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Arquivo para maio, 2022

As tensões de uma 3a. guerra mundial

31 mai

Os limites do horror de uma 3a. guerra mundial existem.

Em 2011 a Rússia instalou mísseis Iskander em Kaliningrado, mísseis Iskander em Kaliningrado, exclave russo antiga Konigsberg antes da 2ª. Guerra e depois Stalingrado, isto foi parte de sua resposta ao escudo antimísseis norte-americano. Acredita-se sem dados concretos que ambos os lados já se reforçaram.

Na outra ponta de uma possível guerra está a China que faz exercícios no mar de Taiwan e nas ultimas horas de ontem fez exercícios aéreos como demonstração de força em resposta as provocações do governo Biden, Taiwan relatou 30 aeronaves na Zona de Defesa Aérea da ilha.

O Japão provável aliado americano tem litígios com a Rússia, sobre as ilhas Curilhas, tomadas na segunda guerra mundial, e o Japão tendo perdido a guerra assinou um acordo a contragosto.

Fora desta zona de confronto estão a Moldávia, que tem uma região lutando por independência e aliada dos russos, a Transnídria, enquanto Suécia e Finlândia já pediram para entrar para a Otan, e aí há uma terceira peça do xadrez da guerra que é a Turquia, que tem acordo com os russos e não quer a entrada destes países na OTAN.

Enquanto a Europa decidiu o embargo do petróleo russo, a Holanda deixou de receber o gás de lá.

A guerra na Ucrânia tem como frente de batalha mais sangrenta a região de Severodonesk, está em jogo importante estrada que liga a Karkhiv e Zelensky esteve na região, ela é estratégica para isolar as tropas ucranianas, ao sul há batalhas perto de Odessa, porto da Ucrânia depois que Mariupol foi tomada.

Uma 3ª. Guerra seria um horror para todo o planeta e é questionável se haverá vencedores.

 

Dados da Covid 19 não analisados

30 mai

A mais de um mês os dados sobre mortes não abaixam e novamente estão acima de 100 mortes diárias na média móvel, enquanto a média móvel dos casos conhecidos já sobe significativamente no Brasil (veja o gráfico), embora a nível mundial já se observe uma queda sensível.

A varíola do macaco com números ainda pequenos assusta pela rápida expansão mundial.

O problema é que não havendo um combate a circulação do vírus, que é menos letal, é possível que a doença se mantenha, de modo similar ao que acontece com a varíola do macacão onde o fato que não houve uma política efetiva de combate enquanto estava em regiões da África.

O problema de política sanitária é que se houver a surpresa de uma nova variante corremos o risco de voltar a estaca zero do combate a pandemia, é claro que isto não está no horizonte, porém diversos especialista já apontaram a capacidade mutante do vírus.

É consenso entre os especialistas mais responsáveis que somente a OMS pode decretar o fim da Pandemia e a preocupação do órgão mundial é ainda de manter o alerta, embora veja os números caírem e comprove a informação com os números que a Organização Mundial tem.

Estamos aprendendo a conviver com estes dados, porém os cuidados vão sendo cada vez menores, por exemplo, o uso de máscaras parece muito exagero, há pessoas que param e questionam aqueles que usam, outra coisa importante são ambientes fechados e locais de convivência necessária como mercados.

Talvez devemos tomar cuidado também como alergias e resfriados que nunca tivemos muito cuidados, porém uma educação pública e esclarecimentos podem ser importantes.

É fato que que devemos incorporar novos hábitos e cuidados em nosso dia a dia.

 

A ascensão humana e divina

27 mai

Muitos são os exercícios e as formas que prometem ascese, formas de manter as energias físicas e mentais são úteis e importantes, porém a ascensão espiritual que é fonte de uma ascese verdadeira requer um treino moral, ético, pessoal e coletivo que nos coloque em um círculo virtuoso.

Ao criticar a sociedade moderna, como sociedade do cansaço, Byung-Chul Han lembra que a vida ativa deve ser complementada com uma vida contemplativa, que não significa ficar olhando para o infinito ou para o céu, é a meditação e o exercício coletivo de incluir o Outro, saber escutar a partir de um vazio interior, ou como pensa a filosofia um epoché fenomenológico.

