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Arquivo para janeiro, 2022

Covid 19: avanço do número de mortes

31 jan

O ritmo e a curva em cada país são diferentes, a Europa ainda em pleno inverno viu a curva aumentar exponencialmente e só depois tomaram medidas sanitárias, em alguns países inclusive com lockdown, os países asiáticos em especial China e Japão enfrentaram com medidas rigorosas de isolamento e tiveram sucesso no controle da nova onda, as olimpiadas de inverno que estão para começar em Pequim não terão público e as medidas para as delegações tem sido de um rigoroso controle de testagem.

Uma epidemiologista da OMS Maria D. Kherkhove alertou para a suposição de que o vírus ficará mais suave com as mutações: “Não há garantia disso”, é claro esperamos que sim: “mas não há garantia disso e não podemos apostar nisso”, justificando que medidas sanitárias continuam sendo extremamente necessárias.

No Brasil observa-se um número crescente tanto de infecções diárias, que se aproximam do recorde de 200 mil (gráfico), e um aumento de mortes diárias que ultrapassa as 800, com uma média móvel em torno de 500, o aumento é significativo e não há nenhuma tendencia de estabilização ou queda visível, vários estados registram alta, apenas Pernambuco, Pará e Rondônia registram estabilidade.

A política que acredita, por hipótese, que a pandemia está passando ou pode tornar-se uma endemia é ainda sem dados científicos claros, a própria gravidade da ômicron que é menos letal não tem uma avaliação precisa, trabalhar no preventivo quando se trata da vida é o mais prudente que as autoridades podem fazer.

Esperamos e como dissemos na semana passada, acreditamos no poder do pensar positivo e acreditar na esperança, que tudo pode estar próximo a um fim da pandemia, porém é necessário ainda cautela com decisões que liberam as pessoas e os eventos públicos que podem ser responsáveis por um número maior de infecções e mortes.

 

Forças cotidianas para a paz

28 jan

Assim como podemos cultivar, a partir de nosso pensamento, em palavras e atos diversas atitudes que levamos ao dia-a-dia para a paz ou para sua ausência, podemos entender que não apenas a meditação, oração ou invocação da presença de alguém superior possa levar o mundo mais próximo ou distante da paz, são atitudes que brotam no coração.

Tomás de Aquino estabeleceu que a fé é um suplemento da razão, acreditar e ter esperança significam uma atitude de fé num futuro melhor, em tempos de pandemia e as suas consequências podem ser mais difíceis as atitudes positivas se pensamos apenas individualmente, mas se entendemos que é um problema social e que cabe a todos colaborar e aprofundar laços de solidariedade e ajuda mútua pode-se caminhar e evoluir para a paz.

A dificuldade de entender estes valores é porque nos fixamos em nosso pequeno mundo ao redor, ao invés de ouvir vozes mais amplas que clamam por Paz e solidariedade em todo o mundo, é preciso dar voz também aos que estão próximos e pedem por maior colaboração, conforme alerta a Bíblia Lc 4,24: “em verdade eu vos digo que nenhum profeta é bem recebido em sua pátria”, todos pensam por ser uma pessoa comum que suas palavras valem pouco ou que não deveria ser levada muito a sério, conforme esta passagem, logo após a leitura do trecho de Isaias em que Jesus confirma sua missão (libertar os cativos, dar visão aos cegos e anunciar a Boa Nova aos pobres) as pessoas de sua cidade Nazaré diziam: “Não é este o filho de José ?“, assim não poderiam as pessoas comuns expandir e propagar a boa nova e anunciar a paz.

É das ambições de poder e influência que os poderosos ampliam os conflitos e estendem suas redes, elas não trazem maior solidariedade ou sabedoria, trazem uma confusão de ideias e a profusão da divisão no seio social em situações de conflito e incompreensão.

A paz precisa de uma pausa de solidariedade, o reconhecimento que mesmo estando em menor condição de força, tem também seu direito a vida saudável e a paz social.

A guerra é sempre um contrassenso do que é justo e bom para todos, é assim uma visão unilateral da verdade que em geral desconhece o anseio e pensamento da pessoa simples.

