Arquivo para abril, 2022
O Ser, a Dor e a Páscoa
Este é um tempo que não aboliu a Dor, porque conforme desenvolvemos em posts anteriores ela é inerente a existência, porém a condenamos a opô-la ao Ser e a Felicidade, o filósofo Byung Chul Han escreveu: “Justo na sociedade paliativa hostil á dor, multiplicam-se dores silenciosas, apinhadas nas margens, que persistem em sua ausência de sentido, fala e imagem”. (HAN, 2021, p. 57).
Nada é mais paradoxal na pós-modernidade do que a Dor, imagina-se então a Cruz como símbolo de liberação e de vida, alguém poderia até dizer: o absurdo, porém Paulo Apóstolo adverte: “Porque tanto os judeus pedem sinais, como os gregos procuram sabedoria; nós, entretanto, proclamamos a Cristo crucificado, que é motivo de escândalo para os judeus e loucura para os gentios.” (Coríntios, 1:23).
É nesta perspectiva que se explicam violências raciais, de diversas formas de exploração e daquilo que Byung Chul Han chama de “auto exploração”, não precisamos mais que outros nos explorem, nós o fazemos voluntariamente, incita-se a um cotidiano com a marca da contagem e não do Ser.
A Pandemia poderia ser ocasião para a dor solidária, mas foi mais um impulso para a exclusão, para o isolamento, para o fortalecimento das barreiras e das angústias individuais, que explodiram em crise de ansiedade, de diversas formas de ignorar a dor alheia, a ponto de negá-la totalmente.
Demorou, mas na batalha final contra a Pandemia cedemos a fatalidade, ao delírio de festas públicas fora do tempo, o desejo de extravasar e tentar ignorar a dor pelo êxtase das alegrias passageiras, segue um ciclo euforia e depressão.
O que aparece no horizonte deste delírio são guerras ainda mais infernais, desejos de dominação e de mais poder, ignoram-se vidas com justificativas quase sempre absurdas: era inevitável, não há como detê-los sem armas, etc. mais guerras, mais mortes, mais sofrimentos e quebra de mercados.
Ao que parece ignorando a Paixão divina, caminhamos a largos passos para uma “paixão” (de sofrimentos) civilizatória, humanitária e um abismo maior do que aquele que seria conviver e gerenciar as dores de uma civilização e uma pós-modernidade doentes e com horizonte sombrio.
Resta a esperança dos que creem na superação solidária de uma humanidade adormecida, de um centro civilizatório equilibrado que recupere não só o processo de hominização como também a sua solidariedade com a natureza e o universo que vivemos.
Esta é uma leitura possível para a Paixão Divina daquele que por amor suportou as dores humanas, só uma “passagem” pela Dor pode nos fazer entender uma nova humanidade possível.
HAN, Byung-Chul. A sociedade paliativa: a dor hoje. trad. Lucas Machado. Petrópolis: Vozes, 2021.
A dor, a Alma e o Ser
Numa das passagens mais marcantes, ao menos para os que imaginam um mundo além do corporal, Byung Chul Han introduz a narrativa como parte da cura: “A dor sem sentido é possível apenas numa vida nua esvaziada de sentido que não narra mais” (HAN, 2021, p. 46).
Reivindica e inclui até [Walter] Benjamim em “Imagens do Pensamento” que fala de mãos incomuns que transmitem a impressão que seria como “se narrassem uma história” (idem).
Também cita mães que com a “força curativa” sentam ao lado da criança e lhe contam uma história, e após explicar o fluxo narrativo com uma barragem para a dor, conclui: “é a dor que põe primeiramente em [seu] caminho”. (HAN, 20221, p. 47).
Vivemos hoje um tempo pós-narrativa, diz o autor, não é a narrativa mas a contagem que determina a vida, “a narrativa é a capacidade do espírito superar a contingência do corpo” (Han, 2021, p. 48), um corpo sem espírito é um corpo que ignora a própria alma.
