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Dar uma “alma” a Terra

18 mar

A ideia de dar ao homem de nosso tempo uma cidadania planetária, vivemos o tempo da mundialização ou da globalização, e isto implica em direitos, só terá sustentabilidade se na contrapartida este caminho apontar também para uma “alma” terrena onde todos se vejam como codependentes entre si, a pandemia já deveria ter despertado isto, mas ainda não aconteceu.

Diz Chardin no livro que estamos analisando: “o homem de nossa época passará ainda um período de grande ilusão, imaginando que, chegado a um melhor conhecimento de si mesmo e do Mundo, não tem mais necessidade de Religião” (Chardin, 1958) e isto piora quando vemos a noite de Deus que paira sobre a humanidade, confusa entre ideologias e fundamentalismos.

Via o imperativo que “da evolução universal Deus emerge nas nossas consciências”, e via que era preciso superar “a religião entendida como simples apaziguamento das nossas dificuldades, um ‘opio’. Sua verdadeira função é de sustentar e estimular o progresso da Vida” e notem que os sistemas propostos contra ela não foram capazes de se mostrarem eficientes nesta direção.

Explica que a função religiosa é “nascida da ´hominização´, e ligada a esta só pode continuamente com o Homem mesmo”, e perguntará: “Não é isto que podemos constatar em nossa vida?  Em que momento, na Noosfera, existiu uma necessidade mais urgente de procurar, de encontrar uma Fé, uma Esperança para dar um sentido, uma alma ao imenso organismo que nós construímos?

Dava a entender que este processo de hominização, como ponto alto da complexificação do Cosmos, sua forma “mais avançada” se encontra “personalizada”, e ela faz surgir uma dupla condição necessária para o futuro: super-animar a Pessoa (anima e alma tem a mesma origem etimológica), mas sem a destruir, e uma convergência universal “deve ainda possuir (eminentemente) a qualidade de uma Pessoa”, invertemos de propósito, pelos eventos atuais.

Chardin imaginava que a pessoa cresceria junto com esta “super-anima” (aqui no sentido de alma) mas vemos que a Pessoa ficou em segundo plano, ou como preferem existencialistas mais atuais, o Ser e o Ser-com-o-Outro, que deveria ter evoluído junto com a super-anima, mas não ocorreu.

Nos escritos de Pequim datados de 1937, ele especula sobre esta energia humana motora de tantos avanços e esta força de “ser-mais” sob uma forma mais primitiva e mais selvagem: a Guerra.

Acreditava que virá o tempo em que “aqueles que triunfam dos mistérios da Matéria e da Vida” ao contrário de ser usada para a guerra, dos exércitos e frotas, “dobrar esta outra potência que a máquina tornará livre, e uma maré irresistível de energias disponíveis levará aos círculos mais progressivos da Noosfera”.

Como uma primeira conclusão, os textos ainda irão a frente, afirma: “O amor, assim como o pensamento, está sempre em pleno crescimento na Noosfera. Torna-se cada dia mais flagrante o excesso de suas energias em relação às necessidades cada mais restritas da propagação humana.”

 

CHARDIN, T. Construire la Terre. Paris: Editions du Soleil, 1958.

 

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