 

Há forças que podem mudar uma catástrofe

27 jan

A ideia de alguma catástrofe eminente para acontecer está no ar, não são apenas apocalípticos, mas cientistas da natureza que veem o esgotamento planetário (geleiras, extinção de espécies, alterações climáticas, terremotos, etc.), cientistas políticas sobre o tensionamento ideológico que volta a lembrar a guerra fria, e seria possível evitar ou ao menos ter uma reação positiva perante ela, a pandemia parece que foi um treino e o ensaio não parece bom.

Uma das descobertas misteriosas recentes feita por astrônomos é de um objeto em nosso “quintal galáctico”, que significa a 4 mil anos luz, foi encontrado um objeto espacial, já que ser uma estrela de neutros ou anã branca são apenas hipóteses, no qual este objeto produz poderosos raios de energia, o objeto estranho (foto) lança o feixe de poderosa energia que cruza a linha de visão da terra observado por astrônomos e publicado na revista Nature (disponível em ICRAR), são algo incomum nas observações espaciais.

Natasha Hurley-Walker, do Centro Internacional de Pesquisa em Radioastronomia da Universidade de Curtin, lidera a equipe que fez a descoberta e declarou: “Este objeto estava aparecendo e desaparecendo durante horas em nossa observação …. foi meio assustador para um astrônomo porque não há nada conhecido no céu que faça isso”, declarou.

Há também forças poderosas que agem em nosso meio, não se trata apenas de explorações baratas de orações ou sentimento positivo que possam levar a melhoria de um ambiente e das pessoas, um conjunto de palavras e ações levadas num sentido positivo para determinado problema pode e deverá conseguir resolver ou mudar situações em que o problema ou condições são grandes.

Além da pandemia, que alguns querem decretar o fim como se fosse simples assim, temos a tensão de uma guerra eminente, e não devemos ter dúvidas que todas as pessoas que possam falar, pedir, meditar ou orar para que uma atrocidade deste tamanho não ocorra devem fazê-lo, na guerra só os civis, os pobres e os mais fracos que sofrem, não há nenhuma solução palpável ou saudável que venha de catástrofes provocadas.

 

Um apelo para a paz

26 jan

A tensão nas fronteiras entre a Rússia e a Ucrânia crescem, depois de estacionar mais de 100 mil homens na região norte da Russia, ao norte, enquanto uma boa região da Ucrania segue com conflitos onde estão as cidades de Luhansk e Donesk, onde os rebeldes pró-Rússia ainda controlam parte do território e é uma região onde mais de 50% da população fala o russo como língua nativa.

A crise teve já um apogeu em 2014, quando os ucranianos depuseram o presidente pró-Rússia Viktor Yanukovych, em manifestações que ficaram conhecida como EuroMaidan porque a maioria dos ucranianos apoiavam a adesão à Zona do Euro e o presidente não, após diversas batalhas, algumas sangrentas com lutas armadas, o presidente foi deposto e foi eleito Petro Poroshenko, que prometia combater a corrupção e pacificar o pais, e em 2019 foi eleito o roteirista e ator Volodymyr Zelensky, a Ucrânia é semipresidencialista, então o primeiro ministro efetivamente governa, atualmente é Denys Shmygal.

As eleições acontecerão no próximo ano e o presidente ocupa a terceira posição, assim a Rússia sabe da fragilidade interna, enquanto tornar a Ucrânia um país da Otan significa a derrota das forças pró-Russia que atuam na região da Luhansk e Donesk.

As conversações que acontecem hoje com a presença da França, Alemanha e da Ucrânia com a Rússia terá como pauta principal a questão do conflito interno no norte da Ucrania, já que os Estados Unidos e o Reino Unido seguem uma linha de confronto com Putin e não descartam punições econômicas, e em caso de invasão retaliações, ambos países já enviaram tropas e armamentos de apoio à Ucrânia, também o fizeram a Lituânia, Estônia e Letônia, enquanto a Bielorrússia (que faz fronteira com a Ucrânia) recebeu caças e armamentos.

A Rússia fez exercícios bélicos no Mar Negro e deverá fazer um treino conjunto com a Bielorrússia no próximo mês, na medida que as negociações aumentam Putin ao mesmo tempo que aumenta a pressão com forças militares nas fronteiras repete que não pretende invadir a Ucrânia, mas a lista de exigências que faz é enorme, a principal delas é que a Ucrânia não ingresse na Otan, mas não cede em nada.