Nela “o corpo disciplinado que tem que repelir muitas dores que vem de fora, é pobre de sensibilidade” (pag. 49), uma intencionalidade totalmente diferente o caracteriza, ela não se ocupa consigo mesmo, mas com algo que vem de fora, e é essa “algofobia” que nos domina.
“Essa introspecção narcisista, hipocondríaca, é certamente, corresponsável por nossa hipersensibilidade (à dor), chama isto de “síndrome-da-princesa-da-ervilha” lembrando um conto de Andersen onde a presença de uma ervilha sobre o colchão da futura princesa provoca tanta dor que ela não consegue dormir a noite, e é este tipo de doença que acontece com muitas pessoas.
Este tipo de paradoxo da pós-modernidade é sentir cada vez mais dor, com cada vez menos, ao ponto que a dor não é compreensível, não tem lugar na vida e parece não fazer parte da existência e isto é uma forma de positividade do Ser, onde não há nenhuma negatividade, e torna o Ser não compreensível, ou menos sem qualquer sentido.
Assim diz o autor, “se a ervilha dolorosa some, então as pessoas começam a sofrer com os colchões moles” e conclui: “É justamente, a própria e persistente ausência de sentido da vida que dói” (HAN, 2021, p. 51).
O que pensar então de dores atrozes da guerra, de vítimas inocentes, de crescentes ódios políticos e ideológicos, tudo parece ruir num universo sem sentido, quando a dor compreendida e com lucidez sentida e vivida nos retornaria o equilíbrio do Ser, e a plenitude de nossa nossa existência, distante hoje, mas possível num futuro próximo.
HAN, Byung-Chul. A sociedade paliativa: a dor hoje. Trad. Lucas Machado. Petrópolis: Vozes, 2021.
A sociedade paliativa ou a ausência da dor
A sociedade paliativa explica Byung Chul Han nada tem a ver com a medicina paliativa, pois explica o filósofo coreano-alemão: “Assim, cada crítica da sociedade tem de levar a cabo uma hermenêutica da dor. Caso se deixe a dor apenas a cargo da medicina, deixamos escapar o seu caráter de signo” (Han, 2021).
Lembra um ditado de Ernest Jünger: “Dize tua relação com a dor, e te direi quem és!”, assim não é possível uma crítica sociedade sem uma hermenêutica da dor, a relação com cada sofrimento não só o produzido pela história, mas aquele que está na particularidade de cada Outro.
“A sociedade da sobrevivência perde inteiramente o sentido para a boa vida. Também o desfrute é sacrificado à saúde elevada a um fim em si mesmo” (Han, 2021, p. 34).
Lembra e cita Agamben na sua visão de homo sacer e via nua: “Sem resistência sujeitamo-nos ao o estado de exceção que reduz a vida à vida nua” (Han, 2021, idem).
Na sociedade paliativa “A arte de sofrer a dor se perdeu inteiramente para nós … A dor é agora, um mal sem sentido, que deve ser combatido com analgésicos. Como mera aflição corporal, ela cai inteiramente fora da ordem simbólica” (Han, 2021, p. 41), os grifos são do autor.
Assim hoje remove-se a dor qualquer possibilidade de expressão, ela está condenada a calar-se, e “a sociedade paliativa não permite avivar, verbalizar a dor em uma paixão” (p. 14), grifo do autor.
HAN, Byung-Chul. A sociedade paliativa: a dor hoje. Trad. Lucas Machado. Petrópolis: Vozes, 2021.
VARGAS, Cecília. Systems of Pain/Networks of Resilience project in one gallery. Curated by Cecilia Vargas, Dickson Center at Waubonsee Community College, June 2018 (foto).
Horrores da guerra se sucedem
Um país já enormemente arrasado, que sofreu bombardeios em prédios de hospitais, escolas e até hospícios, ainda se convive com narrativas dizendo que o objetivo não era tomar o poder em Kiev, embora o número de vítimas militares de ambos os lados seja enorme, é de assustar este tipo de visão da guerra, que em si já é injustificável e desumana.