Introduz a contemplação como: “Se o sono perfaz o ponto alto do descanso físico, o tédio profundo constitui o ponto alto do descanso espiritual. Pura inquietação não gera nada de novo” (HAN,2015) e depois a define como: ”A dúvida moderna cartesiana dissolve o espanto. A capacidade contemplativa não está necessariamente ligada ao ser imperecível. Justamente o oscilante, o inaparente ou o fugidio só se abrem a uma atenção profunda, contemplativa” (idem), portanto não é um exercício racional, mas um “espanto”.

Dizemos que é fenomenológico pelo que segue a definição: “No estado contemplativo, de certo modo, saímos de nós mesmos, mergulhando nas coisas”, isso lembra Husserl “volta as coisas mesmas” sem predefinições ou pré-conceitos, um verdadeiro epoché.

Depois do espanto o repouso: “Sem esse recolhimento contemplativo, o olhar perambula inquieto de cá para lá e não traz nada a se manifestar. Mas a arte é uma “ação expressiva” (Ibidem), e sem ele nossa civilização, afirma citando Nietzsche: “Por falta de repouso, nossa civilização caminha para uma nova barbárie. Em nenhuma outra época os ativos, isto é, os inquietos, valeram tanto”.

Esta inquietação prova as guerras, as disputas políticas mais atrozes, a zombaria em vez do diálogo e a análise atenta das propostas e necessidades sociais, não há “repouso” para que isto seja feito.

A ascensão divina, depois da ascese cristã que chega a paixão e morte, nossa civilização parece passar por isto como um todo, aparecem anjos que perguntam aos discípulos que ficam olhando para o céu (Atos 1, 10-11): “… continuavam olhando para o céu, enquanto Jesus subia. Apareceram então dois homens vestidos de branco, que lhes disseram: “Homens da Galileia, por que ficais aqui parados, olhando para o céu? Esse Jesus que vos foi levado para o céu virá do mesmo modo como o vistes partir para o céu”, pararam um instante antes do “espanto” e do “repouso”.

A barbárie da pandemia, da guerra e uma escassez de alimentos que se anuncia exige “espanto”, aceitar que o mistério existe e o universo teve uma origem.

HAN, B.-C. A Sociedade do Cansaço (Burnout Society). Brazil, Petrópolis: Vozes, 2015. (pdf)

 