A posição da China é discreta até o momento, basta lembra que a China é a maior parceira comercial da Ucrânia e grande compradora de grãos e carne.

Entretanto a crise atual já é comparada a crise dos misseis em Cuba na década de 60, mais precisamente em 1962 em que o mundo ficou perto de uma guerra mundial.

No dia de hoje (26/01) os sites do governo da Ucrânia sofreram forte ataque de Hacker entretanto poucos sistemas do governo ficaram fora do ar, em resposta o sistema de ferrovias da Bielorrussia sofreu um ataque atrapalhando os comboios russos. 

 

James Webb chega no seu destino

25 jan

A exatos um mês o novo observatório Espacial James Webb (JWST Nasa) chegou ontem as 17 h (horário de Brasília) em uma região onde com um mínimo de gasto de combustível poderá se manter em órbita, chamado ponto de Lagrange L2 que na verdade é uma região entre a Terra e o Sol onde a força centrípeta (de atração) é equilibrada com uma força centrífuga.

Na verdade, são regiões e por isto chamadas de ilhas orbitais, todo planeta do sistema solar tem Pontos de Lagrange e na medida que se distanciam do Sol estas ilhas são maiores, a ilha relacionada com a terra tem cerca de 800.000 km de largura, o que em termos espaciais é pequena, o ponto L2 por exemplo, está a 5 milhões de km da Terra e ainda muito longe de Marte, 57.6 milhões é a distância do nosso planeta vizinho.

As observações ainda vão demorar 5 meses para calibrar todo equipamento, ajustar o espelho e apontar para os primeiros alvos.

Agora serão 5 meses de trabalho para que Webb envie as primeiras imagens no seus “alvos no universo infravermelho”, não vai procurar exoplanetas ou novos pontos, mas apontar para pontos conhecidos e fazer medidas mais precisas e com maior definição, os espelhos do Webb (hexagonais) que deverão ter um ajuste complicado e fino vai ter um pode ter até 5 vezes o poder dos espelho do Hubble, além de usar uma tecnologia mais sofisticada que é o infravermelho, onde pode “ver” observando a luz fortemente “desviada para o vermelho” de objetos distantes e pode perscrutar mesmo através de nuvens de poeira obscura, poderá peneirar atmosferas de exoplanetas identificando gases em maior precisão.

Mais de 1.000 equipes de astrônomos de todo o mundo solicitaram tempo no Webb em seu primeiro ano e 287 já tiveram a sorte de serem pioneiros, entre as perguntas destas equipes estão olhar os oceanos cobertos de gelo nas 27 luas de Urano, os gigantes gelados Urano e Netuno podem explicar muito da origem do sistemas galácticos, olhar os buracos negros que são do tamanho médio e resolver medições conflitantes na taxa de expansão do universo e de um modo geral usarão o Webb para dois temas dominantes: tempo e distância entre extremos opostos no universo: o universo primitivo e os sistemas planetários mais próximos e seus dilemas.

Além destes grandes temas um tema que desperta curiosidade, embora seja por um aspecto infantil de alienígenas, é o que se chama bioassinatura, ou seja, condições reais de vida, que na verdade não encontram “seres” mas as condições de existência passada ou futura deles são: gasosas, produtos diretos ou indireto do metabolismo dos seres vivos, de superfície, de resultados espectrais resultantes da radiação refletida por organismos, e, temporais que são respostas relativas a mudanças sazonais na biosfera onde há por exemplo, variação diurna e noturno de CO2, podem ser algumas bioassinaturas encontradas, seres ainda fica para a imaginação, é claro que alguma forma biológica pode haver num espaço tão infinito de probabilidades.

 

Faltam dados e sobram fatos

24 jan

A Covid avança e embora a predominância seja da variável ômicron, já há uma nova variante IHU detectada na França, a pouca testagem e o número de casos assintomáticos indicam que os números podem ser bem maiores e por isto alarmantes, se de fato muitos casos são leves, a expansão é grave porque pode levar a muitas pessoas com as comorbidades necessárias para tornar os casos complicados.

Todo mundo tem um parente, amigo ou conhecido com a Covid agora, isto além das figuras públicas: jogadores e técnicos, jornalistas, apresentadores de televisão, artistas, etc. o número de casos é provavelmente muito maior do que as estatísticas públicas que são divulgadas.

