Arquivo para agosto, 2023
Erro e perdão
Do ponto de vista científico encontrar erros em métodos e análises significa mudar a rota e não a hipótese de pesquisa, se uma hipótese não se confirma isto é um resultado e não um erro, aliás para Popper é assim que a ciência caminha, porém outro pensador Thomas Kuhn defende que há rupturas ou novas hipóteses de pesquisa, a física quântica é um exemplo disto.
Já na filosofia a maioria dos filósofos defendem que o perdão é uma virtude moral, assim ele expressa a capacidade humana de superar o ressentimento e a vingança, e com isto restaurar as relações interpessoais e sociais, mas há filósofos que veem o perdão como fraqueza ou ilusão, já que nega a gravidade do mal e a responsabilidade do ofensor.
O filósofo contemporâneo que tratou o perdão foi Paul Ricoeur, que o desenvolveu sem se afastar do sentido religioso (cristão principalmente) e o vê como um paradoxo, pois vai de encontro ao imperdoável, ou seja, àquilo que não pode ser reparado ou compensado pela justiça.
O tema é relevante por que Ricoeur lembra que o tema se tornou relevante “particularmente característico do período pós-guerra fria, em que tantos povos foram submetidos à difícil prova de integração de recordações traumáticas” em texto publicado em Esprit, no 210 (1995), pp. 77-82 e que pode ser encontrado na Internet (pdf).
O autor coloca “o perdão na enérgica acção de um trabalho que tem início na região da memória e que continua na região do esquecimento” (Ricoeur, 1995), e que um fenômeno “que se pode observar à escala da consciência comum, de memória partilhada” e esclarece que deseja evitar a notação discutível de “memória coletiva”.
Embora escrito bem antes de nosso tempo, tanto a questão totalitária está em jogo como a questão do colonialismo, também o racismo e anti-semitismo e isto significa uma memória “partilhada” que pode levar à fúria.
O filósofo usa o vocabulário do filósofo alemão R. Roselleck, que opõe a “nossa consciência histórica global”, que ele chama de “espaço de experiência” e, por outro, o “horizonte da espera”, se olharmos de fato nossa experiência quase recente podemos superar os ódios e ressentimentos entre povos e culturas, por isto considero correto não usar “memória coletiva”.
É preciso superar erros históricos, equívocos e caminhos já trilhados, que nos levaram ao caos.
RICOEUR, P. O perdão pode curar? Trad. José Rosa, Esprit, n. 210, 1995.
Ética mínima: corrigir o erro
É muito comum o discurso, até eu as vezes digo, que o maior erro é não dizer não, mas educar significa explicar o não e ajudar as pessoas a corrigirem seus erros e ouvir o contra-argumento.
Isto implica em manter a ética, mesmo diante do erro, quando é comum apelar e sair pelo erro, mas o que significa errar?
Diz Aristóteles em sua “Ética a Nicômaco” que é possível, do ponto de vista moral, errar de muitas maneiras, mas só há uma forma de acerta: “Erramos quando temos medo de tudo e não enfrentamos nada; erramos quando nos entregamos sem medida a todo tio de prazer; erramos quando não restituímos o que é do outro por direito. Por outro lado, acertamos quando evitamos os excessos”.
O excesso pode dizer respeito até mesmo aquilo que consideramos virtuoso, que é o que diz respeito ás nossas disposições: o estudo, o lazer, o trabalho enfim tudo que é importante, mas exige equilíbrio e temperança.
Os hábitos e os vícios dependem dos hábitos, e hábitos dependem de contínuas ações, mas como corrigir os vícios e erros? a prática de ir direto ao ponto pode ser um equívoco, todo erro deve ser contextualizado para evitar o julgamento precipitado e ás vezes equivocado
Corrigir é sobretudo dar espaço a que o erro seja compreendido e a repreensão exige já uma ação social, em muitos casos legal, assim exige os fatos comprovados, testemunha e a forma correta de corrigir, a justa medida é sempre aquela que permite o erro ser corrigido.