Ascese e espiritualidade

26 mai

Não por acaso, Peter Sloterdijk apreende a modernidade como uma forma de secularização e coletivização da vida da exercitação, deslocando as asceses transmitidas desde a Antiguidade de seus respectivos contextos espirituais e dissolvendo-as no fluido espumoso das atuais comunidades biopolíticas (ou psicopolíticas) dedicadas ao treinamento e ao empresariamento da subjetividade.
Não é por acaso que um filósofo atual veja a modernidade como uma forma de secularizar e coletivar a vida de exercícios, deslocando as asceses transmitidas desde a antiguidade, em diversas culturas, para os contextos atuais dedicados a treinar e a comercializar a partir da prática cotidiana de exercícios através de memes, retóricas e de um treino coletivo de ideias (no sentido do idealismo).
A base de sua ascetologia é possível perceber como a educação desde a infância até os adultos está numa cadeia histórica de adestramentos através de procedimentos imunológicos e antropotécnicos seletivos, que anunciada por Sloterdijk a muito tempo tornaram-se escancaradas com a Pandemia, visam arrancar o sujeito de sua comunidade.
Fabricam-se assim os “atletas do Estados” ou as “empresas domésticas” na direção destes exercícios, o que ele chama de drama esferológico, e onde a infância tem que pagar um preço pela ausência das camadas protetoras, isto é, quando explodem os círculos mágicos, as bolhas de sabão sopradas pelos olhos extasiados das crianças, o que Sloterdijk escreve em Esferas I: Bolhas.
Esta espécie de ascese não tem nada de espiritualidade ou de uma verdadeira ascensão (de onde vem a raíz ascese) assim as bolhas de sabão são a metáfora deste universo efêmero, cujo exercício reforça o habitus, mas não constrói uma verdadeira ascese espiritual.
O autor não chega a desenvolvê-la, apenas a denuncia como uma ascese desespiritualizada, pois ele próprio não crê numa realidade superior, de verdadeira ascensão, como a que é descrita no livro de Byung Chul Han em sua “Sociedade do Cansaço”, onde vê como dois polos do Ser a vida ativa e a vida contemplativa, e recorre ao monge São Gregório.
Seu termo espiritualidade vem da análise de Foucault das formas radicais de governos dominantes de “governo de infância” a qual interpõe: “interpõe entre a experiência e a linguagem constitutiva da história e formadora do espírito”, é assim só uma subjetividade.
Byung Chul Han, provavelmente por sua influência oriental, vai noutro caminho de uma vida contemplativa efetiva, que está mais claramente expressa em sua obra: “O aroma do tempo” ( ), onde afirma: “A maior felicidade brota do demorar-se contemplativo na beleza, antigamente chamada theoria. Seu sentido temporal é a duração. Ocupa-se das coisas eternas e imutáveis, que descansam em si mesmas. Nem a virtude nem a sabedoria, só a entrega contemplativa à verdade aproxima o homem aos deuses” (HAN, 2016).
Na obra de Chul Han é possível entender uma ascese espiritualizada numa ascensão divina.
HAN, B.-C. O aroma do tempo. Um ensaio filosófico sobre a arte da demora. Lisboa: Relógio d´água, 2016.

 

A ascese e os exercícios

25 mai

O mais proeminente filósofo alemão da atualidade, Peter Sloterdijk em sua obra: “Você tem que mudar sua vida” tem uma sacada genial e original, não é o modo de produção e nem mesmo a cultura que produz a vida, mas os exercícios, por eles realizamos nossa “ascese”.

O que significa um exercício para ele, diz em sua obra: “Como exercício defino qualquer operação que conserva ou melhora a qualificação do ator para realizar a mesma operação da próxima vez, seja ela declarada como exercício ou não” (Sloterdijk, 2009, p. 14).

Desenvolverá mais a frequente o conceito de “habitus” que retoma do conceito medieval de Aquino e antigo (hexis) de Aristóteles, e a partir daí seu conceito antropológico:

“[…] descrevem um processo aparentemente mecânico sob os aspectos da inércia e da superação para explicar a encarnação do espiritual. Eles identificam o homem como aquele animal que pode o que deve, se alguém se importou em tempo com suas habilidades. No mesmo momento percebem como as disposições alcançadas continuam crescendo na direção de novas superações” (Idem, p. 289).

E assim sua teoria do habitus aponta para qualquer costume ou habilidade na direção de superar seu estado atual, sob a perspectiva de uma tensão vertical é possível formular uma tensão de arte do Bem, pois até aquilo que já está bom pode ser melhorado, então começa por esta ascese a elaborar o seu principal conceito: a antropo-técnica, escrito aqui de modo proposital com hífen.

Na interpretação de Sloterdijk existe uma ruptura, que chama de secessão, entre os que partem para escolher uma vida em exercícios e o mundo cotidiano, que se assemelha a um rio no qual há acomodações inquestionadas, e para ele isto está além do espectro religioso, funde-se a cultura.

Chama ao processo interno desta ascese de endoretórica, que consistem em rezas recitações rituais, monólogos e outras falas silenciosas, normalmente praticadas repetidamente, chegando a verdadeiros diálogos internos (não são alucinações), mas são práticas de solitárias sem o Outro.

“Todos os exercícios, sejam eles de natureza yoga, atlética, filosófica ou musical, somente podem acontecer se suportados por processos endoretóricos, nos quais atos da autoexortação, do autoexame e da autoavaliação, sob os critérios da tradição escolar específica e sob apontamento contínuo na direção dos mestres que já alcançaram o objetivo, têm um papel decisivo” (Sloterdijk, 2009, p. 369).