A vacinação de crianças começou, mas é importante dizer que o maior número de internados continua sendo de adultos, não são dados precisos, mas basta perguntar a algum amigo ou parente que trabalhe em unidade de saúde para confirmar, assim é preciso também uma política de protocolos para os adultos, muitos cientistas e autoridades, a própria OMS, insistem que a pandemia não acabou.

Pela poderá tornar-se uma endemia é verdade, podemos caminhar para lá em alguns meses dizem alguns da comunidade científica, como a BBC, expressando a opinião do professor David Heumann, de epidemiologia de doenças infecciosas da Escola de Higiene e Medicina Tropical de Londres: “ela continuará por um bom tempo tornando-se endêmica”, disse referindo-se ao fato que todos os vírus tornam-se endêmicos e são tratados de modo sazonal como as gripes e outros coronavírus.

Mas o próprio jornal faz questão de ressaltar que a Covid-19 evoluiu de forma bastante imprevisível e, segundo especialistas, a variante Delta poderia ter sido muito pior, o fato é que naquele caso houve uma política sanitária e um enfrentamento da pandemia, agora tanto o público quanto as autoridades parecem pensar que a variante ômicron é boa, há até quem ache o absurdo que seria bom a tal “imunidade de rebanho”, isto é, a grande maioria das pessoas terem passado pelo vírus.

O diretor geral da OMS Tedros A. Ghebreyesus declarou na semana passada: “Não se enganem, a ômicron provoca hospitalizações e mortes, e mesmo os casos menos graves submergem os estabelecimentos de saúde”.

Lembramos que esta era a tese negacionistas original, e reafirmá-la agora, mesmo reconhecendo que a variante predominante hoje é menos grave, seria um erro muito grande.

 

A linguagem e a empatia

21 jan

José Saramago expressou assim sobre a opinião que as pessoas têm sobre diversos assuntos: “O problema não é que as pessoas tenham opiniões, isto é ótimo. O problema é que tenham opiniões sem saber do que falam”, em tempos de mídias sociais é muito comum repetir ilustres desconhecidos porque disseram uma frase de impacto, porém quando se coloca num contexto adequado ou se penetra no assunto em questão, pode-se ter uma opinião mais sensata.

Tudo é polêmico hoje e de certa forma quase tudo tornou-se mera opinião, a doxa dos gregos, neste contexto o problema da linguagem se extrapola e a empatia é cada vez mais rara na linguagem cotidiana, se o problema na origem da sociedade moderna na antiguidade clássica era o sofisma, tudo se argumentava apenas para agradar o poder vigente, o problema hoje é ver isto disseminado na linguagem cotidiana, o cuidado com a linguagem, o respeito ao outrem e a escuta respeitosa devem fazer parte da linguagem empática.

Não é a política central apenas que se deteriorou, ou a democracia que entrou em crise, as escolhas de líderes salvadores da pátria, a pouca discussão dos problemas de fato que atingem a população, em plena expansão pandêmica pouco se fala de medidas efetivas contra ela, só para dar um exemplo grave, todo o problema parece ser a vacinação das crianças, que é urgente sem dúvida, porém todos tem diversos casos de infecção familiar ou próxima nas vizinhanças onde mora.

Reeducar a linguagem cotidiana, reintroduzir o respeito a qualquer cidadão, de qualquer raça, cor ou religião, deveria ser um esforço comum para melhorar a empatia social.

Até mesmo na linguagem religiosa, antes extremamente respeitosa e amorosa parece evoluir uma concepção mais separatista e isolacionista onde o diferente é isolado e malvisto.

É preciso encontrar espaço, tempo e local onde as verdades primeiras possam ser ditas, onde as culturas originárias possam se manifestar e serem ouvidas.

Em muitas culturas, religiões e teorias há um nó central lá onde as verdades mais profundas estão ditas.