A correção fraterna é indicada em (MT 18, 15) diz para tomar seu irmão em particular, se ele te ouvir terá um irmão, se não te ouvir toma uma testemunha se ainda não te ouvir é um pecador público.
O que mudou, não há mais correção, mas apenas punição e nem sempre ela é de direito.
Impostos, lucro e dizimo
Sempre que se aponta ao horizonte uma crise a tentação mais comum é sobrecarregar a sociedade e a questão da tributação está em pauta não só no Brasil, mas no mundo todo.
Os problemas no país são enormes, o mais comum é a bitributação (impostos em serviços sobre os quais já há imposto, taxa rodoviária por exemplo), mas os governos são insaciáveis, precisam alimentar as mesas fartas daqueles que os sustentam no poder.
Para que benefícios sejam incorporados a vida civil, o estado necessita de impostos, porém eles não devem servir para regalias do estado uma vez que é um serviço prestado a sociedade, e impostos incorporados aos custos e preços distorcem e podem estrangular os investimentos, a poupança pública e privada e inibir à exportação.
O lucro deve ser pensado como tendo três finalidades, a manutenção dos serviços sociais que servem também as empresas, os bens e a seguridade social que servem a todos cidadãos, em especial aos trabalhadores e ao crescimento da própria empresa e do país em investimentos.
Por último a contribuição aos interesses culturais, sociais e religiosos de grupos específicos, tanto podem ser vistos como uma sociedade, ao qual todos optam livremente, como de caráter compulsório desde que haja um prévio acordo para isto.
O importante é entender que relações de fraternidade que são espontâneas, diferem de obrigatórias que implicam num tipo de sociedade que uma vez rompida se perde o vínculo, e este deve ser o caso do dízimo, da doação espontânea e da ação “entre amigos”.
No campo filosófico, Paul Ricoeur escreveu sobre estas relações do sócio e do próximo (Le socius et le Prochain, 1954) e
Aqueles que duvidam que isto seja bíblico, recomendo a leitura de Mt 17,25 ao serem indagados se eles pagavam o imposto do templo: Pedro respondeu: “Sim, paga”. Ao entrar em casa, Jesus adiantou-se, e perguntou: “Simão, que te parece: Os reis da terra cobram impostos ou taxas de quem: dos filhos ou dos estranhos?” ao que Pedro respondeu dos estranhos, mas Jesus para “não escandalizar” mandou que se pagassem os impostos.
Os três comportamentos não estão muito distantes: lucros desonestos, tributo alto e impostos dos templos.
Perigos de expansão da guerra
Enquanto no front da Rússia e Ucrânia o perigo que a guerra se espalhe por todos continentes é cada vez mais real, o golpe de estado no Níger, na região subsaariana que já outros conflitos e rupturas com a democracia, está no limite e as próprias nações africanas ameaçam intervir.
Esta região aonde estão o Chade, o Mali e o próprio Níger, é uma das regiões mais pobres do mundo com altos índices de mortalidade infantil, analfabetismo e baixa expectativa de vida, entretanto a riqueza em minérios atrai interesses, nestes países da Rússia e França.
Os líderes da Comunidade Econômica de Estados da África Ocidental (CEDEAO) aprovaram a intervenção militar no Níger, uma vez que o presidente recentemente eleito democraticamente Mohmed Bazoum foi deposto e se encontra em prisão domiciliar.
Na reunião presidente da Costa do Marfim, Alassane Quattarao afirmou que a intenção é que a operação militar comece “assim que possível” então teremos novo front de guerra em outro continente, enquanto o clima entre as Coreias do Sul e do Norte aumenta a tensão no oriente.
Na Argentina e Equador, em período eleitoral as tensões aumentam, a surpresa argentina foi a vitória do anarco-capitalista Javier Milei do Libertad Avanza, enquanto dentro da proposta Juntos por el Cambio, de tendência macrista (ex-presidente Macri) Patricia Bulrrich da Proposta Republicana venceu Horário Rodrigues Larreta, há ainda o candidato Sergio Massa, economista do governo, com poucas chances pela ruína econômica da Argentina.
