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Arquivo para junho, 2020

Ignoramus et ignorabimus

30 jun

A frase do fisiologista alemão Emil du Bois-Reymond em sua obra significava que em sua Über die Grenzen des Naturerkennens significando que no conhecimento científico havia ignorância e a tradução do latim é ignoramos e ignoraremos.

A primeira grande reação viria de David Hibert em 1930 quando afirmou: “Nós precisamos saber e nós iremos saber”, dita numa reunião anual da Sociedade dos Cientistas e Médicos alemãos, porém um dia antes, numa mesa redonda numa Conferência sobre Epistemologia, Kurt Gödel anunciou provisoriamente o seu teorema da incompletude, que mostrava que os sistemas axiomáticos elementares são autocontraditórios e contêm proposições lógicas que são impossíveis de provar ou refutar, referindo-se a um dos 23 problemas propostos por Hilbert.

Foi numa Conferência de matemáticos em Paris no ano 1900 havia anunciado os famosos 23 problemas que a matemática deveria resolver, e entre eles o famoso teorema da incompletude que provaria que um sistema matemático ou é completo ou é aberto.  

Porém o maior problema foi fechar as questões em torno de teoremas e axiomas matemáticos, e o grande debate subsequente é a diferença entre os sistemas humanos e sociais de um lado, e os sistemas da natureza, físicos ou matemáticos de outro.

Assim se afirmamos que 2 mais 2 é quatro e isto é exato, mas significa que estamos no campo da matemática, assim como figuras geométricas podem ser perfeitas, nenhum sistema “natural” é exatamente perfeito, planetas não são exatamente redondos, a luz e as ondas eletromagnéticas não caminham em linha reta no universo e também nenhuma superfície natural é perfeitamente plana.

O que ignoramos significa que o nosso sistema de interpretação é limitado a determinados modelos e metáforas que não correspondem exatamente a natureza, e no plano social não só o homem é extremamente complexo como a natureza que é onde se realizam o conjunto das relações humanas é ainda mais complexa, já que é a soma das complexidades individuais.

O epitáfio no túmulo de David Hilbert está sua famosa frase:

“Wir müssen wissen.

Wir werden wissen”. (foto acima)

 

Covid 19 no Brasil e o platô

29 jun

A análise a partir do número de casos infectados não é factível porque a testagem no Brasil ainda é pequena, feita pelas empresas ou pelos hospitais mas somente nos casos em que há suspeita de necessidade de hospitalização, e a estimativa que 5% das mortes corresponderiam ao número de infectados não é verdadeiro porque as medidas de isolamento são diferentes em várias regiões.

O platô que se iniciou do meio para o final de maio se alongou porque as regiões com maior número de infectados foi se alargando e no caso do Brasil indo para o interior, chamados de epicentro, o nome seria impróprio se houvesse isolamento, assim a contaminação se alastrou.

Além de não haver isolamento das regiões onde os casos de infecções começaram, o que foi feito em muitos países desde a China onde começou e a região de Wuhan foi epicentro, neste caso o nome se justifica, as medidas tanto locais como regiões de isolamento foram duras para conter a propagação.

A segunda questão é a forma de olhar o gráfico e os números, o gráfico que no início era uma exponencial e apesar ser necessário olhar fazendo uma escala logarítmica da curva para ver o grau de inclinação (por exemplo no início dobrava o número a cada dia e depois a cada dois dias, etc.), agora que a curva não tem mais um comportamento exponencial é necessário fazer o logaritmo.

Olhando a escala logarítmica da curva percebe-se claramente o platô (gráfico acima) e que os números estão girando um pouco acima dos mil casos diários de mortes, o grau de infecção como já se disse não é preciso, e assim percebe-se o platô que se prolonga já por um mês.

O motivo foi a análise inicial feita aqui, não havendo isolamento das regiões o vírus se propagou para regiões mais interiores e o novo “epicentro” é o interior do país, e assim deve se prolongar pelo mês de julho seja pela ineficácia das políticas de isolamento, seja pelo período de inverno.

 

Hermenêutica e espiritualidade

26 jun

Um ponto fundamental da hermenêutica desde a origem é resolver a questão da relação entre pessoas e com os objetos, sejam eles reais ou imateriais (virtual é outra coisa), e como estas se relacionam com o nosso mundo mental, dito subjetivo pelos idealistas, mas vinculado a eles na origem moderna da questão.