A passagem bíblica em que Jesus revela quem de fato é e a que veio deveria ser o ponto central de análise de sua linguagem e sua missão, foi a Nazaré cidade onde fora criado e podia ser visto como uma pessoa comum, uma atitude empática, indo a sinagoga em dia de sábado deram o livro do profeta Isaías (Is 61,1-2) e ali Ele leu: “O Espírito do Senhor está sobre mim, pois ele me consagrou com a unção para anunciar a Boa-Nova aos pobres: enviou-me para proclamar a libertação dos presos e, aos cegos, a recuperação da vista; para dar liberdade aos oprimidos, enviou-me para proclamar um ano de graça da parte do Senhor”, fechou o livro e depois surpreende a todos ao dizer: “hoje se cumpriu esta passagem da Escritura que acabastes de ouvir” (Lc 1,14-21).  (Na foto a assinatura do profeta Isaías, National Geographic).

 

Linguagem verbal, mista e mística

20 jan

Linguagem verbal é aquela que encontramos somente palavras (pode ser a oralidade primária, secundária ou a escrita), enquanto a linguagem não verbal envolve gestos, signos visuais, imagens, figuras, desenhos, fotos, cores e até mesmo música, porém a comunicação pode se realizar além do gesto e então torna uma comunicação mística.

Não é específica das religiões, pessoas próximas, amantes e mesmo crianças podem se comunicar com esta perfeição sem o uso exclusivo da linguagem verbal ou escrita, ela é além da autossugestão envolve o tema que desenvolvemos mais atrás da empatia, o vigor de uma relação amorosa ou simplesmente uma abertura grande de alma.

Porém a linguagem mística para se fazer revelar para muitos e ser compreendida usa de recursos míticos, figuras de linguagens, parábolas e até mesmo a poesia, como já pensava Heidegger que considerava ela uma “outra função” da linguagem, os versos são ricos em metáforas, símbolos e estórias como a da passagem do samaritano que socorre uma pessoa que foi assaltada e agredida na estrada para explicar que o socorro ao Outro, a misericórdia com quem sofre e a ajuda é sempre uma “vontade” divina para o homem.

Porém ocorre que muitas passagens são lidas e analisadas fora do contexto ou fora do significado hermenêutico de sua realização, se no passado foram necessários vários recursos linguísticos para ler documentos místicos, entre eles a Bíblia, o Alcorão ou o livro de Vedas, não significa que eles possam ser lidos sem a hermenêutica necessária.

Também atualizá-los apenas para fazer uso política, seja qual for a tendência ideológica que o realize é uma hermenêutica suspeita porque depende de determinada concepção histórica, e sabemos que o texto sagrado, salvo sua leitura contextual, deve remeter a uma realidade divina atemporal e aespacial (embora o termo não exista), mas considerando a vida terrena de todos que a leem, é nisto que deve-se fundamentar uma boa hermenêutica.

A Bíblia não significa outra coisa senão aquilo que foi escrito a partir de uma palavra verbal, os evangelhos cristãos representam uma revisão e uma releitura dos fatos e relatos verbais dos primeiros tempos dos cristãos que se iniciou com a vida pública de Jesus, período de domínio do império romano e no qual além dele muitos outros se diziam profetas.

A linguagem mística encontra correspondência quando determinada alma está em sintonia com a “vontade divina”, no dizer cristão, atenta ao Espírito Santo e tendo uma graça especial para isto, o que é muito diferente de influenciadores comuns em nossos dias devido aos poderes midiáticos e aos apelos as nossas necessidades humanas, deve-se estar atendo ao divino, claro que isto é para aqueles que creem, embora também uma comunicação não verbal perfeita possa perfeitamente acontecer entre os que não creem, mas será desprovida de qualquer revelação divina.

 

Língua, linguagem e cultura originária

19 jan

Na obra de Heidegger: Hölderlin e a essência da poesia, vista em Heidegger (1992) fala da essência da poesia como um tipo de linguagem primordial, uma fala originária que precede e possibilita a linguagem comum, a comunicação, isto remete a uma fusão de horizontes inédita em língua e linguagem, classicamente define língua como: “é um conjunto organizado de elementos (sons e gestos) que possibilitam a comunicação de determinada nação ou cultura”, enquanto linguagem abarcaria um conjunto mais amplo que inclui a capacidade dos seres humanos de desenvolver e compreender a língua, como se fosse possível dissocia-la de contextos, culturas e formas de comunicação ligada a cultura.

A linguagem comum na qual se comunica determinada cultura originária, guarda formas próprias de um código linguístico que é necessário a cada linguagem originária e se desenvolva de modo criativo de forma a preservá-la, diz-se desta fala (ou palavra) que é aquela que nomeia os deuses, e o faz para responder a um apelo cultural.