Na argentina os analistas avaliam que a decadência econômica fez a sociedade apostas em propostas novas, com o risco que as novidades sempre carregam, não é claro o que farão, as eleições acontecerão em 22 de outubro.
No Equador a morte por assassinato do candidato Fernando Villavicencio, do Movimento Construye mostra a ação de grupos paramilitares na política, neste domingo (13) o movimento anunciou o novo candidato Christian Zurita, mas as tensões de violência política prosseguem.
É preciso relançar o princípio de autodeterminação dos povos, o respeito a soberania e a democracia nos países e limitar as intervenções militares e suas ações no âmbito da política.
Limites e importância do testemunho
Os homens que deram grande virada na história e que fizeram a diferença em seu tempo foram aqueles cujo testemunho influenciou e muitas vezes mudou o rumo da história, o que parecia inevitável foi evitado, o que parecia perdido foi esclarecido.
Não significa que não pensaram e raciocinaram, mas que testemunharam e viveram primeiro.
Mahatma Gandhi desencadeou uma desobediência civil em seu país a Índia, para incentivar a luta pela independência do país da Inglaterra, em 15 de agosto de 1947 foi conquistada com a violência sendo praticada apenas pelos colonizadores ingleses.
Todos conhecem a luta pacífica de Martin Luther King, porém foi o gesto de uma mulher negra que desencadeou sua luta, a mulher chamada Rosa Parks, que no Alabama, em 1º. De dezembro de 1955 se recuou a ceder o lugar no acento de um ônibus a um homem branco, foi presa e obrigada a pagar uma fiança de U$ 14,00.
Nelson Mandela depois de sair da prisão, e liderar o fim do regime racista do “apartheid”, em 1994 torna-se o primeiro presidente negro da África do Sul, ao invés de se “vingar” dos brancos propõe uma nova atitude, contrária a dos dominadores e recria a África do Sul com tolerância racial e os presidentes que o seguiram foram todos negros, numa demonstração que venceu a luta e desarmou seus perseguidores.
Se fala do milagre dos pães, mas o mais importante segue depois na narrativa bíblica em Mateus 14, 22-24, havia despedido a multidão que comera os pães, os discípulos subiram na barca e Jesus retirou para orar sozinho, depois foi caminhando até os discípulos sobre o mar.
Os discípulos assustam com esta imagem, dizem “é um fantasma”, mas Ele diz: “sou Eu”, Pedro também quer andar sobre as águas, Jesus o chama, mas ele afunda, fraco na fé, o testemunho não só requer verdade e vivência, mas também uma crença no sentido religioso e não pode ser distante dela.
Mais do que o milagre dos pães que sacia o corpo, Jesus quer o milagre da fé, que sacia a alma.
Filosofia do testemunho
A filosofia do testemunho (também, epistemologia do testemunho) considera a natureza da linguagem e a confluência do conhecimento, que ocorre quando as crenças são transferidas entre falantes e ouvintes por meio do testemunho. O testemunho constitui palavras, gestos ou declarações que transmitem crenças.
Conforme Nick (2023) o que sabemos do mundo: história, ciência, política, uns dos outros, etc. vem do testemunho de outras pessoas, embora seja indispensável para o conhecimento, especificar exatamente como somos capazes de aprender com a opinião de um falante é uma tarefa muito difícil, o que aponto pessoalmente é nossa capacidade de abrir e ouvir (ou ler).
Ainda sobre o autor o testemunho é a fonte básica da justificação, porém ela pode ser pode ser reduzida a uma combinação de outras fontes epistêmicas, como percepção memória e interferência?
Outra questão é: o testemunho pode gerar conhecimento ou apenas transmiti-lo?
