tomar medidas preventivas como o uso de máscaras, na Áustria e Holanda há medidas de lockdown, os protestos contra esta nova medida de restrição provocaram enfrentamento com a polícia no final de semana.

Em entrevista dada a BBC, Hans Kluge, diretor regional da OMS afirmou que podem ter 500 mil novas mortes na Europa até março caso as medidas não forem tomadas.

Estamos num clima quente, a média móvel de casos e mortes no Brasil é decrescente, porém as festas e um certo relaxamento nas medidas preventivas é preocupante, não há medidas em nenhuma parte do país preocupadas com uma possível nova onde, ela parece distante, mas lembremos do carnaval de 2019 quando havia alguns sinais e não nos preocupamos, as consequências vieram em março daquele ano.

As medidas em shopping, supermercados, shows e praças esportivas estão totalmente relaxadas e só saberemos os reflexos no início do ano de 2022, mesmo que seja apenas preventiva, estas medidas podem ajudar a evitar um novo surto que deixaria o país ainda mais em desespero, o que observamos é uma preocupação apenas em liberar, o ano das eleições se aproxima e ninguém quer tomar medidas impopulares, mas a saúde deveria estar em primeiro lugar, até mesmo em relação a economia já em crise.

Se vamos pagar para ver, o custo poderá ser alto.

 

A verdade entre os homens

19 nov

Gadamer estabelece a necessidade da correferência para a construção da verdade entre os homens, também o filósofo Sócrates dizia que a verdade não está com os homens, mas entre os homens, assim todo discurso autorreferencial, mesmo aquele apropriado por um grupo deixa de Ser uma verdade crescente (a eterna só pela fé ou crença) e se torna apenas uma retórica.

Emmanuel Lévinas (1906-1995) desenvolveu o aspecto da finitude humana, como aquela que dá ao uma totalidade provisória, em seu livro Totalidade e Infinito onde discorre sobre o tema da alteridade, com uma questão central que é de não se poder objetivar o Outro, e não se trata de subjetividade, mas a possibilidade de pensarmos o Outro na sua Alteridade absoluta, dito de outra forma, como um totalmente outro.

Seu livro não pode ser compreendido sem uma análise concentrada em Husserl e Heidegger por causa de sua opção fenomenológica na qual é afiliado, assim desenvolve neste primeiro capítulo a categoria da alternidade, enquanto o segundo tratará da interioridade, ali aparecem noções de categorias como: gozo, economia, casa, posse, trabalho e feminino um tema tão atual na questão do gênero e reflete as relações do Eu com o real, possibilitando a edificação de um ser ao mesmo tempo separado e aberto ao exterior.

Assim o terceiro capítulo relaciona-se a exterioridade que fundamenta uma ética proposto por Lévinas, como se dá ou se constrói, no Ser, uma abertura através da análise das categorias do Infinito, Rosto e Exterioridade, elas são fundamentais para a compreensão do universo levinasiano.

O problema da finitude humana no aspecto da verdade pode remeter a uma transcendência diferente da proposta idealista, onde o imperativo categoria está ligado ao conceito de subjetividade: “age de tal forma que seja modelo para os outros”, assim é possível desenvolver num universo pessoal uma ética, enquanto para Lévinas, como é também para Gadamer e era para Sócrates, só pode existir a verdade num processo de dialogia com o Outro e com o exterior, todo fechamento é autorreferencial.

Assim o “Outrem permanece infinitamente transcendente, infinitamente estranho, mas o seu rosto, onde se dá a sua epifania e que apela a mim, rompe com o mundo que nos pode ser comum e cujas virtualidades se inscrevem na nossa natureza e que desenvolvemos também na nossa existência” (Lévinas, 2008), aqui uma epifania só humana.

Aproximamos das festas do Natal, na liturgia cristã é a festa da epifania divina, a manifestação divina aos povos, para muitos apenas na festa dos reis magos ou no batismo de Jesus, mas para aqueles que pensam que a verdade está “entre os homens”, a presença do Deus Conosco (o Emanuel) acontece desde o nascimento do menino-Deus.

No texto bíblico (Jo 18, 37) ao ser indagado por Pilatos se Jesus era o rei dos Judeus, responde: “Tu o dizes: eu sou rei. Eu nasci e vim ao mundo para isto: para dar testemunho da verdade. Todo aquele que é da verdade escuta a minha voz”, assim esta verdade entre os homens também é estabelecida para a cultura cristã como o verbo encarnado.

 

Verdade e finitude humana

18 nov

Não apenas Hans Georg Gadamer escreveram sobre a verdade em relação a finitude Humana, também Emmanuel Lévinas desenvolveu o tema.

Em Gadamer a conclusão sobre a verdade da experiência humana é a consciência de sua finitude, ou seja, é conhecer seus próprios limites, saber que não é senhor do tempo e do futuro, em dias atuais que não é senhor da natureza e de seu comportamento, o grande ideal iluminista, e assim tem seus limites e seus planos são inseguros.

Assim, em Gadamer, a questão da retórica e do discurso não são propriamente uma questão e a indagação não é verdadeiramente posta em causa, para estar apto a interrogar é preciso querer realmente saber a verdade e ela pode estar fora dos limites de quem pergunta, diz em seu texto:

“Para pergun­tar, é preciso querer saber, isto é, saber que não se sabe. E no intercâmbio de perguntas e respostas, de saber e não saber, descrito por Platão ao modo de comédia, acaba-se reconhecendo que para todo conhecimento e discurso em que se queira conhecer o conteúdo das coisas a pergunta toma a diantei­ra. Uma conversa que queira chegar a explicar alguma coisa precisa romper essas coisas através de uma pergunta” (GADAMER, 2008, P. 474).