Se originalmente surge a ideia da intersubjetividade, pela diálogo e proximidade com o idealismo, o que a filosofia contemporânea vai recuperar é o ser-para-Outrem, ou a Empatia, e aqui não se trata de relações cordiais ou generosas, mas aquilo que vem da hermenêutica filosófica, como a fusão de horizontes, e nisto a empatia pode ser colocada como tendo algo “espiritual”.

Não por acaso Edith Stein, uma das discipulas de Husserl, que foi inclusive sua secretária, teve como tema principal a empatia, antes de sua vida religiosa (tornou-se uma irmã carmelita, mesmo sendo judia), porém não é difícil fazer um vínculo entre os dois momentos da vida de Stein.

Edith Stein vai refletir que o que chama de “eu puro” (ou o que prefiro o mais profundo do eu) está em consonância como o Outrem, de três modos singulares analisados pela autora: a vivencia no campo da investigação pura, que sempre se reporta aos dois polos da consciência: subjetivo (noesis) e objetivo (noema), na segunda diferencia a abordagem fenomenológica do ato empático de outras abordagens feitas no campo empírico (abordagem genética, psicológica, moral, ética, etc.) e terceiro apesar da capacidade de aprender com a vivência alheia o que é constitutiva do eu.

O “eu” sempre reconhece o fluxo da ipseidade (o que é próprio, correlato a hecceidade, princípio de Duns Scotto) e isto o leva a alteridade (o diferencia do outro). ´porém esta relação se vista dentro da fenomenologia hermenêutica o epoché (colocar entre parêntesis os conceitos) diferencia-se do código cartesiano porque não se trata do ego, pois é possível intuitivamente entender de modo empático a vivência do Outro, mas não de modo originário, e isto significa Identidade.

Teríamos dificuldades de afirmar uma unidade do Eu, de sua individualidade, se as relações que são chamadas de “intersubjetivas” (não gosto do nome pela origem idealista), pois não podemos identificar onde começa e termina a liberdade e responsabilidade de cada indivíduo.

Olhar o outro como consciência (que sempre tem a intenção dirigida a algo) significa tomar consciência de mim naquele aspecto para o qual a consciência é dirigida, diferentemente de encontrar o “meio termo”, “a verdade”, ocorre o que mais tarde Heidegger e Gadamer chamaram de fusão de horizontes, assim o diálogo pressupõe uma hermenêutica filosófica, no sentido de mergulhar no horizonte alheio e reencontrar o próprio, sendo necessário um epoché.

É interessante que nas leituras bíblicas Jesus vai perguntando aos discípulos quem era para eles*, e vão o descobrindo aos poucos e nunca totalmente, também Jesus olha e analisa cada um para ir formando uma comunidade com eles, alguns veem uma relação unilateral, mas é dialogal.

*Mt 16, 13-14: Jesus perguntou aos seus discípulos: “Quem dizem os homens ser o Filho do Homem?” Eles responderam: “Alguns dizem que é João Batista; outros que é Elias; outros ainda, que é Jeremias ou algum dos profetas”.

 

As meditações cartesianas e a fenomenologia

25 jun

Um pequeno livro de Edmund Husserl, que foi uma compilação de uma conferência em Paris, foi o opúsculo Meditações Cartesianas, onde faz cinco aportes e é a partir daí que dá origem a uma formulação consistente da fenomenologia.

O caminho de um Ego Transcendental, diferente da transcendência idealista em direção ao objeto, é uma direção ao Outro, ou outros eu´s, uma superação do estatuto do transcendente ligado ao objeto, assim descreve Husserl: “…. imediatamente se torna patente que o alcance de uma tal teoria é muito maior do que parece à primeira vista, dado que ela também conjuntamente funda uma teoria transcendental do mundo objetivo …” (HUSSERL, 2010, p. 134).

Ao admitir e se relacionar com a subjetividade alheia (um outro alter ego) tanto os objetos da cultura como o mundo compartilhado, cria uma intersubjetividade (HUSSERL, 2010, p. 134-35), agora do fenômeno transcendental “mundo” é retirada uma camada de sentido que possa ser remetida à constituição intersubjetiva.