Prepara-se uma batalha ainda maior em Mariupol, onde os civis ficaram encurralados sem poder receber ajuda humanitária, e até comboios da Cruz Vermelha foram impedidos de seguir adiante, os poucos que vivem e resistem na região estão sem forças, sem alimentação e encurralados (há agora suspeita de guerra química).
O objetivo é dizer que se ganhou algo, e sendo situada ao leste, a cidade portuária de Mariupol pode representar um troféu de consolação para quem o objetivo da guerra é a conquista e o poder, assim toda região leste do Donbass até a Criméia que já é território russo, seria tomada.
Porém o que temem analistas militares é que isto encorajada o governo russo a seguir adiante, e países como Suécia, Finlândia, Romênia e Moldávia estão de prontidão, seria uma escalada que ai ficaria claro o objetivo expansionista com muitas semelhanças aos da II Guerra Mundial.
Há um lado econômico, sem dúvida e neste ponto a moeda russa o rublo não caiu o que as sanções esperavam enquanto o dólar vai despencando, há de ambos os lados o desejo de uma nova ordem mundial, e isto requer uma análise mais profunda, de economistas e estrategistas.
A crescente escalada armamentista cria e acelera a polarização mundial, com inúmeras influências locais, a França está novamente polarizada entre a extrema-direita de Marine Le Penn e a centro-esquerda de Emmanuel Macron, e isto com certeza se espalhará por todo planeta.
Assim não há paz se não se cultiva a paz, se não se trabalha e pede por ela, em plena semana santa que se vive a Paixão de Cristo, a paixão da civilização humana parece mais evidente do que nunca, uma crise de alimentos a vista, uma crescente radicalização e polarização, longe da paz.
Difícil pedir bom senso, pedir menos armas e mais diálogo, olhar para o perigo nuclear que agora nos dá um arrepio na espinha, não em todos, infelizmente.
Sim é preciso uma análise mais profunda da guerra, mas como afirmava Hannah Arendt o totalitarismo sobre escolhas feitas fora do contexto histórico, ou seja, sem qualquer bom senso.
Aqueles que creem em algo, resta pedir que seja possível “afastar este cálice” e isto seria divino.
Média móvel de Covid cai, mas variante já aparece
Segundo dados da FioCruz no mês de março os genomas de casos de Covid avaliados em pacientes infectados pela mutação BA.2 (segunda linhagem da ômicron) cresceu de 1,1% em fevereiro para 3,4% em março, ela é 63% mais transmissível e na Europa e Oriente ela já é dominante.
A média móvel tanto das infecções como de mortes vem caindo (veja o quadro ao lado) porém não há no Brasil nada além de monitoramento, a política de testagem inexiste e os protocolos já estão relaxados, para complicar chegou o frio e o carnaval fora de época que favorece aglomerações.
O frio favorece doenças pulmonares e consequentemente a Covid que causa infecções deste tipo é favorecida, além de outras doenças respiratórias típicas desta época, a campanha de vacinação da gripe ainda está em marcha lenta.
O governo federal diz que faz monitoramento, os estaduais nem isto, a discussão sobre a liberação ou não agora é irrelevante, uma vez que a população por sua conta e risco já relaxou as medidas preventivas e as festas de carnaval, completamente fora de época, vão acontecer, privadas ou públicas.
Resta-nos o cuidado especial privado e a esperança que a taxa de vacinação no país que é bastante alta freie definitivamente o avanço da Covid 19, em meio a outras crises de abastecimento e de preços que surgem no horizonte já bastante preocupantes.
Assim fica na consciência de cada um, uma vez que não é só o problema individual, a pandemia nos ensinou que é um problema de todos, alguém que não se cuida infecta alguém próximo.
A dor, o Ser e o Outro
A dor é essencial na existência, o filósofo Byung Chul Han no ensaio “A sociedade paliativa a dor hoje” escreve falando sobre a pandemia e a redescoberta do Ser: “Sinto dor, logo existo. Também devemos a sensação de existência a dor. Se ela desaparece inteiramente, busca-se por substitutos” (Han, Vozes, 2011, p. 65).