Ela pode ser entendida como algo apenas individual (no sentido que a justificação testemunhal de alguém depende inteiramente de fatores relacionados a si mesmo), ou deve ser vista como anti-individualista (no sentido que a justificação testemunhal depende de alguém, ao menos em parte, de fatores que tenham a ver com consigo mesmo) ?
Como entender o testemunho entre um especialista e um novato?
Os grupos testemunham? E se sim, como podemos aprender com a opinião de um grupo?
O que é o próprio testemunho? (uma vez que não se confunde com narrativa, mas vivência).
Em seu trabalho o autor esclarece que não são as únicas questões, cita outros autores como M. Fricker (2007) que leva a questão do crédito de testemunhos que dão origem a uma injustiça epistêmica, também há questões interessantes quanto a testemunhos oculares e a lei (Wells & Olson, 2003) e (Burrogghs & Tollefsen, 2016), e ainda testemunho e afirmação (Pagin, 2007 [2016]).
Há ainda quilo que considero particularmente importante que é uma literatura crescente sobre testemunho moral e estético, e o autor dá o exemplo da opinião de um amigo que acredita que comer carne assada é moralmente errado apenas porque seu amigo lhe diz.
Porém o autor se concentra nas questões apontadas mais acima.
O testemunho deve ser fermento de verdade e ter vivência do falante para ter credibilidade.
Burroughs, Michael D. and Deborah Tollefsen, 2016, “Learning to Listen: Epistemic Injustice and the Child”, Episteme, 13(3): 359–377, 2016.
Fricker, Miranda, Epistemic Injustice: Power and the Ethics of Knowing, Oxford: Oxford University Press, 2007.
Pagin, Peter, “Assertion”, The Stanford Encyclopedia of Philosophy (Winter 2016 Edition), Edward N. Zalta (Ed.), 2007 [2016].
Wells, Gary L. and Elizabeth A. Olson, “Eyewitness Testimony”, Annual Review of Psychology, 54: 277–295, 2003.
Testemunho e humanismo
O humanismo verdadeiro é o que permite a evolução do processo civilizatório preservando aquilo de essencial que todo homem possui que é o seu Ser, isto vai além das condições de sobrevivência econômica, social e política, ele deve incluir o Outro e dar este testemunho.
Testemunhos vão desde casos em que alguém precisa de uma informação e recorre a alguém ou a algum meio epistêmico (organizado do saber) até relatos científicos novos que revelam os mais intrincados mistérios da vida e do universo.
Os epistemólogos estão de acordo quanto a importância do testemunho como fonte de justificação, juto a percepção (cognitiva e além dela), da memória (todos meios de informação e difusão) e do raciocínio (além do lógico, do físico e do metafísico), a divergência estão no modo como crenças falsamente justificadas testemunhais podem surgir de crenças justificadas.
Isto se deve ao fato não apenas de crenças consideradas no aspecto religioso, mas também elas, mas do fato que é possível de crenças testemunhais que envolvem percepção, memória e cognição (acréscimo meu) são confiáveis a partir de crenças previamente justificadas, esta é a corrente chamada de reducionista, porque independente do testemunho, já é justificada.
Anti-reducionistas defendem que a justificação de crenças testemunhais é direta: estamos justificados em acreditar que algo pelo simples fato de alguém testemunhar algo mesmo sem haver razões para não fazê-lo, há diferentes tentativas de respostas a este debate.
Fora deste debate epistêmico, devemos pensar que vivemos num tempo que é difícil o pensar e o organização informações de modo a chegar ao testemunho como fonte de verdade, pode-se defender a paz mesmo fazendo a guerra, pode-se defender a democracia limitando os direitos civis e as ideias divergentes, pode-se definir justiça mudando as regras da lei para dar margem a injustiça, pode-se proclamar uma crença mesmo limitando-se a uma prática parcial.
Assim o que está em jogo não é o testemunho das crenças, mas muitas vezes sua própria negação, e pode-se tratar não apenas de má fé ou má vontade, mas dificuldade de cognição, por isto fiz este acréscimo a percepção e memória, onde o problema é a fonte de informação.