A crítica da experiência feita por Husserl no início das Meditações, leva a primazia da experiência Imanente (apodítica do cogito, preso a lógica) enquanto a experiência transcendente (o mundo exterior e os outros incluídos) não se reduzindo a experiência transcendental em direção ao objeto.

Husserl usa também o conceito de solipsismo que é a ideia que que só existe o ato de pensar e o próprio eu, veja que neste raciocínio a própria existência do objeto é postar em dúvida o que é resolvido pela experiência, neste caso há um solipsismo gnosiológico onde os outros entes (seres humanos e objetos) só existem na mente e não na consciência.

A doutrina fenomenológica fundamenta-se que o mundo objetivo da ciência está voltado a experiência e no pensamento pré-reflexivo e pré-científico porque está ligado a subjetividade, para modificar esta relação de ser no mundo, incorporando o mundo da vida (Lebenswelt) de onde surge a necessidade de uma antropologia filosófica e uma epistemologia que responda estas a este desafio.

Como consequência deste pensamento surgiu a ontologia fenomenológica como uma possibilidade clara no próprio projeto de Husserl, embora não tenha aprovado num primeiro momento o trabalho de Heidegger.

Outra possibilidade de uma hermenêutica filosófica como foi elaborada por Hans-Georg Gadamer também estava ali desenhada e o círculo hermenêutico já estava em projeto no pensamento de Heidegger.

HUSSERL, E. Meditações cartesianas e conferências de Paris. Tradução de P. M. S. Alves. Lisboa: Centro de Filosofia da Universidade de Lisboa, 2010.

 

O pensamento moderno e a verdade

24 jun

Grande parte das questões apontadas na modernidade referem-se ao “cogito” cartesiano, e que este separaria corpo de espírito, na verdade mente de espírito, porém desconhece-se que a questão é anterior e é ao significado de substância.

Vê-se na obra cartesiana que mente e espírito estão muito ligados, pode-se dizer isto sim que a mente é submetida ao espírito, lê-se na sexta meditação: “mens cerebro tam intime conjuncta sit” (Adam e Tennery, 1996, VII, p. 437).

A origem de duas formas de pensamento, Karl Popper dirá que a afirmação de Parmênides é ontológica “o ser é e o não ser não é” no sentido de não existe (existencial e não lógico), e Heráclito de Éfeso “tudo não é está passando a ser” visto como “dialético”, na verdade é ontológico também.

Para Aristóteles a substância significava o suporte ou substrato no qual a hylé (concepção grega de matéria) se constituía em algo dando uma forma (morphe), Tomás de Aquino vai pensar a partir daí, e acrescentar um novo componente na noção de substância, além desses dois, a saber, o ato de ser (esse/actus essendi), o ato de ser de onde parte sua ontologia.  Estas questões já estavam presentes em Platão e Sócrates.

Dai parte as famosas noções de ato e potência, um exemplo, a semente é em potência arvore.

Aristóteles tinha 4 causas: Causa material: de que a coisa é feita? Fazendo como exemplo uma casa, seriam os tijolos. Causa eficiente: o que faz com a coisa? seria a construção. Causa formal: o que lhe dá a forma? A própria casa. Causa final: o que lhe deu a forma? A intenção do construtor.

Mas a intentio em Tomás é subcategoria da consciência, e voltará a ser categoria para Franz Brentano, mas modificando-a como categoria principal como consciência dirigida a algo, assim muito diferente do uso cotidiano de intenção.

O que Husserl aluno de Brentano vai pensar em Meditações Cartesianas, é principalmente na quinta e não na sexta tese, onde questiona se Descartes não suspenso o juízo, mas não o ego.

Interpela o Eu da angústia cartesiana, sem entender qual caminho da imanência do Eu para a transcendência do Outro? Reconfigura a psicologia através da fenomenologia. Através do método da redução fenomenológica atinge-se o Eu Transcendental, pois isto a suspensão de Husserl e seus seguidores é uma epoché hermenêutica, um colocar entre parêntesis.

Toda a questão de Heidegger (aluno de Husserl) e Lévinas estão dirigidas a este Outro e o Tempo.

ADAM, C.; TANNERY, P. (org) Oeuvres de Descartes, Paris: Vrin, 1996. Citado em Amir d. Aczel: O caderno secreto de Descartes,  São Paulo: Zahar, 2007.  

