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Arquivo para maio, 2023

Ser imanente e transcendente

03 mai

Estes conceitos da filosofia são difíceis de entender se não o colocamos no dia a dia, de modo bastante supercial pensemos assim: o que temos interiormente e nos define como seu “eu” é interno e imanente a mim, o que tenho externo e define como o além de mim é “transcendente”, o Outro e ara aqueles que tem alguma crença o Divino.

Claro que não é bem assim estes conceitos, o imanente é aqui que está inseparavelmente presente em um ser ou objeto na natureza, é inseparável dele e não pode o ser não pode ser pensando sem ele, para o kantismo, diz respeito a conceito e preceitos de teor cognitivo.

Já o transcendente, é aquilo que transcende a natureza física do ser e das coisas, corroborando com o imanente do kantismo, esta corrente o define como aquilo que é presente no objeto e fora do sujeito, algo que lhe é externo e só pode ser conhecido pela “transcendência”, veja o aspecto cognitivo novamente presente.

Retomando o post anterior, as categorias em-si, de-si e para-si podem e estão presentes neste tipo de imanência/transcendência com base idealista (Kant e posteriormente Hegel), que afirma “de início, a consciência-de-si é puro para-si”, assim ela é independência absoluta, afirma que sua transcendência em relação a tudo o que é para-Outro, assim o ser fica preso a este binário Sem-em-si e para-si, conforme vai detectar Sartre em sua obra “O ser e o nada”.

Assim não há um alter, não há o Outro puramente fora e além do ser-em-si, este para no sentido do grego pará (como paramédico, parâmetro, etc.) mas um retorno ao em-si, assim a consciência de si está ligada ao ego e não a nenhuma possibilidade cosmológica ou divina.

Afirma Hegel: “A consciência-de-si é em si e para si quando e porque é em si e para si para uma Outra; quer dizer, só é como algo reconhecido. (…)” (HEGEL, 1992, p. 126)

Entretanto é possível definir uma relação entre imanência e transcendência sem dualismos, assim o ser-em-si aquele que se define internamente e com suas propriedades, pode ter uma relação com tudo que está fora, os objetos e o Outro (que é em sentido plural).

Há uma transcendência fora, que está além o conhecimento, que se pode ter através do uso da linguagem, das relações humanas e da intuição contemplativa, é o Ser-para-si que completa e define o ser-em-si (dá a ele uma identidade transcendente), estabelece uma relação de-si com a natureza e com o Outro e encontra na contemplação divina um Ser para-si que é um origem de tudo e além da ex-sistencia (ex – fora, sistencia – forte, eterno), que é essência ara as definições anteriores, pois é puro Ser.

 

HEGEL, G.W.F. Fenomenologia do Espírito. Petrópolis: Vozes, 1992.

 

O Ser, o Nada e o Outro

02 mai

Completam 80 anos, em 2023, a publicação de o Ser e o Nada: ensaio de ontologia fenomenológica (1943) de Jean Paul Sartre (1905-1980), sob forte influencia de O Ser e o Tempo de Martin Heidegger, vai trilhar um caminho diferente de outros existencialistas que veem no Outro um significado especial que Sartre não vê.

Não por acaso dizia “O inferno são os outros!”, Sartre via diante da consciência humana uma “condenação” à liberdade, assim vê na consciência uma definição autocêntrica: “O homem não é nada além do que faz de si mesmo”.

É de tal forma autocentrado que seu romance com Simone de Beauvoir (1908-1986), após o falecimento de Sartre ela escreveu “A Cerimônia do Adeus”, em 1981, e quando morreu foi enterrada no mesmo túmulo de Sartre, no Cemitério de Montparnasse, jamais viveram-na mesma casa, ela que no seu tem o já bradava temas feministas (O segundo sexo, de 1949) e ele na sua concepção autocêntrica.

Eles sempre liam os trabalhos um do outro, e a influencia existencialista é clara em  O Ser e o Nada, de Sartre, e A Convidada, de De Beauvoir, porém estudiosos recentes mostram que a escritora tem outras influências além de Sartre, como Hegel e Leibniz.

É importante nas categorias tratadas também por Sartre, analisar o em-si, de-si e para-si de Hegel.

A análise De Beauvoir sobre o Outro, vem desta influência de Hegel, onde a construção social da mulher como uma quintessência de “Outro”, indica que o “O” maiúsculo de Outros indica “todos os outros”, e isto indica tanto as mulheres, como Outro em outras religiões, culturas e etnias.

Em função desta posição distinta sobre o Outro (o seu inferno), e um agnóstico por excelência, Sartre vai dizer que no caso humano (e só no caso humano) a existência precede a essência, assim o homem primeiro existe e depois se define, assim se não há predefinição humana, não há Deus.

Ao menos um Outro sempre esteve presente na sua vida, a companheira e também filósofa Simone de Beauvoir, que não por acaso, não deixou de tratar diretamente o tema.

 

SARTRE, Jean-Paul. O Ser e o Nada: ensaio de ontologia fenomenológica. Tradução de aulo Perdigão. 13ª. Edição. Petrópolis: Vozes, 2005.

 

Contraofensiva da Ucrânia e a paz

01 mai

Na quarta-feira assada Volodimir Zelenksy da Ucrânia falou com o presidente da China Xi Jinping e algumas negociações para a paz parecem ter avançado.

Em seu twitter Zelensky afirmou: “Acredito que esse telefonema, assim como a indicação do embaixador da Ucrânia na China, dará um ímpeto poderoso ao desenvolvimento de nossas relações bilaterais.”

A narrativa de país pacificador entra em contradição com as declarações controversas de seu embaixador na França, Lu Shaye, também as forças de esquerda no exterior começam a mostrar um posicionamento pró-Putin, como uma motociata feita na Alemanha neste sentido.

Por outro lado, no campo de batalha, a contraofensiva prometida ela Ucrânia começou, diversas posições russas foram atingidas, em territórios conquistados, na Criméia e inclusive algumas vilas russas, a Rússia esperava uma ofensiva na Criméia ou no Donbass onde suas tropas enfrentaram batalhas sangrentas nas últimas semanas, como a de Soledar e Bakhmut (ver no mapa em azul as reconquistar ucranianas em vermelho a invasão russa).

Em setembro do ano passado enquanto a Ucrânia ameaçava ataques ao sul, fazendo a Rússia deslocar forças para lá, acabou atacando ao norte, onde o exército russo teve enormes perdas.

A Rússia retirou a maior arte de seu arsenal militar da Criméia, entretanto uma base de abastecimento de combustível foi atingida nesta nova contraofensiva ucraniana, assim indica que espera ataques ao norte.

O impasse de forças na região do Donbass pode indicar a verdadeira fonte de conflito neste momento, e o lugar onde a Ucrânia pretende concentrar sua contraofensiva, desta vez a Rússia parece esperar porque já deslocou as tropas da Criméia, mesmo tendo a explosão do depósito de combustíveis por drones no final de semana.  

O grave desta situação é que adia qualquer possibilidade de paz, os dois lados esperam ter territórios garantidos antes de qualquer rodada de negociação.