Um verdadeiro humanismo deve ter como pressuposto o testemunho, do contrário não temos um referencial confiável para nossos argumento, diálogos e superação de divergências.
Só podemos testar nosso modo de viver se vivermos de acordo com o que testemunhamos.
Referência:
Leonard, Nick, “Epistemological Problems of Testimony”, The Stanford Encyclopedia of Philosophy (Spring 2023 Edition), Edward N. Zalta & Uri Nodelman (eds.), URL = https://plato.stanford.edu/archives/spr2023/entries/testimony-episprob/ , 2021.
A decadência social e a confiança
A mais grave crise social de nossa sociedade, é que mesmo sendo eleito democraticamente, governantes eleitos como deputados, senadores, prefeitos e os mandatários máximos dos países são pouco dignos de credulidade e respeito e isto as vezes explode fora do que é moral.
Confiança como um conceito epistemológico, que possa dar credibilidade ao termo, é indispensável se pensamos na vida social, familiar ou de círculos de amizade, mas não há um consenso sobre uma definição confiável, não querendo fazer uma redundância.
Se lermos estudiosos vemos que sentiram necessidade de verificar as origens do conceito, na busca por compreender melhor seu uso em áreas do conhecimento onde há um arranjo epistemológico que auxilie este esclarecimento.
Um trabalho pioneiro do assunto, foi desenvolvido por David Hume, que a partir das razões históricas quanto ao papel do testemunho na justificação das crenças, o que acabou sendo conhecido como Epistemologia do Testemunho.
Quem imagina que isto é um assunto superado e pouco ou nada tem a dizer ao pensamento atual, cito o pensamento de Giogio Agamben em entrevista no Il Manifesto, em que afirmou? “Contra essa experiência testemunhal do mito está a concepção do mito da modernidade, a qual (por um lado, na forma da desmitização e da ciência do mito e, por outro, na busca de uma ‘nova mitologia’), na verdade, é apenas a sombra produzida pela razão iluminista” (reproduzido em Flanagens, em 14-06-2021), afirmou o octagenário filósofo italiano.
Tanto na cultura oral como na escrita o testemunho é importante, mas surge uma questão para os dias de hoje: por que confiamos, senão em todos, pelo menos em muitos testemunhos?
Na história da epistemologia, o testemunho como fonte de crenças verdadeiras foi relegado a um segundo plano ou desautorizado na conduta filosófica, isso porque a tradição atual da epistemologia é fortemente individualista.
O aspecto social da aquisição de conhecimento, portanto, não era parte do problema do conhecimento. Mas não é difícil demonstrar nossa dependência epistêmica de outros para aquisição de crenças verdadeiras.
Não é possível voltar a confiança sem uma verdadeira Epistemologia do Testemunho.
Novo holodomor, guerra e paz
Enquanto há expectativas de novos encontros para a paz com em Jidá na Arábia Saudita, as perspectivas de um envolvimento maior de outros países na guerra crescem com o perigo de uma guerra em escala global.
No período duro da antiga União Soviética, já houvera um conflito entre a República Soviética Russa e a República Soviética da Ucrânia, o holodomor em 1931-32, em que o ditador Joseph Stalin confiscou a produção ucraniana matando um grande número de ucranianos de fome, há um livro sobre o tema (pdf), os ucranianos conseguiram muitos anos após declarar este episódio de sua vida nacional como um genocídio.
A Rússia já havia minado as fontes de abastecimento da Ucrânia, agora realiza bombardeios sistemáticos em portos e locais de armazenamento de grãos e espalha minas em toda fronteira do território conquistado, a economia ucraniana já em ruinas, agora sofre um duro golpe e com isto há uma ameaça o abastecimento mundial de grãos.
O front de batalha interno continua duro, como pequenos avanços da contraofensiva, mas o polo agora se desloca para o mar Negro, onde os navios de exportação de grãos podem ser atingidos e já uma provocação com a Polônia, pelo grupo Wagner que está na Bielorrússia.