Há um ir além da normalidade e da ascese que leve a uma outra ascensão, o encontro com o Ser.

Sloterdijk, P. Du musst Dein Leben ändern. Über Antropotechnik Frankfurt, Suhrkamp, 2009. (Tens de mudar sua vida, edição portuguesa de 2018, Relógio d´água)

 

Guerra em fase de propaganda

24 mai

Rússia anuncia conquistas em Mariupol e ataque a quartel de treinamento no Norte da Ucrânia, Zelensky fala em Davos e é aplaudido, mas a guerra fica cada vez mais longe do fim.

Novidade mesmo no caminho da paz é um novo caminho trilhado pela Alemanha e muito criticado porque não tão duro com a Rússia, longe de dar sinal de qualquer adesão, a Alemanha busca uma via de negociação onde se possa pensar na paz, falando a um canal de notícias no Fórum Mundial em Davos, Robert Habeck, vice-chanceler da Alemanha insistiu que “nada é inevitável, somos seres humanos e podemos mudar o curso da história”, vendo que pode eclodir uma guerra mundial.

No caminho oposto, a China ameaça invadir Taiwan, que possui um dos maiores exércitos per capita do mundo, com submarinos e robôs militares de última geração, um exército de mais de 300 mil homens e uma base aérea de 600 caças, incluindo 141 F-16V Block 70 na Base de Chiayi.

É pequeno se pensada a força e a dimensão continental da China em caso de uma guerra, porém na última semana os Estados Unidos declararam uma defesa incondicional de Taiwan em caso de guerra com a China, enfim mais lenha na fogueira do tenso ambiente mundial.

A China tem um pessoal da ativa militar passando de 2 milhões, com mais de 3 mil aeronaves se destacando 120 Xian X-6, versão do Tupolev Tu-16 e 388 Chengdu J-7 versão do MIG-21.

Porém o principal caça é a versão chinesa do SU-27, 450 Shenyang J-11, além dos Sukhoi russos.

Assim uma guerra com a China faria a guerra da Rússia parecer pequena pela proporção e forças envolvidas, porém as ameaças com treinamentos e exercícios militares tem se intensificado.

O mundo parece a beira de um caos generalizado e terrível, porém como disse o chanceler alemão: “somos humanos e podemos mudar o curso da história”, a partir da defesa da paz.

 

Covid em queda mundial e nova doença

23 mai

A OMS anunciou uma queda mundial de 21% das infecções mundiais, no Brasil permanece em leve alta e já preocupa, mas a maior preocupação sanitária é o aparecimento da varíola do macaco.

No caso da Covid 19 no Brasil ainda são necessários cuidados higiênicos e protocolos da doença.

A endemia começou na República Democrática do Congo, em 2016, também ocorreram casos em Serra Leoa, Libéria, República Centro Africana e Nigéria, que sofreu o maior surto recente, os dados indicam que um aumento recente na incidência foi a interrupção da vacinação contra a varíola em 1980, e agora apareceram casos na Europa, já com infecções locais e os primeiros casos nos EUA.

Um brasileiro de 26 anos que passou por Portugal e Espanha, países que já tem vários casos de infecções, foi diagnosticado na Alemanha, está isolado numa clínica e tem sintomas leves.

A diferenciação clínica entre a varíola do macaco e a varíola e varicela (um hepervírus e não um vírus pox) é difícil conforme relatos médicos, o exame PCR (polymerase chainreaction) ou uma microscopia eletrônica são necessárias para detectar a infecção, não há tratamento seguro, porém, a doença não é letal, a rápida expansão na Europa já é preocupação sanitária mundial.

O tratamento indicado é o da varíola símia, de suporte, dados dos casos na África indicam que a vacina contra a varíola é eficaz em 85% dos casos já que a doença é ligada ao vírus da varíola.

A imagem publicada acima é cortesia da Public Healt Image Library of the Centers for Disease Controle and Prevention (PHIL), Biblioteca de Imagens do Centro de Prevenções Americano.

