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Arquivo para dezembro 19th, 2024

Natal e dignidade humana

19 dez

É importante que tantas pessoas e organizações pensem em pessoas em situação de vulnerabilidade social nesta época de festas, a quem tem fome ou sede nada mais um urgente que um prato de comida e um pouco de água, porém não é só isto.

A dignidade humana que de alguma forma foi perdida por pessoas em situação de vulnerabilidade: abandono, crueldade ou algum tipo de injustiça, deve ser recuperada em passos mais amplos que alguma sobra de nossas mesas.

Há instituições e sentimentos verdadeiramente religiosos naqueles que pensam com seriedade este compromisso de recuperar a dignidade destas pessoas, mas é preciso lembrar tantas que até recebem salários e benefícios para esta promoção e se esquecem da dignidade destas pessoas, por mais absurdo que pareça existe uma política e um sentimento assistencial que não vê a recuperação da dignidade destas pessoas.

Um livro escrito por Bertold Brecht “Romance dos três vinténs” (Brecht, 1976) fala de uma organização que distribuía mendigos pela Alemanha para levantar fundos (imagem) e fazer comércio com aqueles que deveriam ter proteção social e não tem.

O objetivo do autor era ideológico, mostrar que existe um comercio em torno da miséria, porém pode-se alargar este pensamento para um sentido mais amplo, não apenas socorrer, mas recuperar a dignidade que todas as pessoas têm, devolver-lhe a cidadania e a vida.

O Natal lembra o nascimento de Jesus em Belém, onde não encontrou uma moradia, assim é inalienável o pensamento de nascimento do Salvador pensando na dignidade daqueles que não tem o aconchego de um lar, lembrar destas pessoas é um sentimento típico do Natal, porém é preciso ir além e mais que um prato de comida e alguma guloseima devemos pensar na dignidade destas pessoas e lembra-las que são cidadãos e tem direitos humanos e civis.

É preciso superar a demagogia dos que pensam apenas como “promoção” o socorro aos que estão em situação vulnerável: alcoolismo, drogas, situação de rua ou algum tipo de doença sem o necessário socorro público.

Também o assistencialismo tem este limite, não vê o ser humano além da situação vulnerável, é apenas um paliativo que não devolve a sociabilidade e a dignidade a pessoas vulneráveis.

Que o Natal faça nascer em nós uma esperança de uma sociedade que não abandone nenhuma pessoa, que vá além deste período festivo e veja a dignidade de toda pessoa.

 

BRECHT, B. Romance dos três vinténs. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1976.