Alguns discursos e narrativas escondem os horrores da guerra, morte de civis, distribuição e desastres em rios e fontes energéticas, e violação de tratados de guerra, com mutilação e tortura de prisioneiros, e uso de armas de guerra proibidas por acordos internacionais tais como, minas terrestres, bombas de fósforo branco e bombas de fragmentação.
Um envolvimento da Polônia e Bielorrússia, seria a primeira escala de uma guerra mundial, faz lembrar a invasão da Alemanha em 1º. de setembro de 1939, que foi estopim do envolvimento de diversos países sendo os primeiros a declarar guerra foram a Inglaterra e França.
O envolvimento político e financeiro de outros países já está praticamente declarado, com forças ao lado da Ucrânia e da Rússia, porém a sensatez ainda faz alguns países e diplomatas mais cautelosos pensarem no desastre para a economia além do grave perigo de uso de força nuclear.
As forças pela paz iniciaram uma conferência em Altos funcionários de cerca de 40 países, incluindo EUA, China, África do Sul e Índia e estão participando das discussões na cidade costeira de Jeddah, no Mar Vermelho, sendo noticiários europeus, entre eles o alemão DW (Deutsche Welle), sem a participação da Rússia (foto).
A clareira, o desvelar e Ser
A clareira é um pequeno espaço com luz que se abre no meio da floresta, Heidegger faz a definição no sentido filosófico assim: “O destino se apropria como a clareira do ser, que é, enquanto clareira. É a clareira que outorga a proximidade do ser. Nessa proximidade, na clareira do dar lugar, mora o homem como ex-sistente, sem que ele já possa hoje experimentar e assumir esse morar” (Heidegger, 1979), neste sentido o ser se apropria de um “morar” verdadeiro e eterno.
A clareira é então o lugar do desvelar do Ser, em sua temporalidade de ex-sistente ele experimenta, por sua condição finita, um morar agradável e sensível, quase eterno, no entanto temporário como ente.
Então a clareira parte da condição humana, e não é apenas a Teofania divina, entretanto a narrativa bíblica dá ao Jesus humano e temporal em um momento específico no monte Tabor, já postamos algo sobre o tema, mas no sentido da ascese da alma, aqui deseja-se completá-la num desvelar.
Conforme postamos anteriormente, é possível tanto um revelar quanto um desvelar humano, no primeiro caso uma compreensão temporária que se re-vela (esclarece, mas permanecem dúvidas novas) e o desvelar, muitas vezes parcialmente incompreensível ao ser humano por sua finitude cognitiva ou uma ascese mística cujos detalhes são muitas vezes de difícil comunicação pela ausência de palavras ou metáforas apropriadas, como uma obra de arte.
Na narrativa bíblica é no Monte Tabor onde ocorre uma Teofania, não foi no batismo de Jesus e nem nos milagres que ela aconteceu, ao subir o monte Jesus leva três discípulos mais próximos: João, Pedro e Tiago e diante dos olhos deles se transfigura e aparece ao lado de Moisés e Elias, diz a narrativa (Mt 17. 2-3):
“E foi transfigurado diante deles; o seu rosto brilhou como o sol e as suas roupas ficaram brancas como a luz. 3Nisto apareceram-lhes Moisés e Elias, conversando com Jesus”.
Os apóstolos sentem a “clareira” e querem ficar ali e construir três tendas, depois uma nuvem os cobrem, como no tabernáculo de Moisés, ouvem uma locução divina e prostram o rosto por terra, Jesus os acalma e quando levantam os olhos veem apenas Jesus e descem a montanha.
Para os que não creem a narrativa bíblica é imaginária, mas ajuda a entender o desvelar.
HEIDEGGER, Martin. “O fim da filosofia e a tarefa do pensamento”. In: Os pensadores. São Paulo: Abril Cultural, 1979, p. 79.