 

Serenidade e paz verdadeira

19 mai

Já postamos um histórico da paz: Pax dos romanos, paz da Vestfália acordo entre católicos e luteranos sobre a laicidade do estado e a Paz Perpétua de Kant, cada um que pensa em estruturas e acordos de paz que não demonstraram pela ineficácia de poder estabelecer a paz.

Entramos em aspectos ontológicos com a questão da Serenidade proposta por Heidegger, que inclui aspectos originários e de territorialidade dos povos, quase sempre são estes os fatores que são determinantes para povos entrarem em guerra, porém pouco pensados nos acordos de paz.

Se vivemos quase sempre sob alguma tensão é importante entender se é possível uma paz além das questões humanas, que é claro que devem ser resolvidas, pois elas precisam de homens que sejam verdadeiramente pacíficos e tenham ontologicamente esta questão resolvida interiormente e ajudar a humanidade os caminhos que levem a uma paz duradora.

A filosofia de Heidegger desenvolve o quanto o homem avançou em razão, técnica e ciência, mas perdeu a fundamentação própria de Ser reduzido ao Ente (a coisa sem alma), perde sua originariedade (diferencio de originaridade apenas por que ela trata mais de povos originários das américas), ele assim principia sua própria essência (a vê só como subjetividade) e perde a força de re-presentação que dela vem, perde uma essência que não é secundária, mas primordial.

Em sua conclusão de Serenidade, Heidegger contrapõe a imediatez e falta de meditação que temos na atualidade: “Existem, portanto, dois tipos de pensamento, sendo ambos à sua maneira, respectivamente, legítimos e necessários: o pensamento que calcula e a reflexão (das Nachdenken) que medita. […] um pensamento que medita surge tão pouco espontaneamente quanto o pensamento que calcula. O pensamento que medita exige, por vezes, um grande esforço. Requer um treino demorado. Carece de cuidados ainda mais delicados do que qualquer outro verdadeiro ofício. Contudo, tal como o lavrador, também tem que saber aguardar que a semente desponte e amadureça” (HEIDEGGER, 1955, p. 13-14).

A serenidade, a meditação sobre a necessidade dela para entender a originariedade de cada Ser, de sua presença em determinada Região, requer mais que um exercício momentâneo é preciso que ele seja durador e mire a eternidade.

Na leitura bíblica encontra-se a mais profunda lição de Jesus aos seus discípulos sobre a paz (Jo 14: 27): “Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou: mas não a dou como o mundo. Não se perturbe nem se intimide o vosso coração”, é uma lição também para os pacíficos e para os amantes da paz.

 

HEIDEGGER, Martin. Serenidade. Tradução de Maria Madalena Andrade e Olga Santos. Lisboa: Instituto Piaget, versão original é de 1955.

 

Serenidade, originário e paz

19 mai

Serenidade remete a ideia de uma super qualidade do Ser, vem do latim serenus, que é diferente de paciência que vem de patientia, “resistência e submissão” e é antes confundida com sereno.

Três qualidades do Ser podem ser diretamente ligadas a serenidade: tranquilo, significa resolver os problemas com a paz, calmo que significa manter seu interior em Paz e claro significa expressar e comunicar a paz com clareza.

Heideger escreveu um opúsculo sobre Serenidade, no início termina o capítulo com uma frase que expressa em filosofia uma síntese da serenidade: “quando a serenidade para com as coisas e a abertura ao mistério despertarem em nós, deveríamos alcançar um caminho que conduza a um novo solo. Neste solo a criação de obras imortais poderia lançar novas raízes” (HEIDEGGER, 1959, p. 27).

Falta-nos na concepção de Ser e que Heidegger destaca em sua ideia sobre o originário a ideia de Região, assim como foi traduzido do alemão, mas poderia ser o locus (horizonte)de pertencimento uma nação como Ser em sua verdadeira identidade originária, escreveu Heidegger:

“Não estamos nem nunca estamos fora da Região, uma vez que como seres pensantes […] permanecemos no horizonte […] O horizonte é, porém, o lado da Região virado para o nosso poder de re-presentação (Vor-stellen). A região rodeia-nos e mostra-se-nos como horizonte” (HEIDEGGER, 1959, p. 48).