 

 

Consciência e verdade

23 jun

Um dos truques mais comuns é dizer uma meia-verdade, uma mentirinha sem maldade ou aquilo que suaviza nossa consciência quando sabemos que estamos fazendo o que está errado, não se trata do politicamente correto, pois em muitos casos pode-se dizer aquele político “bom” se corrompeu, tornou-se ditador ou é incapaz de diálogo.

Uma frase conhecida de William Shakespeare é “Sabemos o que somos, mas ainda não sabemos o que podemos chegar a ser”, que é uma frase tão interessante quanto “To be or not to be”, porque significa que podemos Ser além do ser atual, assim há um devir, assim not to be and I will be.  

A esfera interior na qual saciamos vazios emocionais, frustrações ou ansiedades, por exemplo na bebida ou na comida, estamos preenchendo o vazio saciando temporariamente, mas ele voltará de tempos em tempos.

A relação com a filosofia é ampla, desde Platão que definiu o mito da caverna como passar do mundo das sombras, onde nos vemos como projeções no fundo da caverna para uma esfera elevada, autêntica e onde há verdadeira liberdade, e o medo das meias-verdades some.

A verdadeira consciência não é nem um despertar, nem uma iluminação, mas um “desvelar” tirar o véu, e o primeiro passo é que a consciência seja consciência de algo, onde encontrei limites ou um NÃO inesperado, não só uma dor, mas um obstáculo à primeira vista intransponível.

A psicologia Gesltat, com forte influência da hermenêutica, define como dar-se conta de algo (awareness) e encontramos correspondente na filosofia japonesa, por exemplo, como “satori”, tirar as camadas superficiais para encontrar o núcleo de algo.

Os três passos para adentrar estas camadas são: despertar para nossa zona mais profunda, no aspecto emocional, nossos medos, angústias e inquietações, o segundo requer o que acontece no seu exterior, o contexto, as pessoas e situações que invisto sem resultados, e o terceiro, bem mais complexo sabe o que sente, o que acontece em seu exterior, mas há preconceitos, barreiras e algo que o faz se defender e não passar de certos limites.

Exerça uma mudança, não basta encontrar os pontos fortes, é justamente nos pontos fracos que suas defesas estão fragilizadas, e, elas estão articuladas com seus enganos e vivências.

 

Corona vírus: a flexibilização e a endemia

22 jun

Vários países no mundo se preparam para uma segunda onda do corona vírus, o Brasil não saiu da primeira e a parecer estacionado num platô em torno de mil mortes diárias, muitos analistas alegam que o Brasil é diferente por sua extensão territorial, desigualdade social e densidade populacional, muito bem, mas a Índia e China também e controlam a infecção com medidas duras.

Vários especialistas e infectologistas apontam que a política de flexibilização pode ser adotada se for admitido a possibilidade de reversão, isto é, onde o número de casos se agravar volta a quarentena, mas o esgotamento da população depois de mais de 100 dias não permite mais.

Aline Dayrell, professora e coordenadora do curso de Epidemiologia da UFMG, diz que só teremos segurança total se 70% tornar-se imune, veja que sãos os mesmos índices do isolamento social desejado, e o Prof. Carlos Fortaleza infectologista da UNESP-Botucatu diz a segunda onda é a possibilidade de qualquer doença transmissível, desde que a população não esteja imune.

A Índia com mais de 2 meses em abril, após o primeiro caso de infecção tinha 800 e 27 mil infectados, sendo mais populoso que o Brasil, porém os números se aceleraram e 4 dias atrás registrou 2 mil mortes diárias, mostrando que mesmo as medidas duras não foram suficientes.

China e Nova Zelândia que aparentemente tinham controlado o corona vírus, já admitem que é uma endemia, isto é, que não é possível erradicar totalmente a pandemia sem uma vacina.

“O risco de propagação da epidemia é muito alto, por isso devemos tomar medidas resolutas e decisivas”, disse Xu Hejian, porta-voz do governo da cidade de Pequim, epicentro da segunda onda do covid 19, na Nova Zelândia houve o caso de duas pessoas que vieram do Reino Unido para participar de um funeral, caso excepcional que o governo admite e que vai rever.