Assim ela estará inscrita para além dos preconceitos, e na constituição de novos horizontes, assim compreender o texto  ou um fragmento do passado, para Gadamer é entende-lo a partir da questão que deve ser vista como um processo de contínua fusão ou alargamento de horizontes pelo qual o interprete participa com os outros no longo e árduo caminho do sentido, vai além do ponto de vista iluminista romântico e histórico que é inaceitável: a linguagem simbólica e plural, própria da narratividade das coisas.

Porém o que isto significa? o que isto significa para a hermenêutica filosófica que reconhece a finitude humana, não existe de imediato a possibilidade de uma coincidência com o real, pois toda compreensão humana é linguísticamente mediada como toda linguagem é, na visão aristotélica, uma hermeneia (intérprete) originária do real e isto pode ser ampliado para as culturas, para os povos e em especial para os povos originários fontes primárias do discurso e de sua linguagem própria.

Como o homem é finito, só na linguagem seu poder dialógico fundamental pode alcançar o que a filosofia ocidental chama de objetividade (idealidade própria), mas deve ultrapassar o ponto de vista do sujeito transcendental anônimo (a subjetividade idealista) para atingir a dimensão de co-referência dos homens concretos, dos outros.

A concretude é assim a palavra que descentra e interpela, coloca na alteridade o que é dito, e a sua perspectiva em traçar uma fusão de novos horizontes não acabam.  

 

GADAMER, H.G. GADAMER, Hans-Georg. Verdade e Método I. Traços fundamentais de uma hermenêutica filosófica. 10.ed. Petrópolis: Vozes, 2008.

 

A verdade e o método

17 nov

Hans Georg Gadamer é o herdeiro da hermenêutica ontológica de Heidegger, e desenvolveu a hermenêutica filosófica através de sua obra prima Verdade e Método, publicada pela primeira vez em 1960.

Para desenvolvê-la precisou revolucionar a hermenêutica ocidental moderna, através da crítica da estética, a teoria da compreensão histórica e o desenvolvimento da ontologia da linguagem, para complementar o método heideggeriano do círculo hermenêutico.

A publicação de Verdade e Método significa ainda nos dias de hoje, um estudo novo na ciência da interpretação e que entra numa importante fase denominada hermenêutica filosófica, que deve auxiliar as disciplinas humanas a buscar a partir da experiência a compreensão do próprio ser, constituindo uma nova tentativa filosófica de avaliar a própria compreensão como um processo de conhecimento do estatuto ontológico do homem, fundando assim uma nova antropologia.

Enquanto filosofia da linguagem, estamos em pleno processo da viragem linguística, não se constituem apenas o acesso à coisa e não a verdade, pois também a correspondência entre palavra e coisa só ocorre quando se conhece a coisa, dessa forma o aprendizado (ensino, busca, pergunta, resposta e a própria informação) só é feito pelo pensar que conduz as coisas ao mundo das ideias, e assim as palavras não passam de representação de signos ao qual se atribuem sentido. e começa seu estudo por Humboldt.

Foi Wilhelm von Humboldt que utilizou a teoria da “força do espírito” humano como fonte produtora de línguas, a tese dele aborda uma “filosofia idealista que destaca a participação do sujeito na apreensão do mundo, mas também a metafísica da individualidade, desenvolvida pela primeira vez por Leibniz” (GADAMER, 2008, P. 568).

Como forma de questionar a história desenvolvida de modo idealista, Gadamer ao fazer a crítica de Dilthey parte do pré-conceitos, onde o historiador “submete a alteridade do objeto aos próprios conceitos prévios” (Gadamer, 2008, 513), e está assim ilustrado em seu texto: “apesar de toda metodologia científica, ele se comporta da mesma maneira que todo aquele que, filho de seu tempo, é dominado acriticamente pelos conceitos prévios e pelos preconceitos do seu próprio tempo” (Idem).

Para uma nova compreensão, como ponto de partida para uma nova antropologia, interpretar não é um meio de se chegar a compreender, mas entrar no próprio conteúdo do que se quer atribuir um sentido de forma unitária ou unilateral, mas que a “Coisa de que fala o texto vem à fala” (GADAMER, 2008, p. 515).

O texto no final questiona a própria linguística que afirma que cada língua realiza isso à sua maneira, porém o autor ressaltar outro foco procurando uma unidade entre o pensar e falar, isto se infere ao fato que qualquer tradição escrita só pode ser compreendida, apesar da grande multiplicidade das maneiras de falar, identificando uma unidade existente entre a linguagem e pensamento, pensamento e fala, e neste caso qual é a conceitualidade de toda compreensão? A interpretação conceitual é o modo como se realiza a própria experiência hermenêutica. 

Como toda compreensão é uma aplicação da linguagem, o intérprete está sempre em um desenvolvimento contínuo de conceitos, a linguagem se mantém viva tanto no falar como no compreender todo o processo de compreensão, interpretação e pensamento.

GADAMER, H.G. Verdade e Método I. Traços fundamentais de uma hermenêutica filosófica. 10.ed. Petrópolis: Vozes, 2008