Arquivo para janeiro 4th, 2022
Empatia: o que realmente é
Em minha modesta opinião, porque não vi nenhuma nas leituras que fiz algum autor afirmar isto, a palavra empatia está em ascensão porque a palavra Amor, no seu significado amplo: eros (no sentido que Byung Chul Han usa em “A agonia do eros”), filia (no sentido da decadência de relações familiares e amizades) e principalmente no sentido do ágape já que toda a instrumentalização feita pelo amor romântico moderno, leia-se A comédia humana de Balzac, transformou-se em utilitário, proselitista ou de puro interesse.
Empatia em uma simplificação didática é a capacidade de entender o Outro como ele sente, assim é inseparável do conceito de alteridade no sentido mais lato da palavra.
Empatia escapou destas armadilhas, da psicologia a filosofia, Husserl a estudou e Edith Stein a aprofundou, a neurociência passou a utilizá-la, em seu artigo da Revista The Atlantic, intitulado “Uma curta história da empatia”, Susan Lanzoni afirma que a palavra existe (no sentido atual é claro, ela tem origem grega) há apenas um século.
Na psicologia a Empatia foi definida como tendo 3 tipos: a cognitiva é a mais intuitiva refere-se a compreender como o outro é e sente, a emocional e a compassiva, não é preciso dizer que a emocional é também explorada como inteligência emocional, a compassiva mais difícil de intuir é aquela que vai além de compreender e sentir as sensações da outra pessoa, passando a mobilizar-se para ajudá-la, mas cuidado, também a ajuda tem que ser empática, ou seja, aquela que realmente o outro precisa e não suposições quaisquer.
O comportamento empático é conhecido como natural não apenas em humanos, mas em muitos mamíferos e algumas aves também, e isto de fato é mais próximo do natural.
Mais próximo porque há um natural totalmente induzido, o consumo, diversos tipos de filosofias, teorias ou mesmo religiões que pouco ou nada tem com a natureza humana, e por extensão, como a natureza como um todo, somos um ser cósmico, mais amplo do que pensamos, ainda que sejamos uma centelha num universo tão amplo e misterioso.
Toda crença contemporânea, que ver das ideias da modernidade é que a empatia é uma nova utopia, as realidades que vem do pensamento moderno induziram a ideia que é preciso um estado autoritário, mesmo os que o negam sonham com ele e dizem será “de outro tipo”, essencialmente a imposição de um modelo de pensamento é uma afirmação do ego, é a inexistência da empatia, é a antipatia colocada em movimento, basta ver a polarização este conceito fica claro.
A neurociência e a própria ciência mostra que desde o nascimento a relação materna e paterna como o bebe tem uma relação empática, para viver em sociedade é preciso uma relação empática, para nos defender da pandemia é preciso uma relação empática, sem ela há um negacionismo “estrutural”, isto é, o outro pode morrer eu não.
A teoria da simulação da neurociência, através da descoberta de neurônios-espelho (Rizzolatti e Graighero, 2004), um tipo de neurônio que dispara quando um animal age quando outro animal observa e realiza a mesma ação observada, assim este neurônio “espelha” o comportamento do outro, como se o próprio observador estivesse agindo, isto é observado também em alguns primatas e pássaros, lembro-me de quando era permitido fumar em sala de aula que ao acender um cigarro vários alunos acenderam também.
Esta teoria não só fez avançar a neurociência como tem ajudado o estudo de alguns fenômenos da natureza e alguns tipos de autismo (Distein, Behrmann, 2008).
Além de ser inata, a empatia pode ser treinada, isto pela característica mais fantástica do nosso cérebro que é sua plasticidade, por isto estamos sujeitos a auto-sugestão mas também a alter-sugestão, assim poder-se-ia revolucionar toda teoria da autoajuda para uma alter-ajuda numa sociedade voltada a empatia, foi preciso vários séculos de treinos (eu diria destreino) para que o ódio, a vingança e a ideia que só a guerra resolve destruísse (em parte) a nossa capacidade empática, já que amor-ágape está em descredito quer seja por excesso de rotulação sem conteúdo, quer seja, pela formulação de palavras sem ação correspondente.
Rizzolatti, Giacomo; Craighero, Laila (2004). “The mirror-neuron system” (PDF). Annual Review of Neuroscience. 27 (1): 169–192.O comportamento empático é conhecido como natural não somente nos seres humanos, mas em outros mamíferos e em algumas aves também.
Dinstein I, Thomas C, Behrmann M, Heeger DJ (2008). “A mirror up to nature”. Curr Biol. 18 (1): R13–8.