 

Tempo de pós-verdade ou de hermenêutica

19 jun

Uma hermenêutica é aquela que permite uma visão do mundo e uma interpretação dos fatos diferentes, não significa manipulação da verdade, mas exatamente ou desenvolve aquilo que ideologias e teorias não práticas ocultam (não há phronesis, práticas práticas) ou ou exercem práticas voluntárias sem reflexão . 

O que acontece é que na busca de espírito absoluto, ou estabelecimento de verdades totais, na verdade eram totalitária, isto é, não admite uma visão de mundo diferente, numa era de diálogo simplesmente ligam a uma verdade já pré-existente, assim como existem verdades a priori para visões totalitárias.

O conhecimento para Emanuel Kant começa com uma experiência, e a razão organizadora dessa matéria de acordo com suas formas estabelecidas, com as estruturas existentes no conhecimento, assim como a formação séria uma forma de organizar a matéria que vem da experiência.

Embora “a priori” se refira a um modo geral como adjetivo de conhecimento, também é usado como adjetivo para modificar substantivos, como uma verdade, assim propor uma verdade a priori, e é um dos dogmas do idealismo.

Porem a verdade por séculos permaneceu velada, sempre foi usada como forma de poder, mas é o tempo em que as verdades são reveladas, não por jornalistas e grupos controlados que fazem parte de torcidas, mas com armas de fotos e celulares, câmeras presentes em muitos locais e em celulares, mas o grande salto é a consciência dos fatos.

Não é por acaso que este é o grande tema atual, desde a questão da filosofia hermenêutica, uma questão de consciência que deixa ser determinista, romântica ou dogmática, até um questionamento, se as máquinas inteligentes terão consciência e na última instância “imitar” o homem .

Para a cultura cristã, isso pode ser um noutro ponto, um tempo que a verdade é revelada, conforme o evangelista Mateus 10,26-29: “Não tenha medo dos homens, pois nada há descoberto que não seja revelado, e nada há de escondido que não seja revelado. O que você diz na escuridão, dizei-o à luz do dia; o que escuta ao pé do ouvido, proclama-o sobre os telhados! Não tenha medo daqueles que matam o corpo, mas não pode matar a alma! Pelo contrário, temei aquele que pode destruir a alma e o corpo no inferno! ”.

O filósofo Peter Sloterdijk, que não é cristão, disse que uma pandemia nos colocou “todos os joelhos”, direção que nem todos ainda aceitam, e.há aqueles que não admitem o mistério, além da nossa capacidade de leitura e entre os religiosos que ainda não se.põem ds joelhos, ao menos por compaixão com os que sofrem, a hermenêutica é esta abertura ao outro discurso, ao diferente, com sinceridade.        

 

A Hermeneutica de Scheilemacher a Gadamer

18 jun

O renascimento da hermenêutica, ela esteve confinada na cultura clássica antiga como uma vertente da filosologia clássica,  feito por Schleiermacher (1768-1834).

Para Heidegger, a hermenêutica é equivalente a fenomenologia da existência, ou seja, coisas que são passíveis de interpretação, devem ser analisadas de acordo com as possibilidades de existir e se manifestar em seu tempo histórico, mas sua compreensão de história é diferente de Dilthey.

Seu trabalho encontra o primeiro eco em Wilhelm Dilthey (1833-1911), que separa a ideia de interpretação em dois campos explicação das ciências naturais e compreensão nas ciências humanas.

Paul Ricoeur (1913-2005) e Hans-Georg Gadamer (1900-2002) vão superar esta dicotomia criando uma hermenêutica filosófica, para Ricoeur compreender um texto é encadear um novo discurso no discurso do texto, assim o texto deve estar aberto, ou seja, passível de apropriação de um sentido.

Por outro lado, a reflexão, é para Ricoeur, a meditação sobre os signos presentes, assim não há explicação sem a compreensão do mundo e de si mesmo.

Hans-Georg Gadamer vê na concepção histórica de Dilthey certo idealismo, e sua hermenêutica como a de Ricoeur, que são filosóficas, no entanto ele a vê numa estrutura circular onde há sempre uma pré-compreensão, onde é possível uma fusão de horizontes o que permitirá uma reinterpretação e uma nova formulação da compreensão.

No círculo hermenêutico, inspirado em Heidegger, foi pensado assim “Toda interpretação, para produzir compreensão, deve já ter compreendido o que vai interpretar”, porém foi Gadamer que o sistematizou. 