Porém a dor do Outro nos é estranha, escreve Han: “A nudez da alma, o ser exposto, a dor com o outro, estão inteiramente perdidos para nós” (Han, p. 104), não há com-paixão.
Por isso a crueldade da guerra, os líderes totalitários que expõe este tipo de desprezo pelo Outro, por sua dor, no caso da Pandemia pelo número de mortos estão tão anestesiados, não dói em nós então não existe, o que é uma falsificação do ser, pois é Ser somente com-o-Outro.
A megalotimia, a supervalorização do si mesmo, ou do grupo social ao qual pertende, é tanto para Chul Han como para Fukuyama (que escreveu “O fim da história”, mal lido e interpretado), inspirados por Nietzsche que este é o “último ser humano”, que desvenda esse tipo de anestesia: “um pouco de veneno de vez em quando: isso dá sonhos agradáveis” (Han, p. 105).
É importante para compreender porque admitimos a morte, mesmo que injustas (dos inocentes e dos contaminados pelo vírus) porque não a imaginamos como não vida, não dói em nós, e a dor do outro não é sentida, pode até ser denunciada por aspectos grupais, porém não como ser e como Outro.
Porém não foi Nietzsche que “matou Deus”, nem mesmo o divino em nós, a paixão da cruz é a dor-com-o-Outro, não faz sentido senão um divino Ser que se entrega pelo Outro, e aí é puro Ser, é divino Ser.
Ao julgar Jesus e mesmo não encontrando crime algum entrega-o a crucificação, e mesmo condenado o divino Ser que será submetido a uma crueldade de espinho, açoites e finalmente crucificação, ainda olha para a humanidade de seus algozes e diz: “Pai, perdoa-lhes! Eles não sabem o que fazem!” (Lucas 23:34).
Quem matou Jesus foram o poder do Império Romano, uma face do poder totalitário, e os fariseus: má religião e má interpretação daquilo que deveria ser nossa re-ligação ao divino.A dor é essencial na existência, o filósofo Byung Chul Han no ensaio “A sociedade paliativa a dor hoje” escreve falando sobre a pandemia e a redescoberta do Ser: “Sinto dor, logo existo. Também devemos a sensação de existência a dor. Se ela desaparece inteiramente, busca-se por substitutos” (Han, Vozes, 2021, p. 65).
HAN, B.C. Sociedade paliativa: a dor hoje. trad. Lucas Machado. Petrópolis: Ed. Vozes, 2021.
Vidas inocentes também importam
A guerra de todos os horrores e desumanidades tem sua face maiscruel na morte de inocentes, por isto a morte de civis é condenada, embora deva se condenar a própria guerra, não há guerra justa, a única oposição justa a guerra é a paz.
Por mais que isto seja um fato, é importante pensar na morte dos inocentes, onde há sempre uma certa dose de intencionalidade, para prever possíveis desdobramentos e alerta para mais horrores, quando e trata de totalitarismos (veja o posto anterior) há sempre um horizonte sombrio e preocupante.
Por isto a morte de inocentes em si deve ser apurada e punida, trata-se de ato totalitário, absurdo.
Se pensarmos na guerra do Vietnã, onde se usou as bombas incendiárias Napalm (foto), onde morreram algo próximo a 1 milhão de pessoas (há estimativas que falam até de 3 milhões de pessoas), e também 300 mil combojanos e mais de 20 mil laocianos, então também no Ocidente tem em sua conta vidas de inocentes.
Também a guerra do Iraque, a crise no Oriente médio e as guerras africanas devem ser vistas.
A morte e o bombardeio de hospitais, maternidades e até manicômios na Ucrânia, é claro que estes dados devem ser comprovados, indicam a crueldade desta guerra atual, e isto é importante não só para um julgamento em tribunais de guerra, mas para pensar nos possíveis desdobramentos.