Se no passado as narrativas incluíam mitos, símbolos e ganchos poéticos para dar conexão a narrativa, hoje não é diferente, há sempre na fala alguma crença e alguma fantasia, sem a qual a linguagem poética seria mero exercício de retórica, e não o é, e este apelo a fantasia, a imaginação e ao transcendente é parte do humano e do divino.

Desejar que toda fala seja pragmática e objetiva é reduzi-la ao contexto da pura lógica formal, também o exercício científico muitas vezes precisa de algum exercício no além, no imaginário para encontrar respostar que não estão ali apenas como uma equação lógica.

Não é puro devaneio, crenças e imaginários sempre fizeram parte da história do humano, é um justo desejo de ir além, de buscar voos mais altos e de imaginar como possível algo além do enfadonho e pesado dia a dia, ainda que ele possa conter alegrias e sabores, o limiar de abertura a diversas culturas originárias não pode estar apenas ligado ao realismo objetivo e simplório.

Na foto acima uma igreja sincrética construída em Kazan, iniciada em 1992 portanto no pós soviético, capital do Tartaristão (república russa, mas de cultura totalmente diferente) onde mesmo com o predomínio do islamismo seguido pela igreja ortodoxa, é ao mesmo tempo um símbolo de resistência ao complexo linguístico russo e capaz de construir uma obra de tão grande significado onde diversas religiões podem se expressar, uma obra eclética do arquiteto Ildar Khanov.

HEIDEGGER, M. Arte y poesía. Buenos Aires: Fondo de Cultura Económica, 1992

 

Verdade e linguagem

18 jan

É possível falar de verdade? ou para fazer uma pergunta mais contemporânea é possível negar a verdade sem cair no relativismo? Só a verdade lógica aquela que vem de Parmênides “o ser é e o não ser não é”, se expressou até muito recentemente como verdade única, porém ela é o fundamento do positivismo e da lógica dualista, a ideia da consideração da historicidade e a circularidade hermenêutica coloca sujeito e objeto no âmbito de uma relação com a linguagem.

Neste âmbito da linguagem da linguagem, a verdade é ressignificada, deixando de ser concebida como única, como descrição fiel, e passando a ser vista como uma redescrição parcial, criativa porém limitada das coisas, como uma interpretação possível em determinado contexto e determinação situação cultural, para isso é preciso compreender a linguagem como algo anterior à linguagem do cotidiano, aquilo que Heidegger chamou a atenção à poética de Hölderlin como a essência da poesia como um tipo de linguagem primordial, uma fala originária que precede e possibilidade a linguagem comum, a comunicação.

De que forma então é possível falar da verdade? Só é possível falar da verdade levando em consideração a historicidade e a circularidade hermenêutica de sujeito e objeto, que estão no âmbito da linguagem. Assim a verdade é ressignificada, deixando de ser concebida como única, como descrição fiel, passando a ser vista como uma redescrição parcial, criativa e limitada das coisas, como uma interpretação entre outras possíveis. Uma possibilidade de se falar em verdade é a partir da linguagem. Mas para isso é preciso recorrer a uma compreensão de linguagem que seja anterior à linguagem do cotidiano, da comunicação. Em Hölderlin e a essência da poesia, Heidegger (1992, p. 125-148) fala da essência da poesia como um tipo de linguagem primordial, uma fala originária que precede e possibilita a linguagem comum, a comunicação;

Sendo a linguagem a mediação da nossa relação com o ser, ela é a que estabelece esta relação, de forma mais clara aquilo que está dito em Heidegger: “aonde o homem assume a exigência de adentar a essência de alguma coisa?  O homem só pode assumir essa exigência a partir de onde ele a recebe.  Ela a recebe no apelo da linguagem … é a linguagem que, primeiro e em última instância, nos acena a essência de alguma coisa” (HEIDEGGER, 2002, P. 167-168).

Assim a verdade deve ser compreendida no âmbito da viragem (ou reviravolta) linguística, a redescoberta contemporânea da importância da linguagem e ela não pode estar separada da historicidade originária, aquela que remete a cultura dos povos e religiões do passado e do presente.  

HEIDEGGER, M. Ensaios e conferências. Petrópolis: Vozes, 2002.