Em Gadamer a ideia de horizonte é: o conteúdo singular é apreendido a partir da totalidade de um contexto de sentido, que é pré-apreendido e co-apreendido, onde há um diálogo entendido como: A compreensão sempre é apreensão do estranho e está aberta à modificação das pressuposições iniciais diante da diferença produzida pelo outro (o texto, o interlocutor).

A compreensão do contexto no sentido de tradições, cultura, etnias e crenças são fundamentais para entender como o círculo hermenêutico acontece.

A experiência se realiza segundo a troca dialogal dentre de uma língua e ela é sempre produtiva não apenas reprodutiva: “o sentido de um texto supera seu autor, não ocasionalmente mas sempre”, assim a hermenêutica filosófica a vê como presente nas culturas e línguas.

O resultado deste círculo é a produção de um saber prático usa uma palavra grega phronesis (não há teoria x prática) que não é um saber privado mas social, onde realiza as minimizações e exacerbações da autocriação do eu e no âmbito social a criação de dogmas retirando da ética a sua estetização social, e, preserva as sabedorias práticas de culturas e crenças que atuam nos processos respeitando a diversidade.

GADAMER, Hans-Georg. Verdade e Método: Traços fundamentais de uma hermenêutica filosófica. Petrópolis, RJ: Vozes, 1997.

 

Da fenomenologia de Brentano a Ontologia de Heidegger

17 jun

Entre as contribuições de Brentano, além da intencionalidade da consciência,  que é consciência de algo ou do objeto, está o que alguns autores (Boris, 1994) chama de Filosofia do Presente, onde o aqui e agora é a única experiência possível, rompendo com a ideia do empirismo de que uma experiência só é científica se puder ser repetida, e também rompe com a neutralidade do espectador, pois ele é parte do experimento, o que torna-o uma hermenêutica.

Da intencionalidade de seu mestre Brentano, Edmund Husserl (1859- 1938) guardará o aspecto da experiência de “ser consciente de alguma coisa”, mas modificará a fenomenologia empírica, para torná-la transcendental, não no sentido ainda espiritual, mas das vivências cognoscitivas, deixará de lado a visão de empírica, pela de uma objetividade imanente.

Husserl afirma em Ideias da Fenomenologia (1986) que: “As vivências de conhecimento possuem, isso pertence à sua essência, uma intentio, visam algo, se reportam de tal ou tal maneira a uma objetividade”, com isto abandona a ideia do empírico do mestre Brentano, e retoma o conceito de objetividade imanente como uma revisão dos conceitos Aristotélico e Tomista, como “essência”.

Em sua obra da maturidade A crise das ciências Europeias Husserl torna o conceito de transcendência mais vivo, dentro de sua Lebenswelt (Mundo da Vida), o transcendente “o transcendente é o mundo exterior” enquanto o transcendental “é o mundo interior” da consciência (HUSSERL, 2008, p. 18), porém esta dicotomia entre mundo exterior e interior vai fazer os filósofos existencialistas evitar o termo consciência.

Heidegger (1989) aluo de Husserl foi o primeiro a evita, pois a relação entre homem e mundo sempre foi perseguida pelos fenomenólogos com objetivo de superar o fantasma idealista da relação sujeito-objeto, a análise intencional e descritiva da consciência definia as relações essenciais dos atos mentais e o mundo externo, apesar de amadurecer Husserl a questão da redução fenomenológica.

Martin Heidegger (1889-1976), via Husserl como intelectualista e cartesiano, abandona os termos consciência e intencionalidade, centrais na fenomenologia transcendental de Husserl, na obra O ser e o tempo (1927), não aprovada por Husserl, o aluno supera o conceito de consciência e propõe o conceito de Dasein, inaugurando a fenomenologia existencial.

A “finitude” humana, a temporalidade e a historicidade (o ser no tempo) serão fundamentais na análise heideggeriana do Dasein, uma teoria que se funda na “destruição” da cisão sujeito-objeto.

 

BORIS, G. D. J. B. Noções básicas de fenomenologia. Insight. Psicoterapia (São Paulo). v. 46, pp. 19-25, novembro, 1993.

Heidegger, M. Ser e tempo (Vols. 1-2). Petrópolis, RJ: Vozes, 1989.

HUSSERL, E. A crise da humanidade europeia e a filosofia. Porto Alegre; EDIPUCRS, 2008.