Em um clima de final de pandemia, uma provável escassez de alimentos, o desequilíbrio de forças militares com tecnologias e uso de armas nucleares, químicas e biológicas é muito preocupante.
Porém se observa isto também no microcosmo, nas ações sociais e individuais, a ausência de sentimento e compaixão pelos indefesos, a falta de humanismo verdadeiro e o descaso com a vida, pois a pandemia não acabou e crescem vários tipos de negacionismo.
Olhar sincero para uma humanidade que sofre e se vê ameaçada por um futuro ainda mais duro, é obrigação de todo humanismo sincero, e um olhar especial para os inocentes é mais necessário.
Sem um grande de humanidade que olhe para o Outro que sofre, não teremos futuro promissor.
A narrativa do totalitarismo
Não se trata apenas da guerra que é o ápice da ação totalitária,a tentativa de submeter povos e governos a uma verdade unilateral, a uma forma de ver o mundo que despreza outras e mais do que fazer uma história do autoritarismo é preciso entender suas origens e sua narrativa.
Foi assim que Hannah Arendt encarou a questão ao escrever em 1951 “As origens do totalitarismo”, ela parecia convencida que após o final da segunda guerra o problema não acabava ali, ali fala do inferno, do pesadelo, da Metamorfose de Kafka, da cebola e até da feiura de um omelete entre tantas outras coisas, quando chegavam às suas mãos as histórias de Auschwitz.
Ao tentar descrever a experiência totalitária o dilema que se deparava Arendt era que essa experiência não podia ser explicada, não pela filosofia política ou pelos conceitos tradicionais, não é como a culminação de um processo do desenvolvimento de algo a partir de um passado.
Lembro uma frase impactante de Lygia Fagundes Telles, falecida estes dias quando completaria 99 em 16 de abril, escreveu: “Não há coerência ao mistério nem peça lógica ao absurdo”, os ditadores e suas narrativas só tem lógica numa propaganda sistemática, e numa claque que de outros fanáticos que o apoiam e com ele se identificam.
Esta forma de narrativa que Arendt escreveu encontrou oposição em contemporâneo como Voegelin sobre o qual ela respondeu: “eu não escrevi uma história do totalitarismo, mas uma análise em termos históricos dos elementos que se cristalizaram no totalitarismo” (ARENDT, 2007, p. 403).
Escreveu também na “Crise da República”, que a primeira diferença fundamental entre o totalitarismo e as demais categorias presentes na história está no fato de que o terror totalitário “se volta não só contra os seus inimigos, mas também contra os seus amigos e defensores”; uma segunda diferença seria sua radicalidade, que o torna capaz de eliminar não somente a liberdade de ação dos indivíduos como faziam as tiranias através do isolamento político., eliminando não só opositores como também aliados pouco confiáveis, há um claro paralelo na guerra atual.
Em sua nota de número 81, Arendt escreveu: “O total de russos mortos durante os quatro anos de guerra é calculado entre 12 e 21 milhões. Num só ano, Stálin exterminou cerca de 8 milhões de pessoas somente na Ucrânia. Ver Communism in action, U. S. Government, Washington, 1946, House Document n o 754, pp. 140-1”, novamente a semelhança com a Guerra atual não é por acaso, e depois de Butcha estes dias Mariupol (foto) poderá ter drama semelhante.
O último tópico do livro de Arendt é: “Ideologia e terror: uma nova forma de governo”, quem tem interesse em evitar totalitarismo é só ler, é provável que alguém tome consciência deste terror.
ARENDT, H. Origens do Totalitarismo. Trad. Roberto Raposo. São Paulo: Companhia das Letras, 2007.
Agora os horrores da guerra
A retirada de Kiev longe de ser pacífica e encaminhar para uma cessar-fogo parece ter colocado mais gasolina numa guerra que aos poucos retoma os horrores e a barbárie da 2ª. guerra mundial.