Aqui é preciso voltar a um dilema do pensamento de Heidegger, tendo em vista que estar em meio à Região é permanecer no horizonte: estar, mas não estar nessa senda originária, significa que é uma re-velação da Região, que se faz visível ao ente, nela seu Ser é.

O filósofo afirma que a serenidade pressupõe o estar liberto (Gelassensein) e a Região a-propria (Ge-eignet) e confia ao ente sereno (gelassen) a guarda da serenidade.  ora, se o aguardar é então fundamental e decisivo do qual falamos é a a-propriação ao qual “nós pertencemos àquilo que aguardamos” (HEIDEGGER, 1959, p. 50)

Não ignora o autor a ausência deste conceito no Ocidente, um desconhecimento histórico: “a essência do pensamento não pode ser determinada a partir do pensamento, isto é, a partir do aguardar enquanto tal, mas sim a partir do outro de si mesmo (Anderer seiner selbst), ou eja, a partir da Região, que é na medida em que se religionaliza” (HEIDEGGER,           1959, P. 51).

Nisto de fundamentam as guerras contemporâneas, sem esquecer que muitas delas tiveram origem na disputa dos territórios de povos originários onde seu Ser foi completamente ignorado.

 

HEIDEGGER, M. Serenidade. Lisboa: Instituto Piaget, 1959.

 

Os mapuches, a ontologia e a paz

18 mai

Um dos povos originários mais resilientes da colonização das Américas é o povo Mapuche, são mais de um milhão de pessoas e se estudem pelo sul do Chile e Argentina, e se veem mais uma vez traídos por governos que prometem liberdade para viverem como nação e serem respeitados.

Porém a interpretação mais verdadeira, que remete a uma espécie de ontologia originária, é Mapúmche, que significa todos os seres que habitam o cosmos: os seres vivos, as árvores, as pedras, a água, o vento etc. é provável que a chegada dos espanhóis reduziu a palavra para Mapuche, que significa apenas povos da terra.

Li com tristeza que o novo governo Boric que prometeu em campanha suspender as medidas restritivas na região que recebe o nome colonizado de “La araucanía” (nome dado pelos colonizadores espanhóis) voltou a ser militarizada por causa das reivindicações de terras indígenas.

Disse a ministro do Interior, Izkia Siches, ao enviar militares a região: “Decidimos fazer uso de todas as ferramentas para fornecer segurança” à região e o longa saga dos mapuches continua.

Os mapuches sempre souberam que a língua os unifica, diz a ontologia ocidental que a linguagem é morada do ser, e rejeitavam o nome araucanos, que lembra as araucárias e os transformam em povos aborígenes, também a exótica ideia que mapuche seria derivada do grego, de um historiador Kilapan Lonko, que escreveu “El origen greco de los Araucanos”, uma falsificação da história.

Muitas palavras Mapuches entraram na língua chilena, choclo (milho), huacho (filho ilegítimo), laucha (rato pequeno), quiltro (cachorro), ruca (casa), etc. e uma interpretação popular de mapuche é mapu (terra), che (gente no sentido de povo), assim vários locais e cidades do chile possuem o prefixo hue: Carahue, Colhue, Pencahue e outras.

O extrato do documentário “Los araucanos”, intitulado “Mapuches: idioma o espelho da alma” de 1978, que equivocadamente os chama de povos araucanos, mostra a importância do idioma que os mapuches sempre tiveram que remete a ontologia dos povos originários.

Também o historiador e professor pela Universidade do Chile, o mapuche Rodrigo Huenchún explica que a cultura tem sido cada vez mais apropriada como manifestação política, desde a ditadura de Pinochet, além dele outros nomes conhecidos na cultuar são os de David Aniñir, Roxana Miranda e Elisa Loncon e muitos outros.

O reconhecimento da cultura dos povos, se suas raízes originárias estão na raiz da paz verdadeira, este é o drama do homem moderno, do esquecimento do ser, de suas vivências e de suas raízes.

(18) Mapuches no Chile: idioma, o espelho da alma – YouTube