As fotos e os fatos de Butcha, um dos distritos em torno de Kiev revela cenas de mortes de civis com crueldade e genocídio, dirigentes de toda Europa já se pronunciaram, e o próprio presidente da Ucrania Zelensky foi verificar em loco as valas comuns e civis mortos com as mãos amarradas, além de casos de estupros delatados.
Enquanto agências internacionais falam em 280 corpos, a Ucrânia afirma ter encontrado 410 corpos de civis, em valas comuns ou abandonados nas ruas, muitos com as mãos amarradas, enquanto a Rússia nega estas atrocidades, o porta-voz do Kremlin Dmitry Peskov disse que houve “falsificação de vídeo”, no entanto não apresentou nenhuma evidência para comprovar.
Seguem acusações dos biolaboratórios na Ucrânia, também sem provas, se verdadeiro também são condenáveis, mas não servem para justificar a morte brutal de civis que deixa a guerra em outro patamar, onde os acordos ficam mais difíceis e distantes.
Há uma nova ordem mundial, ou pelo menos uma tentativa de implantá-la, os polos econômicos e políticos se deslocaram e uma grave crise econômica e alimentar se aproxima, como enfrentá-la?
Será preciso rever valores, se a barbárie não nos despertar as esperanças ficam mais difíceis, a própria pandemia já deveria ter nos alertado para uma nova onda de solidariedade e de preocupação, não se trata apenas de um vírus, mas de atitudes que seriam esperadas das lideranças e da população, quantas pequenas guerras ainda subsistem sem abertura ao diálogo.
Se em si já é horrorosa esta guerra e a pandemia, mais horrorosas são as atitudes de indiferença e descaso, até mesmo torcidas que se organizam ou que desprezam a desgraça que ocorre ao lado.
Que os horrores da guerra sirvam ao menos para despertar um humanismo sincero, a preocupação e a responsabilidade pelo Outro, o respeito mútuo e o diálogo, ou caminhamos para uma realidade ainda pior a qual não fizemos nada para tentar evitar, ou fizemos pouco.
Paz, paz e esperança, é o grito de quem olha com amor pela humanidade e para o Outro.
Covid 2.0: flexibilização e cuidados
Exceto a China, que ainda faz lock-downs rigorosos, mesmo países que praticavam confinamentos, como Austrália, Nova Zelândia e Coreia do Sul, ao flexibilizarem as medidas de proteção tiveram nas últimas semanas significativo aumento de casos por covid, mesmo assim reabriram.
Chamo de Covid 2.0, porque a Web 2.0 significou a chegada da Web para todos, sim a maioria dos casos são poucos graves e há muitos casos assintomáticos, porém o vírus circula, e o número de mortes em torno de 200, que é o caso do Brasil, significa 1.400 por semana, isto não é pouco.
Na Europa muitos países, como Reino Unido, Dinamarca, França e Espanha, já tinham relaxado as medidas de políticas públicas de saúde, e lá já se verificam aumentos dos casos da Covid 2.0.
No mundo todo o número de casos vem caindo, e a própria OMS acena já com um cenário pós-Covid, o que preocupa é que não há uma política para casos de surtos em determinadas regiões e uma política clara de flexibilização, e o número de mortes pequeno, 1643 nas últimas horas, é contrastante com o número de infecções: 777 mil.
Aposta-se que as novas variantes serão menos graves (a China já descobriu nova variante), embora não menos infecciosas pois a BA.2 já é mais infecciosa que a ômicron original, que explica o número alto de infecções.
Seria recomendável verificar e isolar regiões com surtos e não deixar de ter alguma proteção social, por exemplo, distanciamento e máscaras que é possível mesmo com a flexibilização.
A esperança que as novas variantes sejam menos agressivas e que o número continue caindo é boa, mas não deixar de tomar cuidados é perigoso e agora depende só de atitudes individuais e dando apoio a regiões carentes que tem ainda baixo índice de vacinação.
A Irlanda flexibilizou os protocolos, agora o HSE (Health Service Executive) — serviço de saúde pública irlandês informou estes dias que o número de casos de internações por covid voltou a crescer e estuda aplicar